As competências são algo que se vai cultivando ao longo da vida, mas nem sempre as empresas estão sintonizadas para as necessidades dos trabalhadores a este nível. «Quando falamos de competências essenciais, são novos contextos, modernos e com uma tecnologia muito mais avançada. Competências procuradas e oferecidas não estão ajustadas», afirmou Susana Oliveira da Associação Europeia para a Educação de Adultos, durante a conferência «Competências para a ITV no Horizonte 2030», que decorreu hoje no Citeve.
Ana Neves, do projeto Inova+, assegurou que a forma como o conhecimento é aplicado hoje é diferente. «A mudança demográfica em Portugal e Europa trouxe desafios para a indústria o que fez com que a força de trabalho tenha progredido», acrescentou, adiantando que, para os atuais recursos humanos, a prioridade é para a observação em contextos de trabalho, comunidades de prática e mentoring tutorial.
Quando entrou para o grupo Moretextile, que atua sobretudo em têxteis-lar, Artur Soutinho encontrou um conjunto de trabalhadores pouco motivados «com a cabeça em baixo», recordou o CEO. O grupo resultou da união de várias empresas de têxteis-lar, que estavam em dificuldades: a António de Almeida & Filhos, a Coelima e a JMA. «Tínhamos 1674 colaboradores e menos de 5% tinham o ensino superior», referiu o gestor.
«Era um número assustador de pessoas que ganhavam o salário mínimo, sem qualificações, e com operações repetidas diariamente. Era como um avião Antonov, caía com muita frequência», explicou Artur Soutinho. Estávamos no ano de 2011 e foi preciso levar a cabo uma reestruturação profunda. «Juntámos [as empresas], mas mantivemos a política de recursos humanos, porque era tudo muito diferente. O desafio era uma revalorização dos trabalhadores em simultâneo com contenção de custos», salientou. Assim, e através de um «diálogo permanente com os trabalhadores e sindicatos», o grupo começou a mudar, lentamente. «A transição tem que ser gradual e a questão cultural não se muda de um dia para o outro, ao longo do tempo começa a agregar-se e a ser diferente», reconheceu. Pelo meio, foi realizada uma redução de pessoal, para cerca de mil trabalhadores.

No segundo painel falou-se em desafios na gestão de recursos humanos. Ana Manuelito, da área de relações públicas da associação Euratex, deu conta do panorama nacional no desenvolvimento da indústria têxtil e vestuário. «Portugal ocupa o terceiro lugar a nível europeu entre os países que mais tem investido ao longo dos anos. Temos tido cada vez mais investimento, mas também criação de emprego na Europa. A maioria das apostas na nossa indústria passa alargamento e criação de novas infraestruturas», revelou.
Manuel Barros, diretor-executivo da LMA, falou de motivação dos trabalhadores. «60% das pessoas odeia o seu trabalho, 80% não gostam e 20% considera o seu trabalho estúpido tendo em conta as suas qualificações», referiu. O diretor-executivo da produtora de tecidos e malhas admitiu que as pessoas nem sempre estão aproveitadas ao máximo, e é preciso reconhecer quando isso acontece. «É importante conhecer bem os colaboradores. Tínhamos uma empresa com uma telefonista que hoje é uma excelente comercial, tinha essa apetência», contou. Manuel Barros defendeu ainda que é preciso entender que a filosofia atual passa por uma maior orientação para a qualidade de vida e menos trabalho intensivo do que antigamente. E que isso tem que ser tido em consideração nos recursos humanos.
Carolina Machado, da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, destacou o «paradoxo» entre a perda de alguns postos de trabalho e a criação de novos empregos, devido à crescente digitalização e robotização.