No coração do debate está o relatório “Beyond the Tip of the Iceberg: Bangladesh’s Forgotten Apparel Workers”, publicado em dezembro pelo Stern Center for Business and Human Rights da New York University. O documento revelava que haveria muito mais unidades fabris e trabalhadores a produzirem vestuário para exportação no Bangladesh do que os que haviam sido contabilizados anteriormente. Os investigadores também concluíram que tem havido uma «lastimável falta de progresso em realmente resolver a falta de segurança nas fábricas» e que ainda não existe um plano efetivo «para providenciar os recursos de forma a consegui-lo», referiram ao just-style.com.
Mas os professores da Pennsylvania State University e da University of Colorado, que estudaram os dados recolhidos no relatório “Beyond the Tip of the Iceberg: Bangladesh’s Forgotten Apparel Workers”, identificaram uma série de erros na recolha e na análise e que chegaram, de facto, a uma conclusão oposta. «Contrariamente às afirmações do Stern, mais de 70% dos trabalhadores do sector do vestuário do Bangladesh estão cobertos pelo Accord e pelo Alliance, e se incluirmos trabalhadores empregados em fábricas inspecionadas pela National Initiative, a percentagem de trabalhadores cobertos alcança os 89%», afirmaram. «Entre as descobertas do relatório do Stern Center estava a identificação de 7.000 fábricas de vestuário no Bangladesh, um aumento substancial em relação às anteriores estimativas que reportavam 4.500 unidades. O relatório também relatava a prevalência de sourcing indireto, concluindo que 91% das fábricas em dois subdistritos de Daca, incluindo subcontratadores informais, produziam pelo menos parcialmente para exportação e não estavam registadas», acrescentaram.
O relatório apoiava a hipótese com a observação de que, entre 2013 e 2015, ainda que o número de exportadores diretos se tivesse mantido constante, o total do volume de exportações de vestuário flutuou significativamente. Isto acontece porque cada exportador direto é capaz de aumentar ou diminuir a sua produção de forma dramática em resposta às alterações na procura ou porque os milhares de fornecedores indiretos possibilitam que os exportadores diretos se adaptem a mudanças significativa, apontou o documento.
Ainda que o relatório do centro Stern tivesse por base uma análise de dados recolhidos junto de fontes públicas e um questionário de campo, os investigadores das universidades de Pensilvânia e do Colorado adiantaram que a base de dados incluía fábricas fechadas (incluindo as cinco unidades destruídas no edifício do Rana Plaza), duplicadas e fábricas direcionadas para o mercado doméstico. «Estimamos que a base de dados do Stern de 7.165 fábricas exportadoras é inflacionada em, pelo menos, 2 mil fábricas», indicaram os professores das duas universidades no documento “The Bulk of the Iceberg: A Critique of the Stern Center’s Report on Worker Safety in Bangladesh”.
Outras críticas ao trabalho do Stern são de que a alegação de que existem 5,1 milhões de trabalhadores de vestuário no Bangladesh não é confiável porque tem como ponto de partida as bases de dados das fábricas; as fábricas informais e não registadas empregam menos de 2% dos trabalhadores que produzem peças de vestuário para exportação; e «várias centenas de fábricas» não foram categorizadas de forma adequada, resultando numa falsa estimativa do número de trabalhadores abrangidos pelas iniciativas Accord e Alliance.
A análise da Pennsylvania State University e da University of Colorado estima que existam 3,5 milhões de trabalhadores e que as iniciativas Accord e Aliance cubram 71,4% dos trabalhadores do sector de vestuário pronto-a-vestir. Se a estes forem adicionados aqueles integrados no âmbito da National Initiative, o programa de inspeção de fábricas do governo, estes calculam que sejam abrangidos 3,43 milhões de trabalhadores, o que representa 89,1% de todos os trabalhadores.
Apesar das divergências nas análises, os dois grupos de investigadores concordam que tem havido progressos na abordagem à segurança nas fábricas do Bangladesh, mas que ainda há muito trabalho a fazer.