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A provocação de Futures.ModaPortugal

Ainda que apenas se tenha tratado do “primeiro ato” da iniciativa do CENIT, a sessão de apresentação de Futures.ModaPortugal, inserida no calendário da ModaLisboa, provocou todos os presentes, incentivando-os a pensar fora da caixa da indústria da moda a um sábado de manhã.

César Araújo, Eduarda Abbondanza e Manuel Lopes Teixeira

Antes de nomes como Luís Carvalho, Ricardo Preto e Nuno Gama tomarem a passerelle e de irromper a habitual azáfama dos desfiles, o CENIT – Centro de Inteligência Têxtil, em parceria com a Anivec – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção, convocou jornalistas, empresários e representantes de outras camadas da indústria da moda para a apresentação de Futures.ModaPortugal, iniciativa que pretende «identificar as áreas de inovação estratégica com maior potencial de desenvolvimento, ao antecipar as principais transformações que a indústria da moda irá sofrer nos próximos anos», nas palavras do CEO Manuel Lopes Teixeira.

«Acreditamos que este é um debate que vale a pena abrir a mais pessoas, fora deste circuito muito profissional que temos em torno da indústria e, portanto, decidimos, com uma empresa nossa parceira, a Market Access, discutir como podemos pensar fora da caixa, pensar em coisas que normalmente estes circuitos mais profissionais não permitem», explicou Manuel Lopes Teixeira ao Portugal Têxtil.

A Market Access colocou, então, o CENIT em contacto com a consultora Chain Reaction, cujo cofundador, André Fonseca Ferreira, ficou incumbido da “provação” da sessão deste sábado, em Lisboa.

Provocar, pensar e criar

Com o slogan “Provoke Think Create”, a Futures.ModaPortugal assumiu a tarefa de receitar novas lentes a uma indústria tradicional e, simultaneamente, passar-lhe exercícios de futuro.

André Fonseca Ferreira

«É uma experiência de despertar. Quando os empresários da indústria se aperceberem de que outras indústrias também tiveram medo e, mesmo assim, deram esse salto, perdem o medo», garantiu André Fonseca Ferreira.

Durante a sessão, o cofundador da Chain Reaction convidou a uma reflexão sobre as forças que atualmente ditam a evolução dos modelos de negócio, como a tecnologia ou os novos comportamentos e papéis dos consumidores, sem deixar de fora as disrupções criadas por atores como a Uber, Amazon, as tecnologias de impressão a três dimensões (3D), a realidade virtual e aumentada ou a inteligência artificial.

Reconhecendo que, na indústria da moda, a tecnologia está ainda muito circunscrita à produção, André Fonseca Ferreira afirmou que «há duas formas [de captar a atenção dos representantes e colaboradores da indústria]». «A primeira é montarmos uma campanha muito provocadora no sentido de despoletar um sentido de urgência. Dar exemplos concretos de outras indústrias que podem completamente retirá-los do mercado. Assustá-los», revelou. «A segunda», continuou, «tem a ver com a experiência».

Depois do lançamento oficial no calendário da ModaLisboa, a Futures.ModaPortugal vai começar uma campanha online, no website e redes sociais, para apelar à participação dos interessados nas novas sessões – dos empresários aos opinion leaders –, que acontecem no próximo mês de abril, no Norte.

«A partir do momento em que as pessoas estão nas sessões, onde vamos juntar os artistas –  os designers, os criadores, mas também os mais criativos –, com os tradicionais e conservadores, vai-se criar automaticamente um conjunto de ideias», frisou o cofundador da Chain Reaction. «Queremos conseguir uma segunda ou terceira camada de talentos desta indústria tradicional, que estão presas a uma liderança mais conservadora, mas têm ideias. Vamos ouvi-las e, depois, criar futuros e, para os futuros, criar caminhos», acrescentou.

Presente na sessão não só no papel de presidente da Anivec, mas também como industrial, César Araújo fez um balanço positivo da manhã. «Enquanto industrial, tenho de ter a mente aberta. O fundamental não é só a inovação, é a mente aberta para introduzir a inovação nas organizações, quer sejam grandes, quer sejam pequenas», asseverou. «Fala-se muito da abertura da mente do empresário, mas é igualmente importante a abertura de todos os colaboradores», destacou.

Já Ana Sousa, sócia-gerente da António Manuel de Sousa/Vandoma, procurou transportar os ensinamentos da sessão para a sua realidade. «Levou-me a pensar…porque trabalhamos num nicho, que é o sector das gravatas. Fez-me questionar de que forma podemos adaptar o que ouvimos, a realidade para a qual caminhamos, a um produto destes», admitiu. «Levou-me a pensar como é que a tecnologia, por exemplo, poderá impactar o meu negócio. Provocou-me», assegurou.

Eduarda Abbondanza, presidente da ModaLisboa, reconheceu que a sessão de apresentação de Futures.ModaPortugal, esteve perfeitamente alinhada com os pilares da ModaLisboa. «É o que a ModaLisboa está sempre a fazer, a provocar e a olhar para o futuro», disse, recordando que a ModaLisboa foi «a segunda organização no mundo a transmitir desfiles em streaming, em 1996», na altura na extinta Telepac e com a ajuda da Universidade Nova de Lisboa.