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Fábrica da H&M na Índia readmite centenas de trabalhadores

Durante o pico da pandemia, no ano passado, mais de 1.200 trabalhadores indianos da indústria de vestuário foram demitidos por um fornecedor da H&M do sul da Índia. A luta dos sindicatos saiu vitoriosa e fez com que os colaboradores voltassem a ser contratados.

[©Pixabay]

A produtora de vestuário Gokaldas Exports Limited concordou em readmitir 1.257 trabalhadores, a maioria mulheres, que foram dispensados em junho de 2020, na sequência do encerramento de uma fábrica situada perto de Mysuru, no estado de Karnataka.

Quem o diz são dois sindicatos indianos e a federação global IndustriALL, já que as organizações revelaram ter assinado, este mês, um acordo com a empresa, que não foi todavia revelado. O tratado permite também que a Garment and Textile Workers Union (GATWU) possa negociar com qualquer fábrica, onde pelo menos 20% dos trabalhadores sejam membros.

Até ao momento, a Gokaldas, que se afirma como a maior produtora e exportadora de vestuário da Índia e responsável pela contratação de mais de 25 mil pessoas em 20 fábricas, não se pronunciou sobre o acordo, noticia a Reuters.

A retalhista sueca H&M, a maior compradora da Gokaldas, refere que «foi positivo ter chegado, finalmente, a um acordo» sem, no entanto, desvendar mais detalhes.

Jayaram K Ramaiah, assessor jurídico da GATWU, sediada em Bangalore, considera que o acordo poderá servir como exemplo para outras fábricas. «Esta não é uma vitória qualquer para os trabalhadores, é histórica. Queremos ir para lá desta vitória e criar uma fábrica modelo e um ambiente sem assédio para todos os trabalhadores», afiança Ramaiah, que além de elogiar os trabalhadores pelos protestos durante várias semanas, também frisou que «isto será apenas o começo».

Segundo os sindicatos indianos envolvidos no acordo, os trabalhadores demitidos terão de ser recontratados para outras fábricas da Gokaldas até agosto.

A indústria de vestuário da Índia, que emprega pelo menos 12 milhões de pessoas, tem sido alvo de críticas no âmbito de abusos nos direitos laborais, uma situação que, os defensores temem que possa ser agravada com a maior pressão desencadeada  pela pandemia nos fornecedores, abrindo espaço para uma maior exploração no mundo do trabalho.

Crise como desculpa

A IndustriALL salienta o facto da fábrica de Gokaldas em questão ter sido a única, entre as mais de 20 unidades a estar sindicalizada. A produtora de vestuário defende que os cancelamentos dos pedidos da H&M foram a principal razão que fez com a fábrica fechasse portas, mas a retalhista sueca nega a alegação e assegura que pagou por todos os produtos conforme estipulado.

[©Gokaldas Exports]
Em vários países produtores de vestuário, como a Índia, Camboja e Mianmar, os ativistas acreditam que os empresários se aproveitaram das consequências económicas da pandemia para se desculpar e demitir membros do sindicado, mantendo também trabalhadores não sindicalizados.

Em resposta a questões alusivas à fábrica de Gokaldas, uma porta-voz da H&M avança que a retalhista vai continuar a fortalecer a liberdade de associação na cadeia de aprovisionamento. «Reconhecemos que há uma necessidade ininterrupta de abordar essas questões», acrescenta.

Centenas de trabalhadores protestaram na fábrica durante cerca de 50 dias após os despedimentos e continuam a fazê-lo mesmo com as ameaças dos patrões, adiantam os três sindicatos.

Um dos trabalhadores da fábrica e membro do GATWU, Padma, descreveu os protestos como «muito duros» e «os mais difíceis» em que já participou. «Mas agora que o nosso sindicato está a ser reconhecido, espero que quaisquer questões futuras sejam resolvidas mais rapidamente e através de conversas. Não deveria ser necessário um protesto tão longo», conclui a viúva com dois filhos, que não quis desvendar a identidade para além de um nome.