O riso, as brincadeiras e a agitação típica das crianças encheram, no último dia do Portugal Fashion, os bastidores da Alfândega do Porto nos momentos antes do desfile, mas, alinhados à entrada da passerelle, os modelos em ponto pequeno assumiram a sua missão e entraram prontos a derreter a audiência com as propostas das marcas portuguesas para a próxima estação quente.

Ao som de uma versão jazz de “La vie en rose” de Edith Piaf, a Patachou deu início ao desfile. Os rosas assumiram o protagonismo, juntamente com o amarelo, o azul e o branco, numa coleção «inspirada em várias cidades europeias, no verão, nas festas, nos casamentos», apontou Marta Sousa, fundadora e CEO da marca. «Foi um sucesso, toda a gente adorou. Tivemos muita presença da imprensa, de compradores, estamos muito felizes com o resultado», confessou ao Portugal Têxtil.
O vestuário de cerimónia continuou com a Risca de Giz, mas esta, ao contrário da Patachou, que só se dedica às meninas, mostrou também propostas para meninos. Os anos 60 e 70 foram o ponto de partida para Cláudia Pinheiro, fundadora da marca, dar vida à coleção para a estação quente do próximo ano. «Foi ir buscar coisas à minha infância, mas com um ar dos nossos dias. O objetivo era que a coleção fosse glamourosa e transmitisse, ao mesmo tempo, uma mensagem de alegria e de paz, que precisamos», afirmou.

Já a coleção da Cherry Papaya apostou na descontração, com peças confortáveis, muitas delas em algodão orgânico, para menino e menina e combinações mãe-filha. «Esta coleção é muito especial para mim – é a melhor até agora. Diz-me muito esta necessidade que acho que há hoje em dia de as crianças estarem mais ligadas à natureza, aproveitar o sol, de estarem ao ar livre, de cuidarem das plantas», admitiu Sandra Barradas, fundadora da Cherry Papaya, que está presente em 10 mercados. «Desde o início que o nosso foco é sempre fazer roupa confortável, divertida e acho que esta coleção transmite isso muito bem», acrescentou.
Descontraídas foram igualmente as propostas da Phi Clothing, para meninas, e mães, cheias de estilo. «Temos um conjunto de tecidos com padrões diferentes, que são nossos. Temos, por exemplo, o padrão dos flamingos, os gelados, as flores, as bolas, os ursos… A nossa coleção é muito variada, mas nesta pequenina amostra quisemos ter um bocadinho de cada parte», indicou Filipa Moreira, fundadora da marca, que faz 90% das suas vendas nos mercados externos e já desfilou a mesma coleção em Itália, na Pitti Bimbo. «Ainda não estamos a vender a coleção mas, da perceção que temos dos nossos compradores internacionais, está a correr muito bem mesmo», adiantou.

O desfile encerrou com a coleção da Laranjinha para a primavera-verão 2020. A marca portuguesa juntou o clássico com o contemporâneo em propostas com um toque francês, tanto com as riscas como com as cores, a fazer lembrar a região de Provença.
Pela segunda vez – o primeiro realizou-se em março –, o desfile Kids ModaPortugal pretendeu mostrar não só as coleções mas também a qualidade da produção e das marcas nacionais, como elucidou Luís Figueiredo, presidente do CENIT – Centro de Inteligência Têxtil e vice-presidente da ANIVEC – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário, Confeção e Moda, as entidades promotoras da iniciativa.

