Os profissionais da análise de tendências têm percursos invejáveis e um “olho clínico” para descobrirem o que vamos querer usar daqui a uns anos. Sue Barrett, especialista em denim de Londres, trabalha para a consultora de moda e serviço informativo WGSN. Ajudou a moldar os nossos jeans durante anos, trabalhando com os gostos de Dolce&Gabbana, Mavi, Wrangler, Lee Cooper, H&M, Giorgio Armani e Diesel. «Quando comecei a trabalhar como analista de tendências há 10 anos atrás, toda a gente usava calças largas com bolsos e ninguém parecia comprar jeans, pelo menos não como nos anos 70 ou 80 ou como agora. Fui contratada pela Lee e pela Wrangler para pesquisar o mercado e ajudar a trazer as pessoas de volta ao denim», explica Barrett. Muitas viagens por todo o mundo permitem-lhe captar novos estilos e os modelos que as pessoas poderão usar no futuro. «Divido o meu tempo entre o escritório em Londres e a pesquisa de novos visuais em cidade trendy para o denim como Tóquio, Estocolmo e Reykjavik. A Suécia é a Tóquio da Europa em termos de cultura de rua; e os jovens adoptam facilmente as novas tendências de denim – são muito ousados». Entre a sua melhor descoberta em termos de tendências estão os skinny jeans. «A WGSN tem falado disso desde 2001. Também previmos, desde 2004, o regresso do visual rave do início dos anos 90 (skinny jeans com cores ácidas, t-shirts largas, Day-Glo), quando os clubes nocturnos começaram a recuperar o estilo e a música dos anos 90». Para o futuro dos jeans, Sue Barrett aponta os jeans de cintura subida. «Estão a surgir formas mais femininas e arredondadas. Os pontos-chave são a cintura subida, volume à volta das coxas, a ajustar no tornozelo, lavagens muito pálidas ou pastel e o regresso da lavagem em pedra». Do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, reside Kate Schelter, analista de tendências para o designer Zac Posen, Vogue, Disney e Swarovski, entre outros, assim como fotógrafa para grandes revistas de moda. Com estágios na revista W e na sede da Christian Lacroix em Paris, Schelter começou na Vogue como fotógrafa nas semanas de moda de Paris e Nova Iorque e graças à sua perspicácia e capacidades de observação, identifica tendências de forma «intuitiva». A sua melhor descoberta foi o look andrógino que dominou as colecções de Outono e que, segundo afirma, «é ainda uma grande tendência para a Primavera 2009. Comecei a ver muitas raparigas em Nova Iorque com esse estilo e depois Julianne Moore usou um casaco de smoking branco de Yves Saint Laurent e um mini-vestido no baile do Costume Institute do Metropolitan Museum of Art em Maio de 2007 e percebi que tinha visto um regresso». Como próxima grande tendência, Kate Schelter não hesita em apontar «o minimalismo elegante» e acrescenta: «o uso de joalharia vintage e têxteis para fazer novas peças está também a tornar-se uma tendência. O designer Alexander Wang e a marca de joalharia House of Lavande são para manter debaixo de olho». Já Martin Raymond é mais objectivo. Co-fundador da Future Laboratory, uma agência de análise de tendências, tem como clientes a Louis Vuitton, Miss Selfridge, Gap e Tesco. «No início da minha carreira vi como as tendências sociais, de moda e de consumo estavam interligadas. Analisando-se as gerações mais jovens – o seu ambiente, preocupações, a forma como foram criados em termos de condições económicas, política, tecnologia e atitudes sexuais – consegue perceber-se qual o seu impacto mais tarde nas tendências», explica. «Somos completamente objectivos no Future Laboratory, e como resultado alguns clientes não gostam do que dizemos. Quando dissemos à Gap, por exemplo, que a responsabilidade ética iria ser um tema fulcral para os consumidores, foi muito anti-popular, já que a mudança nesta área envolve o investimento de muito dinheiro. Em 2001, também dissemos ao LVMH, que detém a Louis Vuitton, que o luxo sustentável seria uma grande questão no futuro». Não é por isso de estranhar que, como melhor descoberta, Martin Raymond aponte o que chama de “millennials”, adolescentes nascidos no início dos anos 90 que adoram Gossip Girl e Miley Cyrus. «Há quatro anos previmos esta mentalidade do milénio – esta geração nascida na era da Internet, especialista em tecnologia, ambiciosa e de grandes gastadores. Percebemos quão poderosos se iriam tornar». E se os jovens irão dominar no futuro mais longínquo, no futuro mais próximo, a próxima grande tendência é a “Womenomics”. «Até 2020, 53% dos milionários serão mulheres, o que vai ter um impacto enorme nos serviços do luxo. Vemos isso acontecer agora com o crescimento dos serviços de entrega de luxo de moda e alimentação em casa», explica Raymond. Além disso, aponta, «a cultura do concierge vai expandir-se para todos os sectores – as pessoas vão até esperar um serviço mais personalizado da Primark». E como última surpresa, Martin Raymond acredita que apesar da tendência actual, nos próximos anos «vai haver um afastamento do orgânico para tecidos sintéticos. As pessoas vão perceber que o algodão orgânico também prejudica o ambiente na sua produção e vão aderir a materiais que incorporam tecnologia de ponta».