Os líderes chineses têm procurado acalmar os receios dos mercados globais face à capacidade de Pequim de gerir a segunda maior economia mundial, depois de uma acentuada desvalorização do yuan e queda dos mercados de ações terem despertado temores de uma eventual depreciação mais acentuada. Porém, o governo admite que a economia chinesa inicia agora uma nova fase de crescimento mais lento, depois de várias décadas de expansão desenfreada.
O crescimento do produto interno bruto (PIB) abrandou para 6,8%, face ao mesmo período do ano anterior, contrastando com o resultado de 7% assinalado no segundo trimestre, como divulgado pelo inquérito conduzido pela Reuters a 50 economistas. Este será o ritmo de expansão mais lento desde o primeiro trimestre de 2009, quando a taxa de crescimento se fixou em 6,2%, não sendo, todavia, um resultado alarmante. A previsão mais elevada foi de 7,2%, enquanto a mais reduzida se fixou em 6,4%, mas alguns investidores receiam que os atuais valores de crescimento sejam já muito inferiores aos sugeridos pelos dados oficiais.
«Esperamos que o governo mantenha uma política monetária pouco apertada e que intensifique a despesa fiscal em resposta à desaceleração económica», defendem os economistas do banco de investimento doméstico China International Capital Corp. (CICC). «Acreditamos que medidas de abrandamento poderão amparar a desaceleração do crescimento económico mas será difícil reverter a prolongada tendência descendente», afirmam.
Ao invés de acalmar os mercados financeiros, uma leitura surpreendentemente resiliente no decorrer da semana anterior veio reforçar o ceticismo face à fiabilidade dos dados oficiais chineses. No entanto, alguns economistas acreditam que as estatísticas do governo estão a subestimar o consumo e o forte crescimento do sector dos serviços.
Apesar dos resultados dececionantes relativos às exportações e importações, excesso de capacidade industrial e queda do valor das propriedades, o crescimento económico anual foi de 7% nos dois primeiros trimestres, em linha com a previsão anual apresentada por Pequim. O governo chinês rejeita as insinuações de inflação dos resultados, tendo em vista o cumprimento das previsões oficiais.
Sheng Laiyun, porta-voz do órgão nacional de estatística chinês, adiantou que o crescimento económico do terceiro trimestre será estável, uma vez que o impacto da desvalorização do mercado de ações sobre a economia se revelou limitado. Este organismo alterou o método de cálculo do produto interno bruto trimestral, uma iniciativa que o aproxima dos parâmetros internacionais e aumenta a exatidão dos resultados oficiais chineses.
Políticas de incentivo
Os decisores políticos do país acreditam que poderão conter a rápida degradação das reservas de divisas do país e aliviar a pressão exercida sobre a moeda através da estimulação da economia, tendo em vista o cumprimento da meta de crescimento anual.
O CICC antecipa que o Banco Central irá efetuar um corte acrescido de 25 pontos-base nas taxas de juros e dois cortes nos rácios das reservas bancárias, somando 100 pontos base no final do ano.
A inflação chinesa abrandou mais do que o esperado em setembro, enquanto os preços no produtor continuaram a sua trajetória descendente, pelo 43º mês consecutivo, destacando a urgência de responder às pressões deflacionárias.
O Banco Central já cortou as taxas de juro cinco vezes desde novembro e reduziu a quantidade de dinheiro que os bancos devem manter em reserva, de forma a estimular a atividade, embora alguns analistas afirmem que tais iniciativas não se têm revelado tão eficazes como no passado, quando a economia era mais firmemente controlada e os níveis da dívida eram substancialmente menores.
Entre as medidas de apoio adicionais tomadas pelo governo chinês destacam-se o aumento dos gastos governamentais em infraestruturas e facilitação das condições de pagamento e outras limitações inerentes ao sector imobiliário, que se revelaram bem sucedidas na revitalização das vendas e preços de casas, ainda que se tenham mostrado incapazes de reverter o declínio acentuado de novas construções, que, por sua vez, está a afetar a procura por materiais como cimento e aço.
Atualizações mensais
A par dos dados alusivos ao PIB, serão divulgados diversos indicadores mensais, que permitirão desvendar se a economia chinesa continua a rota descendente ou se, por outro lado, está lentamente a estabilizar.
A produção industrial cresceu 6% em setembro, em comparação com igual período do ano anterior, abrandando face ao crescimento de 6,1% assinalado em agosto, num momento em que as empresas se debatem com pressões deflacionárias persistentes, resultantes do excesso de capacidade e abrandamento da procura.
O crescimento anual do investimento em ativos fixos, um motor essencial da economia chinesa, terá diminuído, fixando-se em 10,8% nos primeiros nove meses de 2015 – a expansão mais débil em quase 15 anos – contra 10,9% em janeiro. O crescimento anual das vendas de retalho foi de 10,8% em setembro, mantendo-se inalterado face a agosto.
As exportações chinesas diminuíram menos do que o esperado em setembro, com dados mensais a sugerirem uma recuperação, mas uma queda mais acentuada das importações veio despoletar dúvidas junto dos economistas, que questionam a eventual retoma do frágil sector do comércio na China.