Início Notícias Mercados

ITV aumenta a falta de água em África

A produção de vestuário, inclusive para marcas das principais artérias comerciais da Europa e dos EUA, está a danificar os rios africanos na sequência de descargas poluentes das águas residuais industriais, revela um novo estudo que oferece sugestões para uma melhor gestão hídrica.

[©Pexels]

O recente relatório da Water Witness International sugere que o sector de vestuário está a competir com as comunidades locais e com a natureza pelo acesso à água escassa em África e que, em alguns casos, as necessidades das fábricas são priorizadas em relação ao direito humano à água.

Desta forma, o estudo defende a adoção imediata de uma boa gestão de água transversal a todo sector, a certificação das fábricas em relação às normas de melhores práticas e ainda a divulgação transparente do desempenho da água para que as empresas responsáveis possam ser diferenciadas.

As informações recolhidas pelo relatório pré-pandemia ditam que as exportações de moda geraram uma receita anual de 4,6 mil milhões de dólares (cerca de 3,92 mil milhões de euros), um valor que ultrapassa o fluxo anual de ajuda para a África de qualquer doador europeu. Atualmente, este continente tem uma importante quota na indústria de moda global, que em 2019 valia 2,5 biliões de dólares e empregava 75 milhões de pessoas.

Panorama vulnerável

Ainda que África reconheça o papel que a indústria de vestuário desempenha no progresso social e económico, a preocupação perante a escassez de recursos hídricos não para de crescer. «A realização desses benefícios socioeconómicos deve ser baseada na gestão judiciosa de recursos, especialmente porque a moda é um dos sectores mais poluentes do mundo e apresenta riscos significativos para o meio ambiente de África. Os recursos hídricos e os ecossistemas hídricos da região são altamente vulneráveis e já enfrentam stresse severo por causa do esgotamento e da degradação, da procura vertiginosa, das mudanças climáticas e dos desafios financeiros, de capacidade e de governação», afirma o retatório, que tem como objetivo implementar garantias no aprovisionamento de África de que a produção se baseia no uso sustentável de recursos, condições de trabalho apropriadas e princípios básicos de justiça social.

[©Pexels]
«Produtores, marcas, retalhistas, investidores, governos e clientes das principais artérias [comerciais] devem agir agora para garantir que a indústria de moda tenha uma pegada hídrica justa em África, de modo a que a criação e o crescimento de emprego, tão necessários, sejam dissociados dos impactos destrutivos da água, que observamos. Definimos o que cada um desses grupos deve fazer para garantir poluição zero, água potável e saneamento, retiradas equitativas, resiliência climática e proteção do ecossistema para que África se possa tornar num modelo global de produção sustentável e emprego digno no sector de moda ao invés de outra vítima da fast fashion», explicam os autores do estudo, citados pelo Just Style.

Riscos e oportunidade clara

Para assegurar a gestão dos recursos, o relatório aponta cinco riscos associados ao crescimento da produção de vestuário, que coincidem também com os desafios da água em África. Entre eles consta a poluição por efluentes e resíduos industriais não tratados, o abastecimento de água, o saneamento e higiene desadequados, o uso de água sustentável, equitativo e resiliente para a produção, riscos hídricos na cadeia de aprovisionamento e desafios de governação. Neste sentido, o estudo apela para a adoção urgente das normas estabelecidas pela Alliance for Water Stewardship (AWS), uma vez que esta entidade orienta e reconhece o bom desempenho na água através de uma auditoria de terceiros.

[©Unplash]
«Há uma oportunidade clara para as partes interessadas da indústria têxtil e vestuário adotarem a gestão de água da AWS como uma contribuição prática e estratégica para o desenvolvimento sustentável e recuperação do covid em África. De forma promissora, várias partes interessadas do sector, como a Tooku na Tanzânia, a Indochina, H&M, PVH e Industrial Parks Development Corporation na Etiópia, estão a comprometer-se com a boa gestão da água, através do alinhamento com a norma AWS», revelam. «Os países e empresas que defendem a gestão da água e que demonstram e divulgam um bom desempenho da água na produção de têxteis e vestuário vão ver benefícios consideráveis. Aqueles que não o fizerem, provavelmente vão ver insegurança hídrica e problemas de reputação emergirem como um impedimento para o crescimento futuro», afirmam os autores do estudo, que defendem que as alterações devem ser feitas a vários níveis, desde as marcas, retalhistas, compradores e designers aos produtos, fornecedores e até mesmo ao governo.