O presidente-executivo da Cerruti, a casa de moda italiana conhecida pelos seus fatos para homem e o perfume 1881, revelou, no início de Junho, que estava preocupado com a possibilidade das despesas discricionárias serem prejudicadas com a actual crise orçamental na Europa. A Cerruti, que concorre com marcas como Hugo Boss e Armani, teme que a recuperação verificada desde Janeiro possa revelar-se de curta duração e que grandes mercados, como França e Itália, terminem o ano com um crescimento nulo. «Estamos a observar muito atentamente o que está a acontecer na Grécia e os planos de austeridade que estão a ser postos em prática pelos governos», referiu o presidente executivo da Cerruti, Florent Perrichon, um ex-executivo da LVMH, no Reuters Global Luxury Summit em Paris. «Estamos preocupados que os rebentos da recuperação, que nós vimos no início deste ano, possam desaparecer, mas é ainda muito cedo para falar». Perrichon espera que a China continue a ser a maior força motriz este ano e ajude a elevar as vendas da Cerruti para entre 160 e 170 milhões de euros, a partir dos 140 milhões de euros registados no ano passado. A sua ambição é levar as vendas para os 400 milhões de euros até 2014. Em 2009, a Cerruti registou uma perda operacional de 4 milhões de euros mas, este ano, o défice deve ser inferior, apesar das despesas de marketing mais elevadas, e a empresa continua no bom caminho para atingir o ponto de equilíbrio em 2012, defende Perrichon. A empresa de moda, que entrou em processo de falência há seis anos, baseia a sua revitalização em parcerias de licenças, mas ressuscitar uma marca de moda não é tarefa fácil. A crise teve os seus efeitos em nomes de alto perfil, como Christian Lacroix, em França, Mariella Burani em Itália e Yohji Yamamoto no Japão. «Se não fosse a China, seria impossível [ressuscitar uma marca]», admite Perrichon. O modelo de negócio da Cerruti é semelhante ao da Balmain, que entrou em colapso em meados da década de 2000 e agora está a “renascer das cinzas” e a crescer, principalmente através de licenças. Perrichon disse que a empresa de moda estava à procura de parceiros para a sua linha de moda feminina na Europa e no Japão e estava perto de conseguir um acordo com um parceiro na China. A Cerruti acabou de contratar o cantor francês Marc Lavoine para a campanha publicitária do seu perfume 1881 em França, o seu maior mercado de perfumaria. Para infundir nova vida na moda feminina, a Cerruti contratou o estilista britânico Richard Nicoll, que costumava trabalhar com Marc Jacobs para a Louis Vuitton e que ainda desenvolve a sua própria marca. Nicoll apresentou a sua primeira colecção Cerruti na semana da moda de Paris, em Março, a primeira mostra de moda feminina nos últimos cinco anos. O vestuário masculino é desenvolvido por Jesper Borjesson, cuja primeira colecção apresentada em Janeiro foi bem recebida pela imprensa de moda e pelo próprio Nino Cerruti, que estava sentado na primeira fila. Nino Cerruti, que criou a Cerruti no final da década de 1960 com a ambição de vender elegância italiana aos franceses, passou a empresa em 2000 para as mãos dos investidores italianos Finpart e, quatro anos mais tarde, foi à falência. A Cerruti foi resgatada da falência em 2006 pelo fundo de capital de risco norte-americano MatlinPatterson, especialista em activos problemáticos, que colocaram Perrichon à frente da empresa em 2008. Mas Nino Cerruti manteve a fábrica têxtil no norte de Itália, onde ainda são produzidos tecidos de lã para os fatos da Cerruti e de outros clientes. A Cerruti produz as suas linhas masculinas de alta-costura em Itália e as linhas femininas de luxo na Bélgica, mas subcontrata a produção das suas segundas linhas, acessórios e perfumes a parceiros licenciados.