As empresas de moda continuam a tentar vender a ideia de que os modelos de negócio sobre os quais operam são sustentáveis. Desde plataformas de aluguer de vestuário como a Rent the Runway e websites de revenda como o ThredUp e o Everlane, que usam plástico reciclado, as opções são muitas. Porém, até ao momento, havia poucos dados sobre estas abordagens e se estas são efetivamente mais benéficas para o planeta.
Na Finlândia, uma equipa de investigadores quis clarificar este pressuposto com um estudo, publicado na Environmental Research Letters, que veio desmistificar o impacto da revenda, da reciclagem e do aluguer com base nas emissões de gases de efeito de estufa. Segundo a Fast Company, as descobertas foram «perturbadoras» e entre todas as alternativas, o aluguer de vestuário foi o que registou um maior impacto climático, até mesmo do que simplesmente desfazer-se de uma determinada peça. A reciclagem também evidenciou um grande impacto climático, dado que os processos de reciclagem industrial geram muitas emissões.
A principal conclusão do estudo é que a maneira mais sustentável de consumir moda é comprar menos artigos e usá-los o máximo possível. No caso do prolongamento da vida das peças, a revenda deve ser a opção principal, porém, os novos modelos de negócio como a reciclagem e o aluguer, são frequentemente creditados como ecologicamente corretos, mas não são, na prática, tão sustentáveis quanto aquilo que se pensa.
«Não estamos, de forma alguma, a desencorajar as marcas de desenvolver tecnologia de reciclagem», afirma Anna Härri, coautora do artigo e estudante de pós-graduação no departamento de ciência da sustentabilidade da LUT University. «Mas é importante perceber que a reciclagem e o aluguer geram significativamente mais emissões do que revender ou simplesmente usar as roupas por mais tempo. Isto deve proporcionar informação sobre como a indústria da moda avalia como ser mais sustentável no futuro», explica.
Abraçar o conceito
No estudo, os investigadores alertam para o facto do termo economia circular ser muito utilizado na indústria de moda, devido a organizações como a Ellen MacArthur Foundation. No entanto, o que acontece é que muitas marcas abusam da expressão para se dizerem sustentáveis sem, na verdade, abraçarem totalmente o conceito.
Na perspetiva dos especialistas e ativistas, a economia circular pode sim ajudar a indústria de moda a ser mais sustentável, mas o problema está no facto de muitas marcas se assumirem como circulares, adotando somente algumas medidas, como materiais reciclados nos produtos que desenvolvem.
A análise surge no sentido de esclarecer afirmações como esta, motivo pelo qual os autores da investigação se focaram em cinco abordagens diferentes para possuir e descartar um par de calças: usá-las e deitá-las fora, usá-las mais tempo do que a média e depois deitá-las fora, vendê-las, reciclá-las ou alugá-las. Para cada um dos cenários foi calculado o potencial de aquecimento global, que se refere aos gases de efeito de estuda emitidos ao longo do ciclo de vida das calças, considerando desde a produção, transporte, lavagem até ao momento em que são descartadas.
As conclusões demonstraram que o aluguer gerou a maior quantidade de emissões devido ao transporte envolvido, por isso, comprar, usar e deitar fora acaba por ser mais sustentável do que o aluguer ou a reciclagem.
Contras do aluguer e da reciclagem
«A reciclagem é uma parte importante de um futuro sustentável. Incentivamos as empresas a continuar a investir nela, mas isso não pode substituir a redução do consumo», alerta Anna Härri, esclarecendo ainda que os benefícios da reciclagem dependem do material a ser reciclado.
Outra das conclusões é que o aluguer de vestuário não é sustentável pelo transporte envolvido para enviar os produtos até aos clientes e ainda o trajeto inverso. «Comprar menos roupas e usá-las repetidamente é realmente o oposto da fast fashion. Para que a indústria de moda se tornar mais sustentável, tanto os consumidores como as marcas precisam se afastar totalmente do conceito de fast fashion», garante Anna Härri.