Andei sempre à procura de pechinchas, mas no segmento alto é preciso haver uma pechincha maior para conseguir fazer uma compra», explica Melanie Yoder, uma enfermeira de 40 anos de Chicago que trabalha na indústria de aparelhos médicos, em relação à mudança do seu comportamento desde a recessão de 2008/2009. Yoder, que foi abordada pela Reuters quando estava a sair de uma loja Saks com um saco de compras, pode estar agora desapontada com os descontos. Os retalhistas ficaram mais acostumados a manter baixos níveis de inventário e a cortar custos, o que pode ajudar lojas de topo com a Saks a evitar recorrer aos fortes descontos da última recessão. «Claro que há o risco de ter de fazer descontos, mas não será tão dramático como em 2008, quando as cadeias de lojas estavam a fazer grandes encomendas para alimentar o crescimento», indica Paul Swinand, analista de retalho na Morningstar. Daí que muitos analistas acreditam que os consumidores vão voltar às lojas discount. Em meados de Agosto a reserva Federal dos EUA indicou que o crescimento económico americano manteve-se consideravelmente mais baixo do que o esperado, sugerindo que a inflação irá manter-se contida no futuro próximo. «Imagino-me a poupar muito nesta altura, até a economia voltar a estar bem, o que não vai acontecer em breve», acredita Antoine Sykes, um segurança de 37 anos na Willis Tower, em Chicago. «Tenho uma filha que vai para a universidade. Muitos dos meus grandes gastos, das minhas compras, estão em suspenso até ela ter tudo o que precisa», acrescenta. À medida que o crescimento abranda, a procura por petróleo e outras matérias-primas diminui, arrastando os preços para baixo. Esta quebra nos preços das matérias-primas deve ser bem recebida pelos consumidores das classes baixa e média numa economia a dois compassos, onde eles têm sido consistentemente frugais enquanto os consumidores com rendimentos mais altos gastam. «Isso irá presumivelmente aumentar o poder discricionário dos consumidores com rendimentos mais baixos», revela Michael Niemira, economista-chefe no International Council of Shopping Centers. Mas as taxas de desemprego elevadas, a debilidade da economia e um mercado de acções volátil continuam a afectar o consumo, sobretudo com cortes nas grandes compras. «É algo que faz pensar duas vezes antes de fazer qualquer compra grande, como o empréstimo para uma casa ou mesmo automóveis», enumera Wilson Aguilar, analista da J. P. Morgan em Chicago. Mesmo as pequenas compras foram atingidas, com os fornecedores americanos de televisão por cabo ou satélite a perderem mais clientes do que nunca no segundo trimestre do ano. Ainda assim, os analistas acreditam que mesmo que a economia caia novamente em recessão, o choque para os consumidores não será tão grave como em 2008, quando alguns sentiram a necessidade de ser mais discretos em termos da ostentação de sinais de riqueza. «Não creio que as pessoas irão ficar preocupadas em ir a um restaurante com uma carteira Gucci», conclui.