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Australianos preocupados

A Austrália é uma das poucas grandes economias ocidentais que evitou a recessão de 2009, com a economia a ser dinamizada pelos pacotes de estímulo do governo e pelas exportações mineiras para a Ásia. Mas as preocupações com a economia mundial, em combinação com o aumento dos custos com a energia e os produtos alimentares, estão agora a afectar a confiança dos consumidores australianos. Os retalhistas na Austrália estão a enfrentar «dificuldades com a redução do consumo das famílias e elevadas taxas de câmbio», segundo um estudo do Banco da Austrália em Setembro. E as famílias australianas estão a ter «uma atitude mais cautelosa para gastar e fazer empréstimos», com os níveis médios de poupança a chegar a 10,5% do rendimento disponível em Junho. Ao mesmo tempo que as taxas de poupança aumentaram, também o ritmo a que os consumidores australianos têm pago as dívidas aumentou, concluiu a pesquisa, com os pagamentos dos cartões de crédito a recuperarem nos últimos meses. Muitas pessoas com crédito à habitação também «continuaram a fazer amortizações além dos pagamentos normais», apesar das taxas de juros terem aumentado os pagamentos totais. «A confiança dos consumidores está moderada a baixa», explica Sean Sands, investigador no Australian Centre for Retail Studies. «As investigações que fizemos, olhando para as intenções de consumo no retalho, mostram que as mesmas são negativas para todas as categorias, com excepção dos supermercados». Embora a Austrália pareça ter um escudo para muitos dos choques registados no resto do mundo, não passou completamente incólume. A directora-geral da Target Austrália, Launa Inman, acredita que o consumidor médio australiano tem «lutado» e que o verdadeiro estado da economia australiana tem sido mascarado pela indústria mineira. «É realmente uma economia a duas velocidades – os que não estão na indústria mineira estão com dificuldades», explicou. Inman acrescentou ainda que os preços da electricidade subiram e que «todas as outras taxas se agravaram», incluindo o imposto do carbono. Além disso, o forte dólar australiano também levou a outras mudanças na forma como os consumidores gastam. Segundo os resultados do Estudo de Consumo dos Agregados Familiares de 2003/2004, o consumidor médio gastava 35,26 dólares australianos (cerca de 27 euros) em vestuário por semana. Em 2010/2011 esse valor tinha aumentado apenas 1,9%, para 35,96 dólares australianos por semana. Embora a quantidade de dinheiro que as pessoas gastam em casa tenha sido o maior contribuidor, houve também um aumento do consumo noutros serviços recreativos, como televisão paga e Internet, assim como um aumento do valor gasto com as férias. Inman observou que apesar da redução da confiança, os consumidores continuam dispostos a pagar por experiências, mas são muito «levados pelo valor no vestuário». Com a crise económica a levar a uma redução dos turistas na Austrália, o CEO da Myer, Bernie Brookes, indicou que «pela primeira vez estamos a tornar-nos num exportador de turistas e não num importador de turistas», mais um elemento que terá impacto no retalho australiano. E com a entrada da Zara e da Gap no mercado este ano, e com a Topshop e a Uniqlo a deverem abrir as primeiras lojas, a concorrência está a aumentar no mercado. Mas os retalhistas locais estão optimistas com as novas entradas. «A concorrência é boa em qualquer mercado», considera Sands. «Estas marcas estão a criar algum entusiasmo no mercado, estão a levar os consumidores a comprarem – mas no caso da Zara é porque nós não temos alternativas de moda boas e relativamente baratas. Teremos de ver os impactos a longo prazo no comportamento, mas por agora o mercado está entusiasmado», acrescentou. Tanto a Myer como a Sportsgirl registaram um aumento de tráfego graças à entrada da Zara em Melbourne e em Sydney. «Aumentamos o tráfego nas lojas perto da Zara, por isso estão a atrair mais pessoas ao distrito de negócios de Melbourne e Sydney, o que é muito entusiasmante para nós», afirmou Brookes. A Austrália precisa de vários «gatilhos» para despoletar o consumo, incluindo a redução das taxas de juro, concluiu. E pode haver notícias positivas no horizonte, tendo em conta que o banco central reduziu as taxas de juro pela primeira vez em mais de dois anos em 25 pontos base, para 4,5%.