Modint
A Modint (a mais representativa associação da ITV holandesa, com mais de 800 membros) convidou a imprensa internacional para realizar uma reportagem, permitindo ao Jornal Têxtil (JT) não só actualizar a que foi feita em 2004 como complementá-la, acrescentando agora a algumas das maiores empresas, a Amsterdam FashionWeek, as principais feiras do país e a nova estratégia do principal Department-store holandês. As dificuldades conjunturais não desvirtuaram o conhecido modelo da aposta na marca, no design e no outsourcing: «o nosso modelo de tradding continua o mesmo, pois tem sido um modelo vencedor. A questão é, em cada momento, decidir onde produzir e para onde podemos exportar» adianta Han Bekke, director-geral da associação, ao JT.
«As exportações de vestuário recuperaram ligeiramente em 2004 (mais 6%), o pior ano foi 2003, e já se notou uma ligeira recuperação nos nossos principais mercados, sobretudo nos últimos meses e no nosso mercado principal, o alemão, embora estejamos a exportar menos para o vosso país e para Espanha. Estamos agora a exportar mais para os países nórdicos e a encontrar boas oportunidades em novos mercados como a Rússia, a Polónia e a Islândia. E estamos a investir nos Centros Comerciais do médio Oriente, sobretudo no Dubai. Mas o nosso principal problema tem sido a descida das vendas no mercado interno (menos 3%), que se tem tornado muito competitivo. Os retalhistas tem apostado na política da guerra de preços, com períodos de saldos muito alargados e com esmagamento das margens e redução de lucros para todos, e onde os retalhistas internacionais se estão a dar muito bem, como a Zara, a H&M ou a C&A», refere Han Bekke. O governo decidiu abandonar a legislação que tinha sobre a época de saldos, para tentar estimular a economia, e agora pode-se estar em saldos o ano todo, o que alguns retalhistas de facto praticam.
Para encontrar os seus clientes e mercados, as empresas holandesas estão presentes em feiras como a Bread&Butter e CPD, a Pure, a Prêt-à-Porter e a Pitti. As feiras holandesas viram o seu número de visitantes aumentar significativamente, confirmando a favorável conjuntura deste segmento a nível internacional.
«Ao contrário do que a maioria dos estrangeiros pensam, a Holanda exporta mais vestuário do que queijo ou leite, dada a nossa aposta no design e na moda, o que nos defende competitivamente em relação à tão falada China. Eles tem uma capacidade de trabalho incrível, eu estive lá, e vi que algumas das empresa trabalham com desigin europeu, em particular com o italiano – não sei se copiado se com designers italianos a trabalhar nas empresas para produzir marcas italianas, mas nesta área penso que não devemos temer. Não se vêem os chineses a criar, mesmo com esta colaboração. A Europa vai ficar com o design, com a imagem e com a marca, e eles com a produção, mas para já vai ser esse o modelo pois embora já tentem apostar na criatividade e tenham a sua Fashion week, ainda não têm definitivamente design de referencia» acrescenta o director-geral.
Mexx
A Mexx já está a trabalhar em pleno no seu novo Design Center, pólo de toda a actividade criativa da marca (confirmaram que a criatividade está sedeada na Europa, mesmo quando os seus designers fazem temporadas no Oriente), com mais de 400 pessoas, e até de outras marcas do grupo (a Mexx foi comprada em 2001 pela americana Liz Claiborne, detentora de 36 marcas, e estão a estudar a compra de mais duas). «Temos 70 designers que aqui trabalham, e as decisão de design são tomadas na casa mãe europeia, incluindo algumas soluções para a Liz Claiborne», adianta Alphons Schonten, vice-presidente da Mexx Europe, ao Jornal Têxtil. O ciclo de produção desenrola-se da seguinte forma: há uma reunião dos designers para imaginar o artigo, e depois passa para a equipa de desenvolvimento do produto, que depois discute materiais, preços e prazos de entrega (demoram em media oito semanas a entregar uma peça). A primeira fase tem duas particularidades: «reunimos cada equipa de designers em cada segmento para que a colecção tenha uma coerência e para que uma pessoa que esteja na loja possa vestir-se completamente na mesma loja. E tentamos conceber as colecções o mais uniformemente possível para os vários mercados, mas sabemos que os países do Sul são mais fashion e mais femininos, e os do norte da Europa são mais casual e desportivos». A empresa está a criar agora colecção Primavera/Verão de 2006 e a vender Outono/Inverno de 2005.