«Este subsector revela um dinamismo muito próprio, ilustrado no elevado número de marcas com assinatura nacional que participam ativamente nos melhores certames internacionais de moda infantil, como a Pitti Bimbo, a Playtime, a FIMI, a Children’s Club e a Indx Kidswear. Esta presença é reveladora da forte vocação de exportação das marcas portuguesas», destacou.
De acordo com os dados de um estudo promovido pelo CENIT e pela QSP – Consultoria de Marketing, cerca de 85% da produção de vestuário de criança feita em Portugal é exportada e, ao contrário do que acontece com a moda para homem e senhora, as marcas pensadas para o universo dos mais pequenos têm-se multiplicado, incluindo a partir das próprias empresas produtoras.
Da fábrica à loja

Foi esta imagem que a iniciativa Kids ModaPortugal quis também mostrar aos jornalistas internacionais, que, dois dias antes do desfile, fizeram um périplo por algumas dessas empresas que avançaram para a criação de marca própria.
A primeira paragem foi na Longratex, a “casa” da Patachou. A empresa dedica 85% da produção ao vestuário de criança, incluindo a sua marca própria e clientes externos, como o El Corte Inglés. «A criança tem uma representação muito grande», confirmou Marta Sousa.
A Longratex, que emprega cerca de uma centena de pessoas, tem dentro de portas processos como o design – incluindo dos tecidos –, o corte, a confeção das amostras e o embalamento. «A confeção é feita com parceiros que trabalham quase exclusivamente para nós, tudo em Portugal, aqui na região», assegurou a CEO da Patachou.

Já a Wolf & Rita representa 30% da produção da Mefri. Fundada em 2013, a marca «tem tido um crescimento sustentável ao longo dos anos», assumiu Sónia Rocha, cofundadora da Wolf & Rita.
A insígnia está implementada sobretudo na Ásia e nos EUA, mas vende já um pouco por todo o mundo. «Queremos fortalecer a presença no Japão, na China e na Coreia do Sul porque achamos que, definitivamente, é o mercado que mais aprecia os produtos da Wolf & Rita», explicou Sónia Rocha. «E tentar crescer na Europa, porque é um mercado que não está muito aberto à Wolf & Rita», acrescentou.

Além da marca própria, a Mefri trabalha também em private label para marcas de homem, senhora e criança, em mercados como o Norte da Europa, Reino Unido e França. «Com a diversidade que oferecemos na Wolf & Rita, conseguimos evoluir a empresa no sentido de poder dar resposta a uma maior diversidade de clientes e de produtos», reconheceu a cofundadora da Wolf & Rita.
Online marca pontos
Também na A. Ferreira & Filhos a marca própria tem um peso relevante. «Neste momento, a Wedoble já representa 40%», confidenciou Márcia Pacheco, gestora da marca, durante a visita dos jornalistas internacionais. O objetivo, contudo, é chegar aos 50%, num volume de negócios que, em 2018, rondou os 4 milhões de euros, e contempla também a produção de têxteis-lar.

A marca de vestuário infantil, que recorre essencialmente a matérias-primas naturais, como o algodão, cada vez mais orgânico, e o 100% caxemira, uma aposta recente, conta com 150 pontos de venda em lojas multimarca em Portugal, a que se juntam muitos outros em Itália, Reino Unido, Espanha, Holanda e Colômbia, assim como vendas online.
É no universo online que, por seu lado, a Madicor está a desenvolver o mais recente projeto. A empresa, que detém já a marca Pureté, planeia lançar no próximo ano uma nova insígnia apenas com edições exclusivas. «Vamos lançar um produto que terá, no máximo, 10 peças no mercado – só 10 clientes terão essas peças exclusivas», adiantou o CEO Pedro Serôdio.
As peças, pensadas para uma gama alta, serão vendidas online, numa plataforma própria. «Estamos preparados para as pequenas quantidades, coisa que muitas empresas não estão. Trabalhamos com a Christian Dior há 30 anos e para eles, às vezes, fazemos quantidades de 18 peças», admitiu.
Atualmente, a Pureté representa 25% a 30% da produção da Madicor, que em 2018 faturou, entre a marca própria e o private label, 4 milhões de euros. A Pureté está representada um pouco por todo o mundo, da Europa aos EUA, passando pelo Canadá, Colômbia, Dubai, Hong Kong e China, e tem também novidades com a nova coleção. «Vamos crescer até aos 8 anos, sempre na mesma linha do clássico, mas vamos tentar um clássico um pouco mais arrojado», desvendou Pedro Serôdio.
