O apelo surge após o anúncio do governo, no início deste mês, sobre o aumento do salário mínimo dos trabalhadores da indústria de vestuário, para140 dólares mensais a partir do início do próximo ano. Isto representa um salto de 9,4% face ao salário mínimo atual de 128 dólares.
A Associação dos Produtores de Vestuário do Camboja (GMAC, na sigla inglesa) diz ser vital a concentração no aumento da produtividade global, acrescentando que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a produtividade da indústria de vestuário do Camboja tem vindo a diminuir ao longo dos últimos três anos.
«Os salários representam uma parcela enorme dos custos operacionais de uma fábrica», afirma o secretário-geral da GMAC, Ken Loo. «Precisamos agora de contactar todas as partes, incluindo os compradores, focar-nos na melhoria da produtividade, de forma a compensar o aumento dos custos, e manter as fábricas economicamente viáveis», aponta Loo.
No entanto, o grupo criticou quatro sindicatos por estes se terem afastado das negociações salariais, alegando uma violação das regras e procedimentos internos. O valor salarial recentemente estabelecido fica substancialmente aquém do salário de 168 dólares mensais, que os sindicatos tencionavam fazer aprovar.
A indústria de vestuário do Camboja é o maior sector industrial do país, mas tem sido marcada por greves e disputas salariais. O país exportou 5,82 mil milhões de dólares em produtos de vestuário no ano passado e o sector emprega mais de 600.000 trabalhadores, mas os salários permanecem entre os mais baixos da indústria.
As negociações salariais para 2016 iniciaram-se poucos meses depois do salário mínimo ter sido aumentado em 28%, fixando-se nos 128 dólares mensais no início do ano. O Ministério do Trabalho revelou que, uma vez incluídos outros benefícios, os trabalhadores receberão uma média de 157 dólares a 168 dólares por mês já no próximo ano.
A OIT reconheceu os «esforços genuínos» empregues por todas as partes na tentativa de estabelecer um consenso tripartido sobre o novo salário e o «progresso significativo» feito na utilização de dados, análise e abordagens consultivas tripartidas, que culminaram na tomada de decisão. «À medida que, gradualmente, os salários aumentam, é importante que a indústria melhore a produtividade geral e que os compradores de vestuário examinem as suas práticas de compra», referiu.
O retalhista de moda sueco H&M garantiu apoiar o novo salário mínimo para os trabalhadores de vestuário do Camboja, mas não «acreditar que os compradores, como a H&M, devam determinar os níveis salariais dos trabalhadores têxteis». No entanto, estão a ser desenvolvidas novas iniciativas que pretendem alterar a forma como as empresas adquirem vestuário no país, de forma a assegurar o pagamento de salários mais elevados. A nova iniciativa – ACT – criada pelo Sindicato Global Industrial, em parceria com diversas marcas, incluindo H&M, Inditex e Primark, pretende vincular as responsabilidades da cadeia de aprovisionamento dos compradores ao processo de negociação coletiva entre os sindicatos e os empregadores locais.
A GMAC está, também, envolvida no processo de construção de um centro de formação direcionado para o sector do vestuário, que será inaugurado no decorrer do próximo outono. Por eu lado, o Instituto de Formação de Vestuário do Camboja (CGTI, na sigla inglesa) irá formar trabalhadores locais, tendo em vista o preenchimento de cargos de gestão intermédia em fábricas do país. Esta instituição disponibilizará programas de formação profissional, como cursos de design especializado e confeção de padrões, financiados pelos empregadores.