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Burqa perde fulgor

As vendas de burqas de Nehmatullah Yusefy desceram 50% desde que os talibãs foram destituídos do poder em 2001 e, segundo afirmou à Reuters, em breve terá de vender outros estilos de vestuário islâmico para compensar o lucro perdido. Yusefy vendeu a veste azul, que cobre as mulheres dos pés à cabeça, nos últimos 10 anos. Era obrigatório para as mulheres durante o governo austero dos islamistas talibãs. Mas revela que o fez relutantemente. «Acho, Deus queira, que as vendas de burqas irão diminuir, depois vamos ver o chador namaz e até talvez o mantau chalvar», afirma Yusefy, atrás do balcão da sua pequena loja na rua de lojas de burqas no principal mercado da cidade de Herat. O chador namaz é um vestido comprido em preto ou tons escuros muito usado no Irão. Expõe a face da mulher mas cobre o resto da sua cabeça e o corpo até aos tornozelos. O mantau chalvar é um casaco comprido usado por cima das calças e é popular entre as mulheres na capital Kabul, que, comparativamente, têm mais liberdade na forma de vestir. é sempre usado com um lenço que cobre a cabeça e é atado firmemente no queixo. Recentemente, o presidente francês Nicolas Sarkozy condenou a burqa, afirmando que não era bem vinda em França porque era um símbolo de subjugação feminina. «Não podemos aceitar que algumas mulheres no nosso país sejam prisioneiras por trás de uma grelha, arrancadas da vida social, privadas da sua identidade», afirmou depois dos pedidos de alguns legisladores para banir a burqa em França. O chador namaz, que é aberto na cara, com as suas pontas a ficarem penduradas no centro do corpo, pode ser mais bem recebido nas avenidas parisienses. «Espero que as coisas no Afeganistão progridam mais, que as pessoas tenham a mente mais aberta e estejam mais sensíveis, para que a mulher, a irmã, a mãe, possam ir ao mercado livremente», confia Yusefy, acrescentando que nunca exigiu que a sua própria mulher e as suas duas filhas usassem burqa. Yusefy, que vende entre 5 e 15 burqas por dia, planeia voltar-se para o cada vez mais popular chador namaz, que expõe a face. Espera, assim, duplicar a sua clientela e vendas ao servir este mercado em expansão. Actualmente, o chador namaz é usado por cerca de metade das mulheres de Herat. E embora ninguém em Kabul piscasse os olhos perante um mantau chalvar, em Herat ainda faz voltar cabeças. Para muitos, mesmo o chador namaz é visto como “forçar a barra”. «Dizem agora que o Afeganistão é livre e que as mulheres deviam “respirar” mais, mas não, as mães, as tias e a família ainda nos dizem que temos de usar a burqa Simplesmente não gosto, gosto de ser livre, não estar sob uma burqa», revela Amirejan Abdulzai, uma jovem de 18 anos que adoptou o chador namaz, apesar da pressão da família para que use burqa. Na loja de Yusefy, este explica que os olhos masculinos podem ser uma das razões pelas quais as mulheres se sentem compelidas a usar burqa. «Sim, os homens não deviam olhar, talvez seja culpa deles por olharem», afirma. «Se uma mulher vem ao mercado sem se cobrir cerca de 100 pares de olhos estarão colocados nela porque esse é o clima cá». Ao mesmo tempo, Yusefy retira uma burqa de um cabide metálico pendurado na parede da sua loja e vira-a ao contrário para mostrar o painel de crochet coberto com um tecido translúcido azul através do qual muitas mulheres afegãs vêem o mundo. Apesar de tudo, afirma que «tem uma boa visibilidade».