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Alta alfaiataria italiana

A Brioni, cujas criações são vestidas por personalidades como Donald Trump, o príncipe André de Inglaterra e Nelson Mandela, tem enfrentado a recessão internacional fazendo o que faz melhor: produzir fatos de homem, sob medida e costurados à mão. Gaetano Savini, co-fundador da empresa com Nazareno Fonticoli em 1945, incutiu a «tenacidade e a visão de que é necessário ousadia para ir além das regras do jogo», afirma o seu neto Andrea Perrone. Perrone, que se tornou presidente-executivo da Brioni no ano passado, revelou que Savini foi o primeiro a encenar um desfile de moda para vestuário masculino, em Florença no ano de 1952, e que a empresa foi uma das primeiras a criar fragrâncias para homem. «O que eu talvez tenha acrescentado foi a ideia de crescer com os mercados emergentes como a China e ir além do estilo formal, o fato e a gravata», refere Perrone. «Com a crise e os clientes que nos pediram descontos ou pagamentos em prestações, lançamos novas categorias de produtos com novos tecidos», acrescenta o responsável, lembrando uma reviravolta que teve lugar a partir de finais de 2008, «altura em que o mercado estava a exigir vestuário mais caro, mais luxuoso». À primeira vista, o principal atelier do grupo em Penne di Pescara, na costa adriática de Itália, parece uma fábrica, mas sem máquinas. Cerca de 1.100 técnicos e costureiras desenvolvem a sua actividade, projectando padrões, cortando tecidos, costurando uma manga aqui, terminando uma casa de botão ali ou uma bainha acolá… em seguida, prensando cuidadosamente e verificando o seu trabalho. «Demoramos 18 a 22 horas para fazer um fato, às vezes até 48 horas», revela o mestre alfaiate Angelo Petrucci, de 39 anos. Em comparação, os fatos produzidos em massa demoram entre duas a três horas para serem concluídos. Segundo Petrucci, o trabalho é mais complicado do que há uma década atrás, porque os clientes estão sempre à procura de tecidos mais macios e finos. Apontando para um revestimento composto por pêlos de camelo, cabra e crina de cavalo, o responsável defende que cada criação tem uma «alma». A Brioni compra centenas de tipos de tecidos, em Itália, Grã-Bretanha e Bélgica. Segurando um blazer enorme, criado para um cliente japonês, ex-lutador de sumo, Petrucci afirma que «nós podemos fazer as pessoas obesas parecerem mais magras, as pessoas baixas parecerem mais altas. Podemos até mesmo corrigir defeitos ósseos através da inserção de todo o tipo de próteses» Ao longo dos anos, a Brioni construiu uma base de dados para acompanhar os seus clientes em todo o mundo, muitos do Médio Oriente e da Ásia. Para ser um bom alfaiate, «tem que se ter as mãos sensíveis, por isso a pessoa tem que começar muito, muito jovem», confia Petrucci. «Depois dos 20 anos de idade, já não se aprende isso». O próprio Petrucci iniciou a sua actividade aos 13 anos, quando começou uma aprendizagem de quatro anos na Brioni. A habilidade e o talento, partilhados por técnicos e costureiras, tem sido o segredo do sucesso da Brioni, permitindo-lhe sobreviver a uma onda de aposentadorias no início de 1990, no momento em que as vendas estavam a subir rapidamente. A recessão internacional não levou a uma redução de preços na Brioni, apesar do seu volume de negócios anual de cerca de 200 milhões de euros ter diminuído 15% em 2009, sendo esta redução de 20% no mercado norte-americano. Um fato feito sob medida pode custar até 6.000 euros, enquanto que um conjunto totalmente personalizado pode chegar aos 30.000 euros. Nos últimos anos, o grupo diversificou a sua gama, oferecendo linhas de senhora e vestuário casual, como jeans e pólos, que representam actualmente quase 40% das suas vendas. A Brioni tem 65 lojas em todo o mundo e novas aberturas estão previstas para os próximos anos. A prioridade é a China, «onde acaba de abrir uma nova loja em Xangai antes da Expo, tendo aberto uma primeira loja em Pequim há um ano», revela Perrone. Uma coisa que a Brioni não se preocupa, seja qual for o estado da economia mundial, é a publicidade. «A nossa melhor publicidade é boca a boca. Ao contrário de outras marcas que tentam fazer da tradição artesanal um novo argumento de venda, nós não precisamos, porque isso está no nosso ADN», conclui o presidente-executivo da Brioni.