Sem férias e confinados a casa, os consumidores deixaram para segundo plano a compra de vestuário. As vendas caíram 34% em março.
«Ninguém quer comprar roupa para ficar sentado em casa», afirmou o diretor executivo da Next, Simon Wolfson, no mês passado. «Isto levou a uma crise existencial real para a indústria da moda», reconhece Imran Amed, fundador e presidente-executivo do website The Business of Fashion, que produziu um relatório sobre o impacto do surto de Covid-19.
«Esta indústria ainda é quase dependente do comércio físico. Mais de 80% das transações na indústria da moda ainda acontecem em lojas físicas», explica, citado pela BBC News.

«A grande maioria dos consumidores não está atualmente interessada em comprar roupa. O foco está na compra de bens essenciais para sobreviver durante o confinamento», acrescenta.
Com a quebra registada nas vendas, a grande questão agora é como escoar a mercadoria acumulada em lojas e armazéns. Até porque, como observou o The Economist, muitos dos produtos de moda não saem da loja, mas saem de moda.
Muitas retalhistas têm optado por vender a preço de saldo, com clara redução das margens. A Gap e a H&M, por exemplo, estão a fazer promoções no meio da estação. Já a Uniglo tenta promover os artigos que têm mais procura nesta altura, como roupa confortável e de corrida. A Browns, em Londres, registou um aumento de 70% no loungewear.
Imran Amed prevê mesmo que muitas cadeias de moda ofereçam promoções com o passar do tempo. Já sobre o calendário de moda e as coleções sazonais, Amed relembra que existem dois hemisférios no mundo: «quando é verão numa parte, é inverno noutra». Logo, acredita, «que existem maneiras criativas de redistribuir essas coleções».
Sobre os designers que esperam utilizar em 2020, a coleção de 2020, Amed admite que «essa solução funcione para todas as marcas, mas penso que superar esta situação exigirá uma criatividade real».

Outro dos impactos da quebra nas vendas é a suspensão da publicidade. A aposta tem sido continuar a apostar nos influenciadores de media para promover produtos.
Emily Canham, que tem mais de 700 mil seguidores no Instagram, promove regularmente serviços e produtos, incluindo alimentos saudáveis, maquilhagem, serviços de streaming, férias e roupas.
A influenciadora digital assegura que «os meus seguidores usam o que os faz sentir ótimos e poderosos, em vez de aderirem às tendências sazonais tradicionais. É sobre como se usa e não em que estação é usada».
De resto, não é ainda claro se as semanas de moda, de Londres, Paris, Nova Iorque e Milão, que habitualmente decorrem em setembro, se irão realizar nos moldes tradicionais, ou se, pelo contrário, iremos assistir a desfiles de moda on-line, caso se mantenham as medidas de distanciamento.
Por exemplo, a MET Gala de maio, um evento incontornável do calendário de moda, já está a decorrer virtualmente, com Billy Porter a incentivar as pessoas a recriarem o seu tapete vermelho favorito.