São inúmeros os acontecimentos que marcaram a Indústria Têxtil e Vestuário (ITV) ao longo dos últimos 10 anos, que compõem a década iniciada no dia 1 de Janeiro de 2000 e que terminou a 31 de Dezembro de 2009. Nesta primeira parte, são abordados quatro desenvolvimentos: quotas da China, batalha do sportswear, migração da produção e fast fashion. 1º. Quotas da China O momento decisivo para o aprovisionamento de vestuário ocorreu no dia 31 de Dezembro de 2004, data em que foram suspensas as quotas entre os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esta medida teve como objectivo nivelar as regras para os países fornecedores, mas uma rápida queda nos preços significou que a UE e os EUA aumentaram dramaticamente as suas importações de vestuário provenientes da China. Confrontados com uma onda de importações chinesas, os EUA e a UE não perderam tempo em utilizar o sistema de salvaguardas, especialmente pensado para os têxteis e o vestuário na adesão da China à OMC. Enquanto as restrições por parte dos EUA foram aprovadas sem entraves, um atraso na aplicação das quotas faseadas pela UE, para limitar o crescimento anual das importações chinesas, resultou em 87 milhões de peças de vestuário presas em postos alfandegários em todo o mundo. A situação só foi resolvida depois da introdução de novas regras aduaneiras para libertar a entrega dos produtos bloqueados. 2º. Batalha do sportswear A última década assistiu a uma grande consolidação no mercado de artigos de desporto. As mudanças começaram em 2003, quando a Nike adquiriu a Converse por 305 milhões de dólares. A aquisição da marca de calçado assinalou a transição da Nike para uma vertente mais moda. Dois anos depois, a Adidas comprou a Reebok por 3,1 mil milhões de euros. A empresa alemã acreditava que iria ultrapassar a Nike ao “engolir” um importante actor sectorial. No entanto, uma mistura de problemas iniciais e actuais resultou que a Reebok ainda não cumpriu efectivamente o seu potencial de marca. Enquanto isso, a Nike também tinha um truque semelhante na manga e, em 2008, acordou a aquisição por 285 milhões de libras esterlinas (565 milhões de dólares) da Umbro. 3º. Migração da produção Em 2003, o sector foi abalado pela notícia de que a Levi Strauss, Lands’ End e Warnaco Group iam encerrar as suas unidades de produção que restavam nos EUA. De igual forma, a VF Jeanswear perdeu cerca de 2.000 postos de trabalho na produção norte-americana na sequência da deslocação para o estrangeiro. A década passada assistiu a um forte estrangulamento da produção têxtil por parte de diversos produtores na Ásia, América Central e Sul da Europa. 4º. Fast fashion Tirando partido da mão-de-obra barata e das rápidas cadeias de aprovisionamento, esta década também assistiu ao nascimento do fenómeno fast fashion. Retalhistas como H&M, Zara, Mango e Primark foram os mais rápidos a reagir. As expectativas dos clientes em relação a quantos estilos são entregues em cada estação foram completamente transformadas. Os sinais já existiam em 2006, quando nomes como Primark, New Look e Asda começaram a ultrapassar lojas multi-marca como a Matalan. Enquanto isso, a Inditex confirmou os planos para a abertura de 250 a 300 novas lojas em 2003, tendo reforçado as vendas em 31% no ano anterior. No entanto, a rápida expansão e os preços baixos também colocaram em destaque as condições nas fábricas fornecedoras. Em Junho de 2008 um documentário da BBC Panorama intitulado “Primark: On the Rack” atraiu 4,2 milhões de espectadores e levou a cadeia de moda a excluir três fábricas no Sul da Índia, referindo que tinham quebrado o seu código de conduta ética. Na segunda parte deste artigo, vamos abordar mais três desenvolvimentos que marcaram a década: os altos e baixos da Gap, a expansão do retalho na China e o advento da sustentabilidade.