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2021 pior do que o previsto

O ano de 2021 ainda vai ser difícil e pior do que o antecipado inicialmente pela McKinsey & Company, que revelou, contudo, algumas ações que as empresas da indústria da moda podem desenvolver para mitigar o impacto que ainda se sente da pandemia.

Antonio Gonzalo

Desde 2016, a indústria da moda estava numa tendência de recuperação, explicou Antonio Gonzalo, partner da McKinsey & Company, durante a conferência digital “A indústria da moda em 2021/2022: o que esperar!”. Contudo, salientou, «apenas 33% dos players estavam com o que chamamos de lucro económico», um conceito que a consultora define como tendo benefícios suficientes para pagar aos investidores, ou seja, «ser capaz de pagar o custo do capital», esclareceu Antonio Gonzalo. Mas 20% estão a fazer 100% de lucro económico. «O que estamos a ver é uma elevada concentração do sector», apontou, «daí estarmos a falar de “super-winners”». Em suma, «o sector estava a crescer, mas muito concentrado em termos de lucratividade».

O impacto do Covid-19 na indústria da moda traduziu-se numa diminuição entre 15% e 30% nas vendas – 18% na Europa, 22% nos EUA, 9% na China – em 2020 face a 2019. No luxo, essa queda foi mais acentuada (-35% na UE e -28% nos EUA), com exceção da China, onde subiu 82%. «Como os chineses não podem viajar, estão a consumir dentro da China», justificou o partner da McKinsey & Company. Na Europa, por isso, «a recuperação vai estar muito ligada à retoma das viagens», adiantou.

Os consecutivos confinamentos criaram um ano de 2020 «muito difícil» para a moda, que chegou a recuperar algum dinamismo durante o verão, mas que sentiu novamente uma quebra a partir de outubro, e a situação poderia ser pior se não fossem os apoios por parte dos diferentes Estados, com a McKinsey & Company a acreditar que sem subsídios, 75% de todas as empresas do sector de vestuário, moda e luxo na Europa poderiam não sobreviver (em 2019, as empresas em dificuldades seriam 38%). «Sem estes apoios, o sector estaria numa situação verdadeiramente dramática», assegurou Antonio Gonzalo.

A notícia positiva registou-se apenas nas vendas online, que quase duplicaram a sua quota, passando a representar 29% das vendas totais do sector na Europa, em comparação com 16% em 2019. No entanto, «não foi suficiente para compensar as perdas das lojas físicas». O comércio eletrónico de moda deverá registar uma desaceleração este ano, mas a consultora acredita que a aceleração observada em 2020 terá um impacto duradouro nos comportamentos de compra dos consumidores – 64% dos consumidores compram mais online do que antes do Covid-19 e 48% compram menos em lojas físicas.

10 tendências a considerar

Ainda assim, esta tendência da digitalização é agora obrigatória para a indústria. Apesar de reconhecer que «não compensa as perdas nas lojas», a verdade é que «há boas oportunidades no digital», garantiu o partner da McKinsey. «É algo [o digital] que as empresas têm de fazer», realçou.

Esta é, de resto, uma das 10 tendências que estão a acelerar e que foram enumeradas por Antonio Gonzalo. Em termos económicos, a incerteza que a vida com o vírus traz deverá continuar a fazer-se sentir e 45% dos executivos de moda e dos inquiridos afirmaram que a pandemia continua a ser o principal desafio em 2021, perturbando o comércio internacional, as viagens, a economia e o comportamento dos

consumidores.

É também esperada uma redução da procura por artigos de moda, provocada por uma limitação no poder de compra resultante do aumento do desemprego e da desigualdade, o que deve levar as empresas a procurarem oportunidades noutras categorias, canais e territórios.

A estas duas tendências somam-se questões como a procura de justiça para os trabalhadores da indústria, que está a ganhar relevância para os consumidores, cada vez mais atentos a quem e em que condições são produzidas as suas roupas.

A interrupção das viagens deverá continuar a afetar o sector da moda, sobretudo ao nível do chamado turismo de compras, e há uma mudança para uma mentalidade em que “menos é mais”, que deverá levar a um impulso das coleções sem estação.

Uma forte atividade de aquisições e fusões, provocada pela situação difícil de algumas empresas, que serão adquiridas pelos players mais fortes, será igualmente sentida, segundo a McKinsey, no que chama de investimento oportunista.

De salientar ainda o aprofundamento das relações entre os diversos atores da cadeia de aprovisionamento, para evitar interrupções futuras como aconteceu no ano passado.

Por último, a análise aos investimentos do retalho físico e a previsível evolução dos modelos de trabalho para uma forma híbrida, depois do teletrabalho se ter tornado a norma durante a pandemia, são as restantes tendências que estão a ganhar tração nesta indústria, revela a McKinsey.

Ano ainda de quedas

Para 2021, a consultora antecipa uma quebra de 15% a 20% nas vendas mundiais de moda, uma realidade que «será pior do que esperávamos em setembro de 2020», admitiu Antonio Gonzalo, até porque há questões como a disseminação de mutações mais agressivas do vírus, as taxas de vacinação, os subsídios governamentais, a confiança do consumidor e a mudança no estilo de vida das pessoas que irão ter influência no desenvolvimento futuro da indústria.

Embora a recuperação da indústria deva demorar mais do que o esperado e dependa de fatores dificilmente controláveis, do sentimento do consumidor à eficácia das vacinas, as empresas podem adotar algumas medidas para contrabalançar a conjuntura, a começar pela captação de novos clientes, procurar a excelência no digital, rever o seu mix de produtos e alterá-lo de acordo com as preferências do consumidor e otimizar a sua estrutura de custos. «Vai demorar até chegarmos aos níveis que tínhamos antes do Covid. Nesse sentido, é preciso ajustar a estrutura de custos para assegurar a capacidade financeira para o futuro», sublinhou o partner da McKinsey.

«O que vemos agora é que vai demorar mais tempo do que previmos inicialmente para a recuperação e estes são os quatro elementos em que acreditamos que, independentemente do cenário, é preciso trabalhar», resumiu Antonio Gonzalo.