Todos os anos, cerca de seis milhões de toneladas de viscose são usadas para produzir vestuário e a procura deverá aumentar, segundo a Fashion for Good. «Com a estimativa de que 30% da viscose está a ser aprovisionada em florestas em perigo, garantir que as fibras têm origem em fontes renováveis vai assegurar o seu potencial como uma das fibras sustentáveis do futuro», aponta a organização.
O Viscose Traceability Project, lançado no início de dezembro, consiste num projeto-piloto, apoiado por um consórcio que inclui o Kering, a Bestseller e a Zalando, que verifica a sustentabilidade das fibras de viscose ao longo da cadeia produtiva – incluindo fiações, tecelagens, tricotagens, tinturarias e confecionadores – usando a tecnologia de blockchain da TextileGenesis.
«Um passo crítico para uma indústria de moda circular é verificar que as matérias-primas usadas são aprovisionadas de forma sustentável, processadas de modo responsável e podem fornecer a informação necessária para atestar que o seu valor pode ser recapturado no final da sua utilização», sublinha Katrin Ley, diretora-geral da Fashion for Good.
A TextileGenesis cria aplicações de rastreabilidade para serem usadas em toda a cadeia produtiva, das fibras ao produto final. Tendo já sido demonstrada a viabilidade tecnológica da plataforma tecnológica da TextileGenesis e a sua capacidade de integrar uma certificação comprovada em testes-piloto anteriores, este projeto irá focar-se em demonstrar a viabilidade de uma aplicação global da solução na cadeia de aprovisionamento da viscose.
O sucesso será medido com base na flexibilidade da solução – ser capaz de operar em diferentes fases da cadeia produtiva e a sua interoperabilidade – para recolher dados de múltiplas plataformas num único sistema; e na possibilidade de escalar a solução, para ser implementada em diferentes marcas, produtores de fibras e cadeias de aprovisionamento.
Da fibra ao retalho
Para rastrear as fibras de viscose, o projeto usa o trabalho da iniciativa CanopyStyle para eliminar fibras de florestas antigas e em perigo da produção de viscose e impulsionar a adoção de certificações como o FSC. A Canopy juntou-se, assim, a este novo projeto como consultora para apoiar a seleção de produtores de viscose.
«Agora que 52% da cadeia mundial de viscose está categorizada como “Green Shirt” no 2020 Hot Button Report da Canopy, as marcas querem ter a certeza que estão a ter o produto “Green Shirt” por que pagaram. Este projeto-piloto vai ajudar a criar um sistema de rastreamento robusto para o que historicamente tem sido uma cadeia de aprovisionamento opaca», acredita Nicole Rycroft, diretora-executiva da Canopy.
Três produtoras de fibra – a Lenzing, a Enka e a Tangshan Sanyou – foram selecionadas devido à sua posição no ranking da Canopy e à sua reputação como líderes na sustentabilidade ambiental.
A plataforma da TextileGenesis usa Fibercoins como tokens que basicamente fornecem um “gémeo digital” para as fibras sustentáveis. A plataforma permite que os atores ao longo da cadeia de aprovisionamento transfiram estas moedas digitais em paralelo com a produção dos artigos têxteis à medida que avançam na cadeia produtiva. Foi ainda criado um protocolo de dados de rastreabilidade da fibra ao retalho com base no GS1 – uma noma mundial de rastreabilidade usada na indústria alimentar e de cuidados de saúde.
Segundo Amit Gautam, CEO da TextileGenesis, «a rastreabilidade na cadeia de valor têxtil é desafiante devido à elevada fragmentação da indústria e cadeias de aprovisionamento mundiais. Aprovisionar produtos de moda sustentáveis exige cada vez mais a rastreabilidade completa da cadeia de aprovisionamento para assegurar a integridade das alegações de sustentabilidade. Vemos a sustentabilidade e a rastreabilidade como dois lados da mesma moeda e o nosso objetivo é acelerar a concretização das alegações de fibras 100% sustentáveis dando uma transparência radical à cadeia de valor têxtil».