Más condições de trabalho, distribuição injusta de lucros e padrões de consumo exagerado são alguns dos problemas destacados pelo estudo, que acredita que estas questões podem afetar negativamente a procura por um modelo de negócio circular.
Um número crescente de empresas produz e comercializa artigos como sendo circulares e sustentáveis, mas a análise conjunta do Circle Economy, do European Environmental Bureau (EEB) e do Fair-Trade Advocacy Office revela que os novos modelos de negócios ainda têm questões por responder, já que falta considerar aspetos como a igualdade social.
Deste modo, o relatório desvenda algumas problemáticas nas indústrias têxtil e eletrónica europeias que ajudam os formuladores de políticas e também os líderes empresariais a entender como podem enfrentar os vários desafios da economia no pós-pandemia. Neste sentido, as tendências mostram que a recetividade do mercado, perante os modelos de negócio de vestuário circular está a aumentar
significativamente. No caso da indústria têxtil, espera-se que, em 2023, a procura pelo mercado de revenda quase duplique em relação a 2019. Já o aluguer online de vestuário está a crescer a uma taxa anual de 11%, o que demonstra que estes dois segmentos estão a superar o crescimento do retalho tradicional.
Mesmo assim, o novo estudo aponta também para o facto de os resíduos têxteis terem aumentado de forma abrupta na última década. Exemplo disso são os Países Baixos, que, entre 2012 e 2018, registaram um crescimento de 20% nos resíduos têxteis gerados, e também os EUA, com 27%.
Questões por responder
Tanto na indústria têxtil como na eletrónica, a análise sugere que os atuais modelos circulares de negócio criam efeitos de recuperação no consumo linear adicional. Um inquérito conduzido por uma plataforma de revenda de vestuário de luxo, citada pelo relatório, indica que 32% dos vendedores inscritos no website estavam a vender os respetivos artigos para poder comprar novos.
As formas de trabalho não declarado estão também muito presentes na indústria têxtil, nomeadamente no Bangladesh, onde o sector de vestuário é responsável por 83% do total das exportações do país, enquanto 93% a 98% dos trabalhadores de vestuário não têm cargos de chefia ou estão empregados informalmente.
«Não há dúvida de que precisamos de mais negócios circulares, como reparação, reutilização e produto como um serviço», afirma Jean-Pierre Schweitzer, diretor de políticas para a Economia Circular da EEB, citado pelo just-style.com. «Porém, num mundo onde a desigualdade é crescente, não podemos negligenciar outros aspetos-chave da sustentabilidade, como os direitos humanos e a justiça social. Os legisladores e empresários precisam urgentemente de ligar os pontos nessas temáticas para reduzir a exploração de recursos naturais, bem como de indivíduos e comunidades», explica.
Desafios e recomendações
Sobre os efeitos do coronavírus, Natalia Papu, analista-investigadora da Circle Economy considera que «nos planos para reconstruir melhor o pós-pandemia, os governos e as empresas precisam de enfrentar muitos desafios que vão desde as desigualdades crescentes até ao colapso do clima». «Logo que os problemas sejam resolvidos, a economia circular será uma oportunidade para os decisores fortalecerem a justiça e a imparcialidade para todos», acredita Papu.