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A guerra dos sexos

Numa altura em que as tendências de mercado apontam para uma vitória do menswear e consequente derrota do womenswear nos próximos anos, estará a moda de autor “made in Portugal” sincronizada com as estatísticas? Luís Onofre, Miguel Vieira, Júlio Torcato, Nuno Baltazar e Hugo Costa respondem.

Num relatório publicado recentemente, no qual analisou a performance de 59 marcas internacionais, a consultora digital norte-americana L2 antecipa que as receitas de moda masculina se preparam para ultrapassar as da moda feminina, com um crescimento anual composto de 5% nos próximos dois anos.

De acordo com dados do Euromonitor, as vendas no segmento de menswear rondaram os 408 mil milhões de dólares (aproximadamente 374 mil milhões de euros) em 2015, esperando-se que alcancem os 457 mil milhões de dólares em 2020. Dentro deste mercado em subida, as vendas de vestuário de designer cresceram 6%, para os 6,4 mil milhões de dólares.

De acordo com o mesmo relatório, os homens tendem a comprar para manter o status, enquanto as mulheres compram por impulso.

Analisando o mercado nacional, os homens estão a comprar mais online do que a ala feminina. A informação recolhida pelo Relatório de Comportamentos de Pagamento do Consumidor Europeu em 2017 indica que 31% dos homens fazem compras online regularmente. As mulheres apresentam um valor mais baixo – apenas 22% das consumidoras adquirem artigos através da Internet. A média europeia é de 43% dos homens versus 40% das mulheres.

Oferecendo coleções mistas – ou sem género – nas passerelles nacionais internacionais, os designers portugueses têm uma palavra a dizer sobre esta guerra dos sexos, disputada no ringue da moda de autor.

Luís Onofre

A marca Luís Onofre celebra 18 anos em 2018 e a coleção apresentada há semanas no Portugal Fashion procurou refletir essa maioridade. Em passerelle, o designer voltou a sugerir modelos para mulher e homem.

Luís Onofre

«Tem havido maior procura de moda masculina, sem dúvida», afirma ao Portugal Têxtil. Percentualmente, na marca, «as vendas estarão divididas entre os 60% mulher e os 40% para homem», acrescenta.

Alinhando os EUA, a França, os países nórdicos e a Alemanha como principais destinos de exportação da marca epónima, Luís Onofre comprometeu-se com a linha masculina na 39.ª edição do certame de moda nacional (ver Moda da ocidental praia lusitana), mas já havia apresentado homem em 2003.

A motivação? «Reinventar os clássicos para os homens que optam por uma imagem contemporânea e sofisticada», declara.

Miguel Vieira

Este ano, Miguel Vieira foi escolhido como personalidade do ano pela revista Lux. O galardão destacou os 30 anos de carreira de Miguel Vieira, cujas celebrações tiveram início em Milão, em junho de 2017, com o desfile de apresentação da coleção “30th Miguel Vieira Private Collection”, com propostas para o verão de 2018.

Miguel Vieira

A par da linha Kids, a marca Miguel Vieira tem apresentado propostas de vestuário e calçado masculino e feminino, que se combinam com eyewear e peças de decoração, assumindo-se como uma marca de lifestyle de pleno direito.

«Sinto que os homens estão a comprar cada vez mais a minha marca. Acho que os homens apreciam muito a qualidade das matérias-primas e querem sentir-se bem – e ter boa figura – com aquilo que vestem», revela ao Portugal Têxtil.

Júlio Torcato

«Neste momento, na nossa loja/atelier, metade dos nossos clientes são mulheres, as peças por medida ajudam a equilibrar a balança», reconhece Júlio Torcato.

Júlio Torcato

No início da carreira, o designer incluía nas suas propostas peças dedicadas ao guarda-roupa feminino, mas, com o passar dos anos, o foco passou a incidir nos coordenados de homem. Em 2016, Júlio Torcato oficializou o regresso da mulher ao seu universo criativo (ver Mulheres integram clã Torcato).

«Antes, a mulher era mais consumidora de moda, cuidava mais da imagem do que o homem. Hoje, o homem está a aproximar-se, já cuida muito mais do seu estilo e da sua aparência e também se interessa por outros temas», frisa.

Nuno Baltazar

Assinalando este ano 10 anos de carreira, Nuno Baltazar está prestes a concluir a transferência da loja da marca epónima para a Rua do Bolhão, no Porto. Numa aposta no modelo de vendas omnicanal, o designer está, também, a ultimar o portal de comércio eletrónico próprio (ver Taxa turística na moda).

Nuno Baltazar

Nas palavras de Nuno Baltazar, os homens «são mais fiéis – aos barbeiros e às marcas que vestem» e, por isso, são compradores mais regulares das suas coleções. «Os homens, quando gostam de uma coisa, permanecem. Encontram o que gostam e não pensam mais. As mulheres, não. Dão várias voltas, mas não é uma coisa negativa», elucida.

Hugo Costa

O percurso de Hugo Costa dentro do calendário do Portugal Fashion já conheceu vários estádios. O designer começou no espaço Bloom dedicado ao talento emergente, transitou para a passerelle principal em desfiles coletivos, desfilando depois a solo. Entretanto, com o apoio do Portugal Fashion, saltou para a semana de moda masculina de Paris, onde já cumpriu quatro estações.

Hugo Costa

«Temos o showroom lá a fazer um ótimo trabalho e a preparar já as próximas épocas», conta, adiantando que através desse showroom já está a vender para a Ásia.

Atualmente, a marca epónima de Hugo Costa inclui vestuário, calçado e acessórios para um look total. Homens e mulheres compram peças que podem vestir homens e/ou mulheres, numa estética agender. Ainda assim, o designer reconhece o crescente peso do cliente homem.

«Há uma valorização do produto, daquilo que se usa. Estão os ingredientes todos reunidos para que os homens comprem cada vez mais e valorizarem mais o que compram», explica Hugo Costa ao Portugal Têxtil.