O mais recente relatório do Energy Efficiency Watch, coordenado pelo Fórum Europeu para as Fontes de Energia Renovável (EUFORES) e publicado no mês de maio, mostra que Portugal subiu da 21.ª para a 7.ª posição em termos de eficiência energética, um salto que os 1.270 especialistas europeus envolvidos atribuem à evolução positiva na eficiência energética na indústria, nos transportes e nos edifícios.
Segundo a informação publicada pela ADENE – Agência para a Energia, o sucesso de Portugal deve-se, em parte, «aos incentivos apresentados nas metas para a neutralidade carbónica em 2050 que mostram uma maior ambição ao nível das políticas nacionais de eficiência energética».
Numa intervenção no webinar “Financiar e medir a eficiência energética no sector têxtil», promovido pelo BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável no ano passado, João Paulo Calau, coordenador da unidade da indústria na ADENE, fez um retrato da situação portuguesa, onde, no âmbito do regulamento Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE), tinham sido já efetuadas 1.746 auditorias energéticas em 1.254 instalações consumidoras intensivas de energia (superior a 500 toneladas equivalentes de petróleo). Foram realizados 2.800 relatórios de execução e de progresso e havia 727 relatórios finais, indicou João Paulo Calau, adiantando que «destes 727 relatórios de execução de progresso finais, o grau de cumprimento das medidas representa quase 100%, ou seja, as medidas foram preconizadas pelos auditores e validadas pelos operadores, os donos das instalações. É quase a totalidade ou perfeitamente a totalidade e temos uma redução do consumo de energia expectável de 7%, o que é superior aos 4% a 6% que a lei preconiza». Os dados apontavam para investimentos de 420 milhões de euros, com uma economia direta de 131 milhões de euros, uma redução de energia de 177 mil toneladas equivalentes a petróleo e uma redução de gases com efeito de estufa de cerca de 710 mil toneladas de CO2 equivalente, com a recuperação do investimento em medidas de eficiência energética a três anos.
ITV no top 10
De acordo com João Paulo Calau, a têxtil estava no top 10 das indústrias com mais instalações registadas, com 153 instalações, 224 planos de racionalização dos consumos de energia analisados, 422 relatórios de execução e de progresso intermédios e 70 finais. As empresas do sector tinham investido 63 milhões de euros, com uma economia direta de 21 milhões de euros, uma redução de energia de 28 mil toneladas equivalentes a petróleo e uma redução de gases com efeitos de estufa de 115 toneladas de CO2 equivalente, com um retorno do investimento a três anos. Segundo a ADENE, a indústria têxtil está a fazer mais investimentos na recuperação de calor, iluminação eficiente e cogeração, respetivamente, sendo que são igualmente áreas que permitem uma maior economia nas faturas mensais, juntamente com os isolamentos térmicos, onde o investimento é menor mas que, em termos de economia, surge no terceiro lugar, a seguir à iluminação eficiente e antes da cogeração – o primeiro lugar mantém-se com a recuperação de calor.
No mesmo webinar, Eugénia Coelho, técnica de produção sustentável do departamento de tecnologia e engenharia do CITEVE, revelou que em 2018 o consumo de energia do sector têxtil representou 6% do consumo total de energia das indústrias transformadoras em Portugal. «Os custos, dependendo da atividade, variam, mas numa empresa vertical podemos dizer que se situam entre os 15% e os 25% do custo total dos produtos», afirmou. Os custos com o gás natural representaram 49% e a energia elétrica representou 31,8%. «São as duas fontes de energia mais representativas da indústria têxtil», sublinhou Eugénia Coelho.
Apesar da produção da indústria têxtil e vestuário ter vindo a aumentar desde 2009, o consumo de energia não tem registado a mesma tendência de crescimento. «Parece que as nossas empresas têxteis e de vestuário estão a ser mais eficientes, ou seja, estamos a produzir talvez com um valor acrescentado superior face aos anos anteriores e o consumo de energia tem-se mantido constante, não acompanhou o aumento de produção, o que indica que a intensidade energética tem vindo a baixar – o que quer dizer que as nossas empresas de têxteis e de vestuário estão a ser cada vez mais eficientes em termos energéticos», destacou Eugénia Coelho.
Um caminho a percorrer
Não obstante estes avanços, há ainda um longo caminho a percorrer, até porque a eficiência energética tem um papel importante no combate às alterações climáticas, salienta o primeiro roadmap para a neutralidade carbónica em 2050 lançado pela Agência Internacional de Energia. «O mundo tem um caminho viável para construir um sector de energia global com emissões líquidas zero em 2050, mas é exigente e requer uma transformação sem precedentes de como a energia é produzida, transportada e usada globalmente», refere o documento.
A aposta na inovação e no desenvolvimento de novas soluções, investimento em energias mais sustentáveis, como a energia solar, uma redução drástica na utilização de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, e a utilização de tecnologias de captação de carbono ou hidrogénio nas unidades industriais são alguns dos passos apontados no roteiro. «O nosso roteiro mostra as ações prioritárias que são necessárias hoje em dia para garantir que a oportunidade zero emissões líquidas de carbono – exigente mas ainda viável – não seja perdida. A escala e a velocidade dos esforços exigidos por este objetivo crítico e formidável tornam este talvez o maior desafio que a humanidade já enfrentou», sustenta Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, acrescentando ainda que «a transição para uma energia limpa é sobre pessoas e para pessoas».