A crise financeira está a bloquear os canais tradicionais de financiamento comercial, sufocando os fluxos monetários e as relações comerciais na indústria têxtil e vestuário. Trata-se de um problema que não é unilateral, afectando retalhistas e fornecedores que, cada vez mais, procuram verificar a saúde financeira uns dos outros. Os fabricantes chineses de vestuário afirmaram que alguns clientes já não conseguem fornecer cartas de crédito (LC) para garantir os pagamentos, obrigando-os a pedir pagamentos avultados. Para a Europa Oriental, o pagamento com LC não é bom. é difícil obter cartas de crédito», revelou Luo Bin Hu da Zhejiang Tianma Textile Company. Anteriormente, os bancos confiavam em toda a gente. Agora não confiam em ninguém». A apertada liquidez nos mercados financeiros está a tornar as LCs mais caras. Um inquérito, recentemente realizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), concluiu que 70% dos bancos aumentaram os custos associados com as LCs à medida que os spreads cresceram. Entretanto, os bancos chineses tornaram-se mais relutantes em aceitar LCs de determinados países. O JP Morgan revelou que tem assistido a um forte aumento na procura de confirmações de LCs. Os exportadores estão a exigir, cada vez mais, que as cartas de crédito recebidas sejam confirmadas antes da expedição das mercadorias», afirmou Lee Yung Sheng, responsável do banco para as vendas de comércio financeiro no Norte da ásia. Opções às cartas de crédito As alternativas para as LCs são limitadas. Hu referiu que pede pré-pagamentos a 50% aos seus clientes na Rússia e na Ucrânia. Mas o pré-pagamento também acarreta riscos. O produtor de fatos Shandong Ruyi expediu uma encomenda para uma pequena empresa britânica, depois de receber uma tranche do pagamento do cliente, mas o cliente não conseguiu pagar o resto, segundo o gerente geral Ben Zhuang. Outros produtores de vestuário tiveram encomendas canceladas, após terminarem a produção das mesmas. Situações como estas estão a originar que mesmo os grandes produtores com clientes, à partida de confiança, intensifiquem as devidas diligências. Verificamos sempre os clientes, o preço das acções, as vendas e o desempenho», sublinhou Edward Kang, director-executivo do produtor de têxteis e vestuário Ever-Glory. Mas agora precisamos de estar ainda mais atentos». Kang parou recentemente de negociar com um cliente, após as receitas deste caírem sem que o número de fornecedores também decrescesse. A Kroll, empresa de consultoria de risco, está a registar um aumento nos negócios com empresas chinesas que querem verificar a saúde financeira dos seus clientes. Mas a consultora está a angariar ainda mais interessados do lado dos compradores, preocupados com os fornecedores chineses que têm problemas de tesouraria e ficam, assim, incapazes de concluir uma encomenda. As empresas estão sob pressão para colocar produtos nas prateleiras. Querem saber se os fornecedores conseguem cumprir as suas obrigações contratuais. E se não, quem será o seu substituto», sustentou Violet Ho, directora-executiva da Kroll na China. Na segunda parte deste artigo, continuamos a analisar os efeitos da crise de crédito na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário.