Início Arquivo

Indústria Têxtil vital para o Sri Lanka

Uma lágrima da Índia – eis como Rudyard Kipling descreveu o Sri Lanka, ou Ceilão, como era chamado na sua época. Esta verdejante ilha tornou-se independente do Reino Unido em 1948, e nessa altura o novo estado de 20 milhões de habitantes era descrito pelo Banco Mundial como um dos mais promissores da Ásia. Infelizmente, embora continue a ser incrivelmente bonito, o Sri Lanka mantém-se entre os países mais pobres do mundo. Um dos factores que tem impedido esta nação de concretizar todo o seu potencial é a prolongada guerra civil, entre o governo e os separatistas Tamil, um conflito que devasta este país há mais de 20 anos. Estes últimos 20 anos não têm sido fáceis para o Sri Lanka, mas ainda assim a vida tem prosseguido neste país, e a indústria do vestuário tem-se mantido activa, e até prosperado, com taxas de crescimento superiores a 16% por ano nas últimas duas décadas. Aliás, esta indústria tem-se assumido como o verdadeiro motor da economia do Sri Lanka, assegurando mais de 300.000 postos de trabalho (30% dos empregos do sector da manufacturação) e quase metade do total de exportações, isto apesar do estado ser constantemente obrigado a desviar fundos e recursos para financiar o conflito armado, em vez de investir nas infraestruturas, educação, saúde e outras áreas vitais numa economia emergente. À parte o conflito, a macroeconomia desta ilha é bastante sólida, apresentando uma taxa de crescimento anual média de 5,3% nos últimos cinco anos, a par de uma taxa de desemprego inferior a 9% e taxas de inflação estáveis. As políticas sociais da maior parte dos governos pós-independência proporcionaram ao Sri Lanka um elevado nível de literacia (95% nos homens e 90% nas mulheres), comparável à de muitos países ocidentais desenvolvidos, bem como níveis de saúde pública invejáveis para a maioria dos países do Terceiro Mundo. Sendo o Inglês falado de forma corrente, e uma impressionante paixão pelo cricket, o Sri Lanka mantém fortes laços com o Reino Unido, de que é um bom exemplo o facto das suas exportações de vestuário para a União Europeia serem quase em exclusivo para este país. Antes da independência, a economia do Sri Lanka centrava-se principalmente na agricultura, em especial de chá e borracha. Actualmente, apesar da actividade agrícola continuar a ser importante, a economia do país tornou-se mais diversificada. A indústria do vestuário arrancou realmente neste país nos meados dos anos 70, quando a sua economia foi liberalizada e orientada para indústrias viradas para a exportação, crescendo então muito graças ao sistema de quotas e à mão-de-obra extremamente barata. As referidas quotas permitiram aos fabricantes de vestuário concentrar-se no aperfeiçoamento das suas capacidades de produção, ao mesmo tempo que fortaleciam as relações com os seus clientes. Esta indústria começou então a fabricar artigos de vestuário para determinados mercados, como por exemplo as cadeias de lojas discount, embora hoje em dia conte com clientes noutros segmentos de mercado, nomeadamente diversas cadeias e marcas de renome internacional, que são exemplos a norte-americana JC Penney e a britânica Marks & Spencer. Assim, o Sri Lanka evoluiu rapidamente de um estádio de simples sub-contratação da produção, passando a contar com fábricas e filiais de alguns dos principais fabricantes e marcas mundiais de vestuário. As joint ventures, como a que foi criada entre a Courtaulds Lanka e a MAS tornaram-se comuns. À semelhança de outras indústrias, o sector do vestuário no Sri Lanka tem vindo a consolidar-se, tendo, em 2001, 12% dos exportadores do país gerado 72% do total das exportações nacionais, neste sector. Entretanto, estas empresas viram-se agora para mercados mais exigentes, preocupando-se em assegurar serviços de valor acrescentado, muito valorizados pelo cliente final. Desde a criação inicial dos tecidos e design, até à entrega do produto final, estas empresas estão a reforçar as suas competências, no sentido de oferecerem aos clientes a chamada “solução completa”. Após inúmeras tentativas de estabelecer a paz, o actual cessar-fogo e as subsequentes negociações na Tailândia deram ao país um sentimento generalizado de que o fim do conflito estará finalmente à vista. A indústria do vestuário está naturalmente ansiosa que as conversações actualmente em curso conduzam a uma paz duradoura, que traga melhorias para as infraestruturas, para o ambiente dos negócios, para o potencial de investimentos e, naturalmente, para os padrões de vida da população. Tal como muitos outros países, o Sri Lanka está sob uma forte pressão no sentido de implementer um sistema económico atractivo e uma indústria moderna e competitiva, antes da liberalização completa do mercado do vestuário, que acontecerá daqui a menos de dois anos. O governo deste país e os seus principais agentes económicos estão assim conscientes das ameaças que enfrentam, e adoptaram já uma estratégia comum para os próximos cinco anos, para prepararem a indústria em questão, e a própria sociedade, para os desafios do pós-2005. Muitas destas empresas, algumas entre os 25 maiores exportadores do Sri Lanka, estão já a precaver-se, ou prevêm fazê-lo a curto prazo, com serviços integrados e em conformidade com os padrões produtivos e sociais a nível internacional. Ao mesmo tempo, tentam manter os seus preços competitivos e promover as suas principais competências junto dos maiores clientes, apostando em exportações mais equilibradas para os Estados Unidos e a União Europeia e na permanente melhoria dos seus produtos. Todavia é importante realçar que a liberalização do comércio a partir de 2005 irá ter como uma das consequências a eliminação de quotas “artificiais” de mercado, que resultavam da existência de limites quantitativos às importações, impedindo o livre funcionamento do mercado. Deste modo, as previsões apontam para que os países que apresentem uma indústria pouco competitiva sofram com a liberalização, com a Índia e a China a assumirem-se como dois dos potenciais beneficiários da eliminação das quotas. O Sri Lanka poderá ser um dos países que terá dificuldades em manter as quotas de mercado actuais, podendo daí advir algumas dificuldades face à elevada dependência da indústria têxtil e de vestuário (ITV). Refira-se que o Sri Lanka foi em 2002 o vigésimo fornecedor de têxteis e vestuário da U.E., sendo responsável por 1,1% das importações e absorvendo 0,3% das exportações do mercado comunitário. Contudo, o mercado americano é o principal destino das exportações da ITV do Sri Lanka, já que absorve 62,2% das exportações totais deste mercado asiático. Em termos globais, as exportações de têxteis e vestuário do Sri Lanka atingiram cerca de 3 mil milhões de euros em 2000, tendo registado um crescimento de 88,2% entre 1994 e 2000. Por outro lado, os custos salariais têxteis no Sri Lanka representam 10% dos portugueses, com o valor acrescentado a representar 18,5%, segundo a OCDE, enquanto que no vestuário os custos salariais correspondem a 12,9% e o valor acrescentado a 25%.