Os brilhos exagerados estão fora de moda e as requintadas artes artesanais estão “in” – essa é a mais recente mensagem da indústria de artigos de luxo, numa altura em que procura sobreviver ao abrandamento económico mundial. As casas e retalhistas de artigos de luxo acreditam que encontraram um novo impulso para o sector com uma estratégia que lhes poderá permitir manter os negócios “vivos” face à quebra das vendas. Para muitos retalhistas de topo de gama, o vermelho é o novo preto nas suas folhas de balanço. As vendas mundiais de artigos de luxo deverão cair entre 10% e 15% este ano, dos cerca de 234 mil milhões de dólares (179,2 mil milhões de euros) registados anteriormente, segundo os números da empresa americana de consultoria Bain. Claudia D’Arpizi, analista da empresa, revelou que 2009 será, provavelmente, o pior dos últimos anos para o consumo de artigos de luxo». No trimestre terminado em Janeiro, a retalhista Saks, por exemplo, registou um prejuízo de 98,8 milhões de dólares (ver Imagem de luxo), enquanto que as department stores Neiman Marcus registaram um prejuízo de 509,2 milhões de dólares. A tendência na Europa é praticamente a mesma, de acordo com Anna Zegna, da marca de vestuário masculino italiana Ermenegildo Zegna. Estamos a enfrentar um tempo de crise», afirmou. Numa recente conferência em Nova Deli, o principal “grito de guerra” era qualidade, com os participantes a acreditarem que valorizar as artes tradicionais mais do que a moda pode ser a chave para a viabilidade a longo prazo. As pessoas querem o regresso a valores genuínos como a intemporalidade», referiu François-Henri Pinault, presidente do gigante do luxo francês PPR, na conferência anual. Os produtores de artigos caros, topo de gama, devem enfatizar o artesanato e a durabilidade se querem atrair os consumidores assustados pela realidade económica e afastados do consumo frívolo, ouviu-se na conferência. O cataclismo financeiro que teve lugar nos últimos seis meses levou-nos a todos a pensar nos valores verdadeiros e duradouros», referiu Suzy Menkes, editora de moda do jornal International Herald Tribune. O brilho está fora, afirmou Menkes, referindo-se às modas espampanantes, temporárias, acrescentando que os consumidores do luxo procuram artigos de design e acessórios que podem ser passados para a próxima geração». Isso significa desenhar e produzir artigos de luxo – vestuário, calçado, acessórios, joalharia, carteiras, malas, relógios – que duram mais do que uma curta estação. Para o sector mundial de luxo, referiu Menkes, a louca viagem do consumismo» que levou aos lucros dos últimos anos acabou». A agência de consultoria Moody’s também avisou que o efeito conjunto da recessão, da agitação dos mercados e da diminuição da riqueza pessoal pode resultar numa mudança fundamental nos hábitos de compras dos consumidores» a longo prazo. Mas perseguir os consumidores com grandes descontos não é a resposta, já que poderia diluir e minar o valor e a integridade da marca, como foi sublinhado na conferência. Não é altura para pânico», afirmou Scott Malkin, presidente da cadeia US Value Retail que vende marcas de designer em todo o mundo. As marcas que irão sobreviver vão privilegiar os artesãos e a inovação», concluiu.