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Comércio português já vende no marketplace global

A AICEP promoveu uma conferência sobre o comércio eletrónico e a sua implementação efetiva na economia portuguesa – um sector onde ainda há muito a fazer.

Augusto Santos Silva

As empresas portuguesas já estão atentas ao comércio eletrónico, mas ainda há alguma resistência na adoção de plataformas de marketplace. Esta é uma das grandes conclusões da conferência «Exportar Online», da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) que decorreu ontem, dia 21 de maio, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões.

O secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, recordou que este tema já se vem debatendo há mais de uma década. «Havia todo um conjunto da sociedade que estava fora. E um elemento central era o acesso de uma parte da população que, tendo rendimentos, não estava capacitada para aceder. E muitas barreiras tinham que ser ultrapassadas até chegar a mais consumidores», afirmou o governante. Atualmente, o cenário já é diferente, mas ainda há muito a fazer. «Um dos maiores exportadores do país no calçado fazia-me essa afirmação: hoje tem que estar presente no canal online, porque os clientes multimarca que acompanhavam nas feiras estão a deixar de aparecer. Uma parte dos seus clientes escolhe outro canal onde procura custo, personalização e alternativa», revelou Eurico Brilhante Dias.

Eurico Brilhante Dias

Antes disso, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, assegurou que «há no comércio digital uma nova e enorme oportunidade para aumentar as exportações, mercados e multiplicar os canais de acesso para chegar aos consumidores». O governante explicou ainda que usar este tipo de canal para chegar aos clientes tem muitos aspetos positivos. «Existe uma grande vantagem em que entremos no pelotão da frente, até porque não há barreiras físicas e alfandegárias. Temos que generalizar o uso destas ferramentas», defendeu o ministro.

Luís Castro Henriques, presidente da AICEP, deu conta das razões que levaram à elaboração do programa da agência para esta área. «Acreditamos que, brevemente, a fronteira entre o comércio tradicional e o e-commerce vai esbater-se», admitiu, apontando das vantagens do online para as empresas. «A redução de custos operacionais, tempo e distância. O acesso a um mercado global aberto 24 horas por dia», citou, sem deixar de lamentar que neste momento menos de 30% das empresas portuguesas façam negócios através da Internet.

Já João Dias, da administração da agência, relembrou que a cada três anos a dimensão deste sector «duplica» e destacou os mercados chinês e americano. O responsável descreveu os eixos que orientam o programa da AICEP nesta área: informação, capacitação, consultoria, incentivos, implementação. Entre as medidas incluídas nestas linhas estão road-shows, formação avançada e uma aceleradora da AICEP.

Por seu lado, o holandês Wijnand Jongen, que lidera a associação e-commerce Europe, garantiu que «e-commerce puro será substituído pelo novo retalho, podemos ter o online e o offline juntos. Quanto uma loja passa a online reinventa-se o comércio eletrónico».

Luís Castro Henriques

Fernando Aparício, da consultora AMVOS, falou das diferenças entre a Amazon e a Alibaba em termos de propostas de valor. «A proposta de valor para os vendedores é muito interessante. São os mais importantes para uma estratégia digital», explicou.

Bernardo Correia, country manager da Google para Portugal, por sua vez, salientou que «queremos que Portugal seja um caso de sucesso. O marketing do futuro requer ativos de marca», adiantando que a gigante americana já tem em curso um programa de capacitação digital para os europeus que já abrangeu 35 mil portugueses.

Uma das questões mais importantes quando se fala de comércio eletrónico é a entrega. Do lado da DHL, Nuno Martins, diretor de comunicação, marketing e desenvolvimento de negócio da empresa, deu conta do que os clientes esperam nesta fase da economia digital. «O consumidor é cada vez mais exigente não só na fase de compra, mas também de transporte e, além disso, o que estamos a ver é que quer ter o controlo sobre a hora de entrega. Cada vez os compradores querem mais rapidez e isso é decisivo na escolha da compra», elucidou.

Alberto Pimenta, diretor e e-commerce dos CTT, citou um estudo que analisa algumas especificidades do comprador português. Assim, entre as preferências estão vestuário, calçado, eletrónica, livros, música, casa e jardim. As entregas gratuitas atraem mais consumidores, que pagam sobretudo através do Paypal e de cartão de crédito.

Gabriel Coimbra, vice-presidente e country manager da consultora IDC, deu conta, através das conclusões de um estudo, de um crescimento do recurso a plataformas de marketplace em Portugal, mas ainda com muitos desafios. «Se olharmos para este mercado, 85% dos inquiridos compram fora de Portugal segundo revelaram ao inquérito. Há um desafio, mas também uma oportunidade», reconheceu. Os mercados mais relevantes, à semelhança das conclusões do outro estudo, são os produtos eletrónicos, alimentares, vestuário, mobiliário e decoração, calçado e acessórios e, produtos têxteis. Neste último caso além dos tradicionais mercados europeus (Espanha, França, Reino Unido) os EUA e a China estão entre as maiores oportunidades para as exportadoras nacionais.