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A Europa depois da vitória de Trump

No Velho Continente, já dececionado com a decisão da Grã-Bretanha em deixar o clube dos 28, a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA representa uma vaga de novas incertezas e desafios. Estará a Europa preparada para o que aí vem?

Quase tão difícil como prever a vitória de Donald Trump nas presidências norte-americanas, será calcular qual o seu impacto económico numa Europa que se recusou a acreditar na eleição do empresário.

Os EUA são o maior parceiro comercial e o garante de segurança do bloco europeu, mas não só o candidato republicano se manifestou, durante a campanha, contra o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento), como ameaçou deixar de financiar a NATO – organização multilateral para a qual os EUA são o maior contribuinte.

No dia seguinte às presidenciais norte-americanas, um diplomata europeu resumiu, em declarações à Reuters, parte do dilema: «já que nos recusámos a pensar neste cenário, temos uma lista de perguntas que precisam de ser respondidas, mas quase tudo é incerto».

Por isso, os líderes da União Europeia (UE) felicitaram a vitória de Trump na terça-feira, mas logo se apressaram a convidaram o novo inquilino da Casa Branca a participar numa cimeira UE-EUA, em carta assinada pelo presidente da Comissão Europeia e pelo presidente do Conselho Europeu. A luta contra o autoproclamado Estado Islâmico, o conflito na Ucrânia, as alterações climáticas, as migrações e o TTIP serão os temas-chave.

«A Europa não pode fechar os olhos, depois do Brexit, da eleição de Donald Trump», disse o ministro dos negócios estrangeiros francês Jean-Marc Ayrault sobre o terramoto político em Washington. «A Europa deve estar mais unida, mais ativa e mais na ofensiva. Até para se proteger», sublinhou.

Longe dos microfones e preservando o seu anonimato, os europeus interrogam a capacidade do Velho Continente em dar resposta a estas questões. «A Europa vai precisar de fazer mais para cuidar daquilo que lhe diz respeito – mas seremos capazes?», questionou um diplomata europeu. Outro diplomata afirmou à Reuters que a eleição de Trump «muda o modelo de negócios da UE, mas ainda não se sabe em que medida». Este último, rejeita que a retirada americana de alguns compromissos possa beneficiar a Europa, obrigando antes os europeus a investir mais na sua cooperação e a gastar mais na própria defesa.

Os resultados de terça-feira não foram os pretendidos pelo bloco europeu, excetuando o autoritário primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, e, por isso, os ministros dos negócios estrangeiros da UE convocaram uma reunião especial no domingo, em Bruxelas, num jantar informal, para discutir o que a escolha de Trump pode significar para a Europa.

Depois de uma campanha dos EUA marcada por acusações de racismo e sexismo, a chanceler alemã Angela Merkel, que prepara a sua campanha eleitoral para o próximo ano, declarou estar disposta a trabalhar com Trump com base em valores comuns. Já o presidente francês François Hollande mostrou-se mais reticente. «Abre um período de incerteza», afirmou Hollande, acrescentando que estão em causa a paz, a luta contra o terrorismo, a situação no Médio Oriente, as relações económicas e a preservação do planeta.

Giles Merritt, do think-tank Friends of Europe, asseverou que os líderes não têm tempo a perder para «evitar problemas». Estes «devem formar uma resposta europeia comum… antes que o presidente Trump ponha os pés na sala oval».