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Aposta na exclusividade

A Bond Street de Londres é o exemplo mais extremo do novo panorama comercial na Europa, de acordo com a empresa de consultoria imobiliária Cushman & Wakefield. O rendimento, ou a renda anual em percentagem do valor de uma propriedade, atingiu 2,75% no final do primeiro trimestre deste ano. É a primeira vez que este indicador cai abaixo dos 3% desde que os registros da empresa começaram em 1991, numa rua que inclui Prada, Louis Vuitton e Cartier. «Os ricos escolheram comprar partes de Bond Street, como o resto de nós compra uma gravata», afirma Stephen Hubbard, presidente no Reino Unido da consultoria imobiliária CBRE. «O potencial de crescimento das rendas é muito bom, por isso não são compras sem nexo», acrescenta. Os investidores costumam procurar retornos mais elevados do que os títulos de propriedade, devido ao fato do imobiliário ser mais demorado para comprar e vender e ainda existir o risco de ficar de vago. Os rendimentos para os principais blocos de escritórios nas principais cidades europeias estão em cerca de 5%. Com a redução das taxas de juros a manter o rendimento dos títulos do governo em baixo, muitos gestores de ativos regressaram à propriedade, que tinha-se tornado uma espécie de pária na classe dos ativos, após o colapso do sector imobiliário sub-prime, que desencadeou a crise financeira global. A compra de lojas nas melhores ruas atraiu um interesse muito forte, porque a dimensão do negócio está ao alcance de indivíduos ricos, enquanto um bloco de escritórios no valor de centenas de milhões de euros não está, explica David Hutchings, responsável de investigação europeia na Cushman & Wakefield. Apesar de muitos compradores ricos permanecerem anónimos, existe atualmente um forte interesse na Bond Street por parte de Hong Kong, revela Jonathan O’Regan, diretor da empresa londrina de consultoria imobiliária Savills. A proporção de lojas na Bond Street pertencentes a fundos britânicos e irlandeses caiu dos 96% em 2006 para os 39% em 2011, de acordo com a Savills. As diferentes nacionalidades em 2012 incluíam a China, Qatar, Líbia e Dinamarca. Enquanto isso, as receitas para a propriedade de retalho fora das melhores localizações pode exceder os 10%, um prémio que reflete o risco muito maior de ficar vago. A maior cadeia de supermercados britânica, a Tesco, descartou recentemente os planos de desenvolvimento para mais de 100 das suas localizações, na medida em que os compradores estavam a gastar menos ou a fazer as suas compras on-line. Para além dos investidores, muitos retalhistas estão a comprar propriedades nos locais mais procurados para garantir que não são forçados a sair ou para evitar as rendas em espiral. As empresas que optaram por esta via em Bond Street, onde as rendas são cerca de 25% superiores à vizinha Oxford Street, segunda rua mais cara do país, incluem marcas de luxo como LVMH, Hermès e a família Maramotti, que está na base da Max Mara. A Inditex fez o mesmo para a sua loja Zara na Oxford Street. Os retalhistas estão a investir em menos mas melhores localizações, devido ao fraco gasto do consumidor em áreas periféricas e a uma tendência crescente para comprar on-line. «Esses locais tornam-se uma combinação de ponto de venda e publicidade», explica Dennis Lopez, diretor de investimentos da Axa Real Estate, a maior proprietária da Europa, com 43 mil milhões de euros em imóveis.