Na sua conta oficial na rede social Instagram, o novo diretor criativo da Burberry, Riccardo Tisci, que assumiu funções depois da saída de Christopher Bailey, já começou a catalogar aquela que será a nova estética da marca de herança britânica. O mercado aguarda com expectativa o desvelar do novo rosto da Burberry e, para ajudar, os números estão em subida.
O homem do leme
De acordo com os portais da especialidade, os “aperitivos” servidos pelo novo diretor criativo da marca – até à data, Riccardo Tisci partilhou seis fotografias com os seus mais de 2 milhões de seguidores – revelam uma receita de luxo mais apurada, sem por isso deixar de respeitar a original, com o tartan revisitado em capas e saias plissadas de silhueta midi, gabardinas oversized e uma paleta de cor clássica.

«Quis celebrar a beleza, a herança e o legado que descobri quando cheguei à Burberry. A [coleção] “B Classic” é uma revisão aos ícones da casa – peças como a gabardina, o casaco acolchoado, o kilt (…)», escreveu Riccardo Tisci na legenda de uma das publicações no Instagram.
Depois do adeus de Christopher Bailey, deixado no último desfile da marca no calendário de desfiles da semana de moda de Londres, a Burberry entregou o leme criativo a Tisci no dia 12 de março de 2018. O designer juntou-se à equipa da casa de moda britânica depois de mais de uma década nos corredores da Givenchy, onde assumiu o papel de diretor criativo de 2005 a 2017.
Mercado expectante
A nova direção criativa e consequente renovação estética da Burberry é aguardada com expectativa pelo mercado e, segundo a marca, há sinais «promissores» no ar, com um feedback «positivo» dos seus parceiros.
Com efeito, a Burberry confirmou hoje, 16 de maio, um lucro de 413 milhões de libras esterlinas (aproximadamente 471 milhões de euros) para o ano fiscal concluído a 31 de março, um aumento de 4,5% comparativamente a igual período do exercício anterior. As vendas da Burberry, entre abril de 2017 e março de 2018, somaram 2.733 milhões de libras esterlinas (3.121 milhões de euros), menos 1,2% que no exercício precedente. A margem bruta da empresa, no período, fixou-se nos 69,4%, contra 69,9% do exercício anterior.
No canal digital, o negócio direto ao consumidor da Burberry continuou a gerar bons resultados, com destaque para a Ásia, e as transações móveis representaram 40% da receita online.
O CEO da Burberry, Marco Gobbetti, afirmou-se «satisfeito com a performance» da empresa, considerando tratar-se de «um ano de transição».
Compra e venda
Dentro da nova estratégia delineada para a casa de moda, a Burberry anunciou também recentemente um investimento no segmento de artigos de couro, alargando assim o foco ao negócio dos acessórios. A empresa adquiriu o negócio de artigos de couro de luxo – incluindo a equipa de artesãos que trabalhou lado a lado com a marca na última década – à sua parceira italiana de longa data CF&P, sediada em Scandicci, Itália. A transação deverá estar concluída no final deste ano.
«Esta aquisição é um importante marco para a empresa e uma declaração da nossa ambição nesta categoria estrategicamente importante. Irá criar um centro de excelência para os artigos de couro da Burberry, abrangendo todas as atividades, incluindo prototipagem, inovação, engenharia e coordenação de produção. O que nos dará um maior controlo sobre qualidade, custo, entrega e sustentabilidade dos nossos artigos de couro», explicou, à data da confirmação da aquisição, Marco Gobbetti.
Se a marca compra, os acionistas vendem.
Há semanas, o bilionário Albert Frere anunciou a venda da totalidade da sua participação (6,6%) na Burberry, menos de um ano depois de ter selado o investimento. O Groupe Bruxelles Lambert, de Albert Frere, espera arrecadar 498 milhões de libras com a venda.
Tendencialmente tecnológica
Sempre interessada em liderar e não em seguir, a Burberry foi uma promotora prematura de novas tecnologias, acompanhadas por uma forte presença nas redes sociais – a marca foi a primeira à escala global a explorar as valências do Snapcode da rede social Snapchat. Foi também a primeira marca a lançar um canal na Apple Music, com o objetivo de se relacionar com os clientes promovendo talentos musicais britânicos. Já os chatbots do Facebook foram usados, pela primeira vez, no ano passado, durante a semana de moda de Londres, para partilhar informações e atualizações sobre novos produtos Burberry.
Desde então, a oferta foi expandida para providenciar serviços ao cliente ou opções para conhecer e comprar as novas coleções (ver Burberry e a moda da tecnologia).
Entretanto, a recente ligação com a Farfetch apresenta muito potencial para o crescimento digital da marca de herança britânica.
O programa, batizado Dream Assembly, foi criado para ser uma aceleradora tecnológica, promovendo novas empresas, gerando oportunidades de contactos com empresas já estabelecidas da indústria da moda, etc.
«Este é um convite aberto ao ecossistema de startups para vir construir o futuro da moda connosco. Vamos facilitar as interações entre empresas e investidores», garantiu o CEO da Farfetch, José Neves, durante a apresentação da parceria.
Riccardo Tisci não poderia estar mais à vontade com a força digital da marca que agora lidera, uma vez que foi eleito pela conceituada revista Time como “agitador da moda” (“Fashion’s Agitator” na terminologia usada pela revista) em 2016 e considerado o designer mais socialmente conectado da sua geração (ver Tisci, o agitador).