Impressão 3D
O processo de impressão em 3D tem importantes repercussões no plano do design e inicia, agora, uma fase particularmente focada na temática da cor. Os designers exploram a possibilidade de replicar a cor através de impressões 3D, fomentando o potencial desenvolvimento de uma maior vitalidade e precisão. A obra Identity Parade do designer londrino Adam Nathaniel Furman conjuga formas complexas, padrões e cores, explorando o rigor oferecido pelo design digital. O seu trabalho reflete as tendências da cerâmica rococó do século XVIII, explorando, na sua totalidade, o potencial da tecnologia atual. A linha de calçado de Francis Bitonti é regulada através de um algoritmo, pelo que cada modelo é único, estando disponíveis em vários gradientes de cor. De forma similar, a empresa The Laser Girls recorre à impressão 3D para criação de unhas postiças, complementadas por diferentes cores, texturas e padrões, impossíveis de alcançar com os vernizes tradicionais. Por sua vez, The Sugar Lab desenvolve criações 3D comestíveis, com uma gama intrincada de cores e padrões, incluindo decorações de bolos de casamento e doces.
Paleta amorfa
À medida que o aperfeiçoamento da tecnologia permite uma maior precisão, emerge um contramovimento que apela à criação de produtos nos quais a cor não é deliberadamente controlada, sendo amorfa e única. A obra The Waterballet do artista holandês Kamiel Rongen ilustra esse novo paradigma, utilizando técnicas clássicas, assim como a física e a gravidade, para criar paisagens coloridas a partir de tinta e água num aquário de vidro. As taças Spun Jesmonite do Silo Studio integram este conceito nas suas técnicas de fabrico. O estúdio de design sueco Tomorrow Machine explora novos materiais à base de celulose, cujos resultados se traduzem em redemoinhos amorfos de cor nas suas taças, dotadas de material repelente de água e mecanismos de autolimpeza. As joias de Maud Traon transpõem este conceito para a sua própria estética de luxo, combinando brilho e materiais iridescentes com cores em formatos de inspiração vulcânica.
A linguagem da cor
Com a chegada dos smartwatches ao mercado, o design de experiência do utilizador tem agora de trabalhar a uma escala mais pequena, e a cor deve ser considerada de forma inovadora. Em simultâneo, as tabaqueiras enfrentam a perspetiva de embalagens sem marca, cujo design passa então a ser mais restritivo, cingindo-se exclusivamente à cor como elemento identificativo. Em resposta a estes novos parâmetros, os designers estão a investigar formas de reduzir os símbolos a cores. A obra Colour Nativity de Sebastian Bergne ilustra este conceito, transmitindo uma cena figurativa quase inteiramente através de cores. De forma semelhante, o interface da Google minimiza a utilização da cor ao ponto da quase abstração. O conceito da empresa Snohetta aplicado às notas bancárias implica a destilação de cores, inspiradas nas paisagens norueguesas, utilizando a paleta para codificar um design que é complexo e não copiável. Despoletada pelo referendo da Escócia em 2014, emerge a discussão sobre a configuração da bandeira britânica, sustentada particularmente pela questão das cores e a sua significância no contexto da identidade.
Biologia sintética
Num âmbito contrário ao da crescente tendência de digitalização, avanços recentes na biologia sintética começam a ganhar forma. A designer Alexandra Daisy Ginsberg está na vanguarda deste movimento, cujo projeto Designing For The Sixth Extinction prevê o desenvolvimento de máquinas biológicas que suprimem as falhas do nosso ecossistema. Kathryn Fleming explora, também, este conceito em Endless Forms Endless Species. As criaturas por ela criadas são dotadas de uma cor que desempenha uma função essencial no âmbito do seu ambiente. O Rhizosphere Pigment Lab de Natsai Andrey Chieza utiliza uma bactéria produtora de pigmentos, proveniente de plantas, na criação de cor em pano de seda, concebendo tonalidades e padrões únicos no tecido. Os pigmentos foram consequentemente convertidos numa tinta imprimível para têxteis. O inventor Daan Roosegaarde colaborou com a empresa de biotecnologia BioGlow no desenvolvimento do produto Frontiers, que combina bioluminescência, encontrada em alforrecas e cogumelos, numa tentativa de reduzir a necessidade de energia do nosso ambiente construído.
Preto mais preto
A Vantablack surge como uma nova cor, desenvolvida pela empresa Surrey NanoSystems, utilizando grafenos na criação de um material que absorve 99,956% da luz visível, com potenciais aplicações na exploração espacial e tecnologia telescópica. A cor preta será, também, utilizada pelo seu interesse estético e irá estimular a utilização da cor no mercado, tendo já sido adotado pelo escultor Anish Kapoor. Quintus Kropholler utiliza asfalto e eleva as suas potencialidades, explorando a sua cor lustrosa como complemento de materiais simples. Marlene Huissoud usa própolis recolhido das colmeias, considerado um desperdício, atribuindo propriedades semelhantes às do vidro a novos materiais. A cor do própolis depende da fonte de alimento das abelhas; a cor preta utilizada é resultante das árvores-da-borracha. Annemiek van der Beek desenvolveu uma marca de maquilhagem destinada ao género masculino, na qual retrata a versatilidade da cor preta num novo contexto de mercado. Na segunda parte deste artigo serão abordadas algumas das potencialidades da cor, aliadas a mecanismos de vanguarda tecnológica, que permitem a replicação da luz natural, a ilusão de cor através da projeção, a sua aplicabilidade na emergência das tecnologias wearable e na criação de experiências multissensoriais imersivas, assim como em objetos do quotidiano, como lâmpadas e automóveis.