Em termos de produção, «está a passar da Europa para a China (de onde demoram 8 semanas a entregar os artigos) e para a Índia», reservando para Portugal a compra das T-shirts e dos pedidos de estampados. Realçam também que os principais tecidos «são comprados em Itália». «O denim é comprado 50% na Europa e o resto na Ásia, que já é actualmente um mercado relativamente mais competitivo e caro que há uns anos atrás», acrescenta o vice-presidente. A estratégia de retalho envolve actualmente 30 mil pontos de venda, sendo certo que vão aumentar o número e lojas na Europa, sobretudo a Leste, mas também «vamos abrir uma loja neste ano em Palermo, Itália, e uma segunda nesse país no ano que vem. Na Península Ibérica estamos em vários pontos do El Corte Inglês em Espanha e em Portugal estamos no de Lisboa, e vamos estar no do Porto, quando estiver pronto. Não estamos a pensar estar presentes na Península Ibérica com lojas próprias para já». «As vendas estão a correr bem, o El Corte Inglês gere bem as marcas…» complementa Alphons Schonten. Já no maior mercado europeu «é difícil de entrar, os alemães compram sobretudo as marcas deles e tem uma grande resistência ao conceito de outlets. Mas neste momento um mercado que consideramos muito interessante é o russo». Um dos maiores investimentos da empresa é a comunicação, tendo sido carismática a campanha que apresentava o beijo dos príncipes no dia do casamento, cuja foto (tirada pela empresa) se podia encontrar em toda a cidade. Hoje a campanha do beijo continua, com um casal a beijar-se nas principais cidades europeias.
A ultima grande novidade da empresa consiste no In Store Observation System, um sistema desenvolvido em parceria com a Sony e que permite ver o que se passa em cada loja em real-time, para avaliar o comportamento do consumidor. «O objectivo é ter alguém a fazer este trabalho 24 hora por dia; para já só está pronto na loja da Antuérpia…», adianta Schonten.
A Mexx apresentou 634,4 milhões de euros de volume de vendas em 2003 mais 17% do que no ano anterior (não divulgam os resultados de 2004), levando o seu vice-presidente a referir ao JT que «Não vejo nenhuma crise na Europa; os nossos resultados foram os mellhores dos ultimos anos, como vemos a acontecer aos dos maiores retalhistas como os da Inditex ou da H&M».
De Bijenkorf
De Bijenkorf é o maior e o mais conhecido department-store holandês, situando-se num dos edifícios mais carismáticos da baixa da capital (com 130 anos), que acaba de ser interiormente reestruturado para aumentar a área de retalho, com os escritórios a migrarem para fora da cidade ficando apenas a gerência, numa clara resposta à conjuntura desfavorável. «Ao contrário do que se possa pensar, o nosso mercado não depende muito do turismo, o seu consumo aqui é residual; depende mais dos holandeses. Os grandes armazéns que se posicionam no segmento médio têm tido grandes problemas, e como tal estamos a tentar situar-nos a um nível mais alto. Neste momento como competidor directo temos o Peek & Cloppenburg, mas está um pouco mais abaixo neste subsector», salienta Jochen Runkel, director-geral do De Bijenkorf, ao Jornal Textil.
A rede de retalho é constituída por 3 flagships de 20 mil m2, este em Amesterdão, um em Hage e um em Roterdão, uma medium store de 3mil m2 em Maastricht e 3 fashion stores só com roupa, acessórios e sapatos. Têm 8 marcas próprias, e Jochen Runkel nota que «nas vendas tudo o que tem tido mais componente moda quadruplicou as vendas, sobretudo das marcas europeias internacionais; queremos investir mais em artigos da Armani, da Gsus ou da Burberry, por exemplo, queremos mais qualidade. Estamos apostar agora numa zona de moda com a apresentação sempre flexível para a alterarmos sempre que seja necessário. Como nem toda a gente gosta de fazer compras no meio de muitas marcas, temos uma zona privilegiada com música, com café e bolinhos e livros nas zonas das principais marcas, como a da Boss ou da Armani, onde temos um alfaiate pronto a tender o cliente diariamente». Quase todas as áreas se renovam constantemente nesta resposta do retalhista ao mercado. «Temos apostado mais na linha de lingerie, um segmento que se está a vender bem, com o triplo da área que lhe dedicamos, e com peças para um segmento mais jovem, e peças também mais sexys. Também devemos compreender que algumas só seriam possível vender na cidade onde vivemos. Também apostamos agora mais na área dos têxteis-lar, recentemente renovada, e também estamos a remodelar a área de jovem no último andar, criando-lhe um ambiente especial com consolas de jogos e música. Toda a estrutura de painéis e expositores do edifico são muito flexíveis para irmos mudando a apresentação e decoração», acrescenta o director-geral.
«Estamos a investir no atendimento, e um melhor tratamento aos clientes com cartões nossos, pois são responsáveis por 30% das nossas vendas. Mas uma das principais alterações estratégicas é a mudança da política da formação interna: antigamente formávamos generalistas, agora cada um é especialista numa área», complementa Jochen Runkel. Em relação à política de Saldos, apenas os fazem no período normal, desde do período que antecede o Natal até Fevereiro, e abrem aos Domingos à tarde – pagam mais 50% por isso, mas o Governo vai abandonar esta obrigatoriedade. Este department-store tem agora uma participação financeira americana, cuja política de comunicação dita a não divulgação dos seus resultados, mas o director geral diz-se satisfeito com os mesmos.