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Criatividade ao rubro na ModaLisboa

Mais uma vez o ModaLisboa invade a capital portuguesa em força. O tema escolhido – INTERACTION – para a 19ª edição deste evento de moda deu lugar a um cruzamento de fantasia, de elegância e irreverência onde novamente estilistas nacionais e internacionais mostraram que Portugal não vive de trapos, e que há mãos que sabem conduzir a agulha. Num clima de confusão, com alguma desorganização à mistura, os desfiles alternavam-se por entre o LAB (um espaço para apresentação da moda através de uma abordagem mais experimental) e o Palco Principal, havendo mesmo quem optasse por uma pausa mais revitalizante ou até por uma oportunidade de fazer uma maquilhagem mais requintada. Nas palavras de Eduarda Abbondanza e Mário Ribeiro, coordenadores deste projecto, a ModaLisboa é uma “grande celebração da moda que se faz em Portugal”. Lisboa torna-se por três dias na montra portuguesa para industriais, representantes de marcas e potenciais compradores. A plateia contava também com um grande número de jornalistas internacionais e muitas caras conhecidas. Os desfiles iniciaram-se com Sangue Novo para terminarem com o desfile de Miguel Vieira num clima de ovação total onde até as lágrimas estiveram presentes, não só pela criatividade da colecção mas também como uma forma de demonstração de carinho pessoal por ter vencido a doença de que foi vítima. O primeiro dia da ModaLisboa foi então dedicado ao concurso Sangue Novo e à apresentação das colecções dos conceituados Ana Salazar e Manuel Alves & José Manuel Gonçalves. Ana Baeta, António Gracias, Cristina Pedro, Marta Iria, Pedro Cruzeiro, Priscila Alexandre, Ricardo Dourado, Sandra Valente e Vânia João Santos deram provas do valor da geração que se segue, tendo sido seleccionados por um júri de profissionais de moda composto por Fátima Cotta (Elle), Isabel Costa (Lux Woman), Paulo Macedo (Vogue Portugal) e Veríssimo Mustra (Vicri). A abrir os desfiles dos consagrados, Ana Salazar aliou a inocência à sensualidade erótica criando silhuetas amplas que contrastavam com outras mais cingidas, e jogando com as texturas e os estampados em sedas e algodões. A fechar o desfile de sexta-feira, o Convento do Beato recebeu Manuel Alves & José Manuel Gonçalves que caracterizaram a sua colecção pelo rigor e humor do universo feminino. Misturando influências clássicas com um atrevimento sensual e “chic”, a dupla de criadores evidenciou o corpo feminino através de faixas que cintam, cruzam e envolvem. O vencedor da sétima edição do concurso Sangue Novo, Marco Mesquita, conquistou um lugar ao sol apresentando a sua colecção no espaço LAB. Transmitindo uma sensação de calma, o estilista optou por conjugar o prazer do banho através do sentir da água e da espuma a escorrer pelo corpo, com a sensação de calma saída das paletas de tons claros. O crochet, o tricot e as Rendas de Bilros de Vila do Conde trazem à colecção um ar ternurento e dócil. Aleksandar Protich optou por um look mais agressivo onde a transformação do corpo é feita através da transformação das suas vestes. Nesta colecção a silhueta acompanha as linhas do corpo com tons crus, castanhos, rosa preto e alguns tons fluorescentes. Inspirados no filme «The English Patient», Paulo Cravo & Nuno Baltazar reflectem na sua colecção dois estados emocionais das personagens, opondo o romantismo à estrutura austera e rígida de inspiração militar. Transmitindo grande sensualidade a silhueta é ampla e longuilínea acompanhada por alguns detalhes militares, bolsos e aplicações tridimensionais. As ambiguidades foi o tema escolhido por Osvaldo Martins, que combinou a versatilidade interior com a procura insaciável de energia através da fusão de detalhes e explosão de cores. Com um look mais agressivo, esta colecção conjuga peças «em segunda pele» com outras de carácter mais amplo e estruturado. Alexandra Moura recorreu às memórias, trazendo à colecção as lembranças e imagens de tempos passados. As diferentes texturas e volumes que se moldam ao corpo dão uma ideia de fragilidade. As linhas de ‘sportswear’ tiveram a preferência de Luís Buchinho, que recorreu a uma vasta variedade de acessórios desportivos aplicados em peças de vestuário básicas. Dos coordenados faziam parte vestidos de ¾ e coletes de inspiração masculina conjugados com mini-saias ultra-decoradas. O desfile mais esperado do dia foi precisamente o de Fátima Lopes, que se inspirou nas grandes divas de Hollywood. Ao som de «Diamonds are a girl’s best friend» a linha de Fátima Lopes era um mix de prêt-à-porter e alta costura, com sedas, rendas e peles com acabamentos de pérolas bordadas à mão. A acompanhar a linha de vestuário esteve uma colecção de alta joalharia em ouro, platina e diamantes onde se destacou uma jóia de cabelo (Cleópatra, versão Fátima Lopes) com 110 diamantes, usada por Marisa Cruz no encerramento do desfile e do segundo dia do ModaLisboa. O último dia de desfiles iniciou-se no espaço LAB com Lidja Kolovrat, a estilista da Bósnia que se estreou na 18º edição do Moda Lisboa e que voltou a marcar presença com uma colecção experimental denominada Rich and Kind onde as cortinas funcionavam como vestidos e os vestidos como cortinas. Anabela Baldaque foi a senhora que se seguiu, e com uma imagem sóbria fez desfilar tons suaves, bordados e relevos subtis em tecidos tão diversos como a musselina, a seda e os algodões, numa passarela envolta em bolinhas de sabão. Presente no ModaLisboa desde 1998, o estilo sensual e divertido de Katty Xiomara desfilou por entre um “jardim verde” onde predominaram as cores suaves e frescas e os detalhes espirituais e românticos em silhuetas que nos levam desde os drapeados gregos aos kimonos orientais. Pedro Mourão passou em 2000 no Portugal Fashion com a colecção Bruno Belloni e apresenta-se agora como uma nova aposta do ModaLisboa. Com uma silhueta informal trabalhada em algodão, linho e malhas tricotadas onde os acessórios em osso e prata dão o toque final. Dino Alves incendiou a noite. O estilista não pára de surpreender criando imagens religiosas que veste com irreverência. Uma colecção onde se alterna sucessivamente o muito com o pouco entre pano e cor. Folhos, pregas e até mesmo ‘patchwork’ envolvidos em tons de vermelho e cores de fogo em tecidos com aspecto gasto. Uma dualidade entre o religioso e o pagão. Peças sóbrias e geométricas inspiradas nos anos 30 estiveram na origem da colecção de José António Tenente. Algodões naturais, popelines, riscas e xadrez vestiam os manequins com uma paleta clara de tons naturais, beige, areia, camel, branco, rosa claro e azul céu contrastavam com o rosa forte. Um mote: Meninos aprumados, Meninas graciosas. Miguel Vieira encerrou a noite e mais um ModaLisboa. Um tempo infinito de espera que transformou a passarela num verdadeiro jardim de natureza viva. Um Verão com espírito ‘rocker’ dos anos 70, com total liberdade para nos perdermos na irreverência das estrelas da música. Denim, jacquard, linho, sedas bordadas, couros. Uma variedade de materiais para uma gama completa de vestuário e acessórios. Quanto a nós, esperamos que a próxima edição seja pautada por uma INTERACTION mais eficaz