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China reestrutura vestuário – Parte 2

Apesar da China estar mais competitiva em termos globais, o seu sector de vestuário aparenta estar em quebra (ver China reestrutura vestuário – Parte 1). Esta evolução negativa está associada a diversos factores, que continuamos a analisar. Diversas regiões registaram taxas de imposto mais elevadas. Em Shenzhen (na província de Guangdong), um dos principais centros de produção de vestuário localizado perto de Hong Kong, a taxa de imposto para as empresas de transformação e fabrico era de 15%. Actualmente é de 25%. Mas uma das questões mais preocupantes para a indústria é a escassez de trabalhadores. As melhores perspectivas de emprego nas zonas rurais e nas cidades do interior, juntamente com o aumento do custo de vida no Delta do Rio das Pérolas, em Guangdong e no Delta do Rio Yangtze, levam a que muitos dos estimados 210 milhões de trabalhadores migrantes chineses prefiram ficar mais perto de casa. Muitas fábricas de vestuário não conseguem encontrar trabalhadores suficientes, mesmo oferecendo aumentos salariais superiores a 10%. Segundo Michel Boogaers, director-executivo da Able Glad, empresa fabricante de artigos de vestuário de desporto, casual e esqui, com sede em Hong Kong e fábricas em Dongguan e Shaoxing, diz que as duas fábricas têm agora de operar com 800 trabalhadores em vez dos 1.000 habituais. Outros produtores de vestuário, que necessitam de trabalhadores, estão declaradamente a cortar na carteira de clientes, especialmente naqueles que no passado impuseram o cumprimento de obrigações sociais “irrealistas”. Os regulamentos da poluição e outras exigências ambientais estão igualmente a ser reforçados. As empresas são pressionadas a investir em máquinas novas, mais caras, e a melhorar os seus sistemas de gestão de resíduos. Os oficiais chineses podem ser implacáveis em questões ambientais e, em meados de 2007, comprometeram-se simplesmente a eliminar cerca de 2.150 empresas poluidoras até ao final de 2008. As restrições bancárias são outro do problema que a indústria tem de enfrentar. Nem a turbulência financeira mundial, nem os recentes encerramentos de empresas na cadeia de fornecimento chinesa de têxteis (desde fornecedores-chave, como o produtor de PTA Sanxin, a milhares de produtores de vestuário) foram capazes de convencer os bancos chineses a relaxarem as suas políticas de crédito para o sector do vestuário – um sector que eles, tradicionalmente, abordam com cautela. O director comercial da Picanol (Suzhou) na China, Hans De Gusseme, tem uma perspectiva privilegiada sobre a evolução da cadeia de fornecimento têxtil e do vestuário chinesa e está plenamente consciente da gravidade da crise que está a afectar a indústria. Mas De Gusseme está confiante que os esforços combinados do governo chinês – que já aumentou as reduções fiscais para a exportação de vestuário e têxteis de 11% para 17% e está a preparar um novo pacote de estímulos para o sector – e das empresas, vão conseguir remodelar a indústria. Ele acredita que, se a indústria estiver apta a operar numa posição mais elevada na cadeia de valor, vai oferecer vantagens competitivas no mercado nacional e internacional. Para minimizar estas questões, as empresas chinesas de vestuário estão a aplicar diversas estratégias de reposicionamento. A primeira passa pela deslocalização da produção. Alguns produtores de vestuário estão a deslocalizar para outras regiões da China com custos laborais e imobiliários mais baixos e com maior número de candidatos a emprego. Por exemplo, no início de 2008, o produtor de camisolas Milo’s Knitwear de Hong Kong, abriu uma fábrica na província de Jiangxi, a cerca de 650 km da sede, onde os custos operacionais são cerca de 20% inferiores aos da vizinha Dongguan. Outra famosa empresa em Dongguan, a Dongyue Garment Factory, deslocalizou uma das suas unidades para a cidade de Heyuan no nordeste da província de Cantão e outra para a província de Hubei. Outras empresas estão a deslocalizar a produção para países asiáticos mais baratos como Vietname, Cambodja e Indonésia e até mesmo para centros de comércio como o Dubai, para onde os trabalhadores chineses são declaradamente transportados. Na terceira parte deste artigo, continuaremos a analisar as estratégias que estão actualmente em curso nas empresas chinesas.