Segundo Adrian Cheng, os compradores na China estão a ficar mais sofisticados e querem algo mais do que apenas mais um dia de compras. Para este jovem herdeiro de uma dinastia de negócios imobiliários de Hong Kong, a arte pode ser a solução e, por isso, está a planear levar a sua visão de «centros comerciais artísticos» para Pequim, Xangai e outras grandes cidades do Império do Meio. Cheng, de 32 anos, tem já os centros comerciais K11 a funcionar em Hong Kong e na cidade de Wuhan, na China central, mostrando artistas locais e, no caso de Wuhan, agricultura urbana para responder à procura de algo de diferente por parte dos consumidores. «Fizemos uma pesquisa extensiva na China», referiu Cheng à AFP durante uma recente visita a Paris para promover o conceito K11 e introduzir uma selecção de jovens artistas chineses e designers de moda. «Percebemos que os consumidores sentem-se muito aborrecidos com os actuais centros comerciais na China, porque é uma caixa e há muitas marcas e é isso. Vai-se lá e compra-se e nada mais», explicou. «As pessoas querem algo mais mas não sabem o quê e como o nosso tema de arte é muito forte, podemos atrair uma nova base de clientes», considera, «uma nova base diversa de consumidores que normalmente não é vista em centros comerciais», apontou. Neto de Cheng Yu-Tung, o fundador octogenário da New World Development e um dos magnatas mais ricos de Hong Kong, Cheng juntou-se ao negócio da família após ter estudado humanidades em vez de gestão na Universidade de Harvard. Actualmente é o responsável por um dos lucrativos pilares do império Cheng os joalheiros Chow Tai Fook mas em relação aos centros comerciais K11, o seu avô e o seu pai, o director-geral da New World, Henry Cheng, estão a dar-lhe carta branca para fundir arte e imobiliário. «Tentei injectar uma galeria de arte, uma experiência do género de museu em toda a experiência de retalho», afirmou Cheng, um pintor amador que prefere D&G e Yves Saint Laurent a fatos cinzentos. Em Hong Kong, o K11 está ancorado a um grande negócio da New World, o hotel de luxo de 64 pisos Masterpiece e uma torre de apartamentos no bairro de Tsim Sha Shui, onde um apartamento com um quarto foi vendido por 3,16 milhões de dólares (2,21 milhões de euros). Rompendo com a preferência arquitectónica da cidade de função sobre a forma, atrai muitos transeuntes muitos deles turistas da China continental com linhas estruturais curvas a abrir para uma luminosa praça aberta. Os seus seis andares parecem mais uma galeria de arte e entre as lojas trendy estão grandes mostras de exposições rotativas. Num piso inferior, uma escultura tipo árvore toma o lugar central. A dominar uma das entradas está «o maior mosaico de tostas do mundo», uma recreação da Mona Lisa em fatias de pão torrado, pelo merceeiro da Nova Zelândia que se tornou artista Maurice Bennett. Mas promover os artistas locais é um ponto central do conceito, sublinhou Cheng. Este ano, por exemplo, o K11 um nome que «não tem um significado específico» tem vindo a promover o trabalho de Florian Ma, um artista de Hong Kong que explora as noções aparentemente conflituosas do Génesis e da evolução. «Se construir um centro comercial K11 em Pequim, irá apenas mostrar artistas de Pequim É muito ao gosto local e ligações locais», exemplificou. Para além de Pequim e Xangai, Cheng visualiza centros comerciais K11 em Guangzhou, Tianjin, Shenyang e Hainan Island, além de uma expansão da localização de Wuhan onde a possibilidade de alugar caixas de jardinagem para cultivar vegetais dá ao desenvolvimento um toque ecológico. «Se o conceito se enraizar na China, tem de ser em Pequim e Xangai, com a elite urbana» dessas duas cidades em rápida mudança, considera David Ji, responsável de pesquisa na Grande China na consultora de imobiliário DTZ. As compras de gama alta na China ainda revolvem em torno dos grandes centros comerciais, disse Ji à AFP, mas o conceito K11 pode beneficiar de uma relativa falta de espaços de retalho para arrendar e do aumento das rendas. «Cinco anos deve ser uma boa meta para que as novas ideias se tornem populares», acrescentou Ji, um prazo que vai ao encontro do que pensa Cheng. «Nos próximos cinco anos, os consumidores chineses vão continuar a ser muito curiosos», afirmou Cheng, acrescentando que serão ainda mais exigentes em termos de design e qualidade «porque viram mais» e viajaram mais.