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Fibra anti-terrorista

A procura infatigável de produtos inovadores para segurança na era do terrorismo global tem dirigido febrilmente as capacidades dos principais produtores de fibras para produtos novos assim como para aplicações de têxteis técnicos há muito existentes. Esta tendência esteve claramente patente na edição da Techtextil North America do ano transacto, e tem ainda incrementado desde então.

Desde vestuário à prova de bala e resistente ao fogo até novos materiais para a construção civil que ofereçam protecção contra a detonação de bombas, estas inovações estão a preencher necessidades num mundo em crescente agitação. Muitas empresas têm beneficiado de centenas de milhões de dólares atribuídos pelo governo americano para a investigação na segurança da pátria. Muitos dos recentes desenvolvimentos são o resultado de colaborações entre empresas representando uma variedade de indústrias. Em especial, uma multiplicidade de poliésteres de alta tenacidade tem encontrado vastas aplicações na indústria de segurança.

Três dos principais fabricantes de fibras mergulharam na blindagem e em vários outros materiais resistentes a balas, procurando incrementar a sua capacidade e revendo planos para maiores expansões subsequentes. A procura de produtos de Kevlar, Spectra e Dyneema, a nova fibra fabricada nos EUA, é contínua e continuada.

Em Maio último, o produtor holandês de Dyneema DSM inaugurou a sua primeira linha de produção na Carolina do Norte, EUA. A fábrica, que emprega cerca de 300 pessoas, atacou a produção para responder à procura crescente de fibras de polietileno de alta performance na América do Norte. Esta fábrica produz quer fibra quer material unidireccional à prova de bala.

A linha de produção de DSM apresenta uma capacidade anual de 600 a 750 toneladas, dependendo da mistura do produto, e desde o seu início em 2005 a empresa já efectuou dois aumentos suplementares da sua capacidade. O director de marketing global para a Dyneema, Frank Schaap afirma que «o mercado para os produtos com Dyneema fabricados nos EUA está em pleno boom e a procura é usualmente superior à oferta, em espacial nos aplicações relacionadas com a protecção da vida. Estamos comprometidos com o acompanhamento desta procura e continuamos a investir em capacidades adicionais».

Igualmente, a DuPont está a investir 70 milhões de dólares para fomentar a produção da sua paramida Kevlar utilizada em vestuário de protecção. A expansão permitirá aumentar a capacidade de produção global de Kevlar em mais 10%, e constitui já a quarta desde 2000. «A procura global de Kevlar aumentou Face à maior necessidade mundial de protecção e segurança. Além do mais, estão a ser desenvolvidas novas aplicações que aproveitam a resistência e baixo peso do Kevlar para melhorar a protecção e o desempenho».

Cada capacete de soldado contém, desde a Guerra do Golfo em 1991, Kevlar. A DuPont sustenta que os coletes fabricados com esta fibra já permitiram a cerca de 300 oficiais sobreviver a ferimentos muito graves ou potencialmente fatais.

Quanto à Honeywell, tem vindo a gastar mais de 20 milhões de euros no aumento da produção da sua fibra de poletileno de alto peso molecular, Spectra, na sua fábrica da Virgínia, EUA, e cogita já novos incrementos de capacidade (entretanto a Honeywell vendeu as suas fibras de poliéster de alta tenacidade à Sun Capital Partners).

Bob McKinnon, responsável do grupo de investigação da McKinnon-Land-Moran, que adquiriu a marca de fibras Basofil e a unidade de produção na Carolina do Norte à Basf em 2002, adianta que as aplicações em segurança têm fomentado o negocia da Basofil. A fibra tem sido amplamente utilizada mercê as suas propriedades anti-fogo.

Outra empresa envolvida na área da resistência à chama é a Zoltek, através da sua marca Pyron de fibras de poliacrilonitrilo oxidadas (OPF). Segundo o director de marketing James Betts, a fibra, produzida desde 1970, tem conquistado uma popularidade crescente no vestuário de protecção. A empresa tem vindo a trabalhar em estreita colaboração com a indústria de automóveis de competição para desenvolver fatos com maior protecção. Os testes efectuados neste domínio demonstraram que o Pyron apresenta uma performance superior às fibras tradicionalmente usadas, incluindo o Nomex.

Não constitui surpresa que um dos últimos avanços no domínio da protecção e segurança tenha vindo da Escola Têxtil da Universidade Estadual da Carolina do Norte, a maior escola têxtil do mundo. No passado mês de Agosto, os investigadores lançaram um protótipo de uma nova geração de fatos de combate ao fogo que oferece maior protecção contra a chama e agentes químicos e biológicos (na foto). Roger Barker, responsável do Centro de Conforto e Protecção Têxtil desta instituição, declara que «o protótipo não parece especialmente diferente de outros fatos de combate ao fogo mas tem a particularidade de incorporar um novo forro térmico em não-tecido à base de uma nova tecnologia de fibras que confere melhor protecção contra o calor».

A DuPont desempenhou um papel fundamental neste novo desenvolvimento. Para além do uso do seu Kevlar, a DuPont desenvolveu também uma membrana respirável que oferece protecção química e biológica. Um processo de transporte selectivo (difusão de água ao longo de uma membrana permeável selectivamente) permite libertar o suor e o calor do corpo, mantendo o bombeiro permanentemente fresco. Simultaneamente, a membrana evita a entrada de substâncias nocivas. Para Roger Barker, este fato representa um avanço considerável naquilo que existia até ao momento. «O nosso fato coloca a protecção num nível completamente novo», sublinha.

Outro desenvolvimento recente envolve a Tecnologia Anti-Microbana Fosshield, desenvolvida pela americana Foss Manufacturing, especialista em fibras sintéticas e não-tecidos espaciais. Esta tecnologia é integrada em tecidos fabricados para a Nasa, que testou recentemente com sucesso o vestuário resultante numa missão de mergulho em alto mar com vista à preparação de uma missão espacial sob condições extremas. De acordo com a Nasa, este vestuário conferiu protecção efectiva contra bactérias, fungos e míldio durante a operação. «Saber que esta tecnologia anti-microbiana natural pode ser tão efectiva no espaço com já o é na Terra estende adicionalmente a sua quase ilimitada gama de aplicações», afirma o presidente da empresa Stephen Foss.

Num outro caso de cooperação, a Teijin Twaron, a Sherwin-Williams, a B&H Coatings e a TechFab uniram esforços para desenvolver uma tecnologia de construção, em registo de patente, que esperam venha a contribuir para uma maior eficácia e redução de custos em estruturas resistentes a detonações. A tecnologia envolve o uso de painéis de poliureia reforçados que alongam e estiram, actuando como uma rede de segurança para conter a pressão da detonação e a projecção de fragmentos. «Esperamos que esta estrutura seja de grande utilidade em embaixadas, instalações militares, fábricas nucleares – qualquer lugar susceptível a um ataque terrorista».