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ITV argentina sob alta pressão

«A Argentina não está bem». É desta forma que se descreve a situação atual do país sul-americano, cuja recessão de três anos piorou com a chegada da pandemia, com estimativas que apontam para uma contração superior a 10% na economia em 2020.

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A afirmação proferida por Juan Chicote, fabricante de sweaters na cidade de Mar del Plata, perto de Buenos Aires, retrata a situação vivida na Argentina, uma vez que o proprietário da marca Pura Vida considera que a indústria têxtil e vestuário deverá registar uma queda de 60% nas receitas anuais de 2020, dos 10 mil milhões de dólares (8,22 mil milhões de euros) verificados em 2019. O declínio deverá prolongar-se ao longo de uma década, à medida que as exportações caírem e os retalhistas locais enfrentarem concorrência de mercados ultra-baratos como a China. Também o número de postos de trabalho na produção têxtil diminuiu, já que os 700 mil empregos registados em 2019 caíram para metade. «A taxa de desemprego [geral] em Mar del Plata é de 20%. É realmente muito triste», admite Juan Chicote.

Quando a pandemia atingiu a Argentina na primavera, Buenos Aires sofreu uma interrupção de sete meses na economia, o que gerou grandes perdas para os retalhistas e quase paralisou a produção de vestuário. 2020 «foi um ano muito difícil porque estivemos parados muito tempo. Não foi um ano certamente para ganhar dinheiro», reconhece e empresário.

A piorar o cenário vivido no país, houve um aumento dos preços das matérias-primas, juntamente com a subida da inflação e dos custos de combustível, o que fez com que os pequenos produtores de vestuário fechassem portas, apesar dos esforços do governo para apoiar o sector, avança o Sourcing Journal.

De acordo com os observadores, a situação é tão complicada que nem mesmo as recordações ligadas à morte do futebolista Diego Maradona foram capazes de melhorar, a curto prazo, o desempenho dos produtores. «Esperamos uma queda de 60% a 70%. Muitos negócios encerraram e as exportações pararam porque somos pouco competitivos em relação a outros países», indica.

Além disso, o peso argentino regista a maior baixa de todos os tempos em relação ao dólar americano e prevê-se que desvalorize ainda mais em 2021, ao passo que o governo adia uma restruturação da dívida de 44 mil milhões de dólares com investidores estrangeiros. As problemáticas do Estado reavivaram o receio de uma desvalorização e do cancelamento de crédito para as entidades corporativas.

Embora o governo tenha anunciado um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em março ou abril, os executivos não preveem, tão cedo, qualquer progresso na saúde fiscal ou económica do país. Até ao momento, a inflação atingiu os 37%, enquanto quatro em nove argentinos continuam na pobreza.

Superar expectativas

Alguns responsáveis da Camara Industrial Argentina de la Indumentaria (CIAI) admitiram, inclusive, que as «coisas estão difíceis», dado que o peso argentino baixou 50% em relação a 2019. No entanto, o cenário parece estar a melhorar enquanto o país luta contra a crise pandémica.

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«Vimos uma melhoria na atividade do quarto trimestre e hoje todos os retalhistas estão abertos, algo que não aconteceu durante sete meses», revela Claudio Drescher, presidente da CIAI, acrescentando que as vendas superaram as expectativas durante o Dia da Mãe, a, 17 de outubro e também houve uma recuperação do consumo no período anterior à quadra natalícia.

Segundo Claudio Drescher, a indústria deverá cair 30% em unidades fabricadas em 2020, comparativamente com os 150 milhões obtidos em 2019, uma queda muito inferior aos 70% evidenciados no pico da pandemia em março.

Para sobreviver à crise, o governo decretou uma ajuda financeira no valor de 350 milhões de dólares para o sector e também para apoiar os fabricantes a estarem aptos a investir em inovação e na indústria 4.0, conceitos essenciais para aumentar a competitividade, explica o presidente da CIAI, que se recusou a adiantar números para as receitas do sector em 2020. A crescente desvalorização do peso argentino e a volatilidade do mercado foram as razões invocadas por Claudio Drescher não querer fazer previsões financeiras.