Com mais de 1,5 mil milhões de utilizadores ativos mensais, o Facebook é uma das marcas mais conhecidas do mundo. E, quando o Facebook UK lançou mais de 70 opções de género nos perfis dos seus utilizadores no verão passado (os EUA têm 59 opções), os anunciantes aperceberam-se de que uma mudança estaria para breve.
Os utilizadores podem escolher entre opções como homem intersexual, mulher intersexual, assexuado, não-binário, etc., marcando uma mudança cultural afastada de rótulos de género. «Todas as noções binárias de género – feminino e masculino – estão a ser vistas como limitadoras e desnecessárias», escreve o jornalista da Fortune Vivian Giang.
No geral, a sociedade experimenta uma abertura em relação às pessoas com identidades não tradicionais e, a título de exemplo, a maioria das instituições tradicionais, incluindo a Casa Branca, tem vindo a implementar uma casa de banho de género neutro.
A aceitação de uma geração
A geração Z está na crista da onda no que à aceitação da fluidez de género diz respeito. De acordo com uma pesquisa recente, «o género é menos definidor da identidade hoje do que foi em gerações anteriores».
Em vez de aderir a papéis de género tradicionais, as novas gerações estão a interpretar aquilo que o sexo significa para si de forma muito particular. O relatório também afirma que 60% dos jovens pensam que as linhas de género se confundiram e mais de 66% acreditam que o sexo não define um indivíduo da forma que até aqui definia.
O contributo da moda
Em fevereiro de 2015, o diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele, fazia a sua estreia na casa de moda italiana. A passerelle seria marcada pela androginia, pisada por homens em blusa enlaçada e modelos femininos e masculinos a desfilarem lado a lado. E, ainda que Michele não tenha sido o primeiro designer de moda de luxo a criar coleções unissexo, aquele desfile acabaria por marcar o arranque oficial da tendência em 2015 (ver Não generalizar).
A nova safra de modelos da geração milénio (e da sua sucessora Z) está a desafiar as normas de beleza, de corpo e de género. Modelos como Elliott Sailors, Erika Linder e Ari Fitz participam simultaneamente em campanhas de moda femininas e masculinas.
Na frente fast-fashion salienta-se o contributo do grupo H&M, que usou recentemente modelos transexuais numa campanha de outono-inverno 2015/2016 para a marca &Other Stories. «Há muitas conversas sobre transexuais hoje mas, para nós, fazer isto [a campanha] foi um passo transversal», afirmou Sara Hildén Bengtsson, diretora criativa da marca, ao portal de tendências WGSN.
A abordagem do retalho
Este ano, o NPD Group publicou o relatório “Blurred Lines: How Retail Is Becoming Less Gendered, & Why You Should Care”, que concluía que os retalhistas poderiam «beneficiar caso se afastassem dos layouts antiquados das suas lojas, outrora concebidos para satisfazerem as noções cada vez mais ultrapassadas dos papéis de género».
Em março, a Selfridges lançou o “agender”, um novo conceito de compras onde os géneros se diluíam. Os grandes armazéns britânicos desenvolveram, a este propósito, um conceito especial, que abarcou – além do comércio eletrónico – três andares da loja de Oxford Street, em Londres, e espaços nos estabelecimentos de Manchester e Birmingham. Este conceito materializou-se, por exemplo, na remoção dos manequins femininos e masculinos de todas as montras.
A Selfridges será, talvez, o exemplo mais destacado no sector do retalho mas, por todo o mundo, várias boutiques independentes utilizaram este conceito. Nas lojas James Perse há pouca distinção entre homens e mulheres em termos de produto, sobretudo pela simplicidade das t-shirts de algodão e camisolas de caxemira que ali são vendidas. A Oak segue igual caminho.
O começo do normcore e do athleisure
Com o surgimento e a ascensão das tendências normcore e athleisure (ver Ao ritmo do athleisure), não consttui surpresa que a moda unissexo se tenha vindo a tornar cada vez mais apelativa e que a aceitabilidade da fluidez de género esteja a fomentar um retorno ao básico. A estação outono-inverno 2015/2016 foi preenchida com calças de fato de treino, vestidos-camisola e sapatilhas, mostrados nas propostas da Public School, Hood by Air e Telfar. «O sportswear fez do unissexo relevante», advoga Rox Brown, stylist na V Files.
Design pela diversidade
A presença do genderful na moda não se esgota nas roupas e calçado desportivos.
Duas das marcas finalistas do CFDA/Vogue Fashion Fund este ano são marcada e declaradamente unissexo.
Os designers da insígnia Baja East, Scott Studenberg e John Targon, apelidaram a coleção de “género-obsoleto” e a Gypsy Sport, marca unissexo do designer Rio Uribe, segue uma estética de streetwear.
Já o designer Rad Hourani lançou a sua coleção unissexo em 2007 e tem atraído um clube de fãs generoso. «A moda não deve discriminar», resumiu o designer sobre a sua investida.
A roupa interior unissexo também tem vindo a emergir. A Acne, por exemplo, lançou uma gama de boxers e calções unissexo, concebidos para os jovens casais que partilham roupas.
Brincadeira de crianças
Embora o marketing de brinquedos para crianças seja tradicionalmente dividido entre azuis e rosas, são muitos os retalhistas que se têm preocupado com a demanda dos atuais clientes por produtos sem demarcação de género. Recentemente, a Target e a Disney removeram o rótulo de género das suas fantasias de Halloween, mas uma rápida pesquisa no Google revela que essas peças – como uma farda de enfermeira ou uma roupa de construtor – surgiram, depois, na Internet com ligação aos géneros.
Elizabeth Sweet, socióloga da Universidade da Califórnia, cita a propósito um catálogo de 1975 da Sears em que apenas 2% dos brinquedos foram marcados como sendo para menino ou menina. Já no website da Disney Store, em 2012, todos os brinquedos foram marcados.
A Barbie é, sem dúvida, o brinquedo mais relacionado com os estereótipos de género, aponta o WGSN. O anúncio da edição limitada da Moschino Barbie foi, pela primeira vez, estrelado por um menino, graças ao diretor criativo da Moschino, Jeremy Scott. «Como qualquer menina e menino gay, eu amo a Barbie», disse Scott ao Style.com.