Publicado com base nos dados recolhidos no início de 2007, a última tabela mundial de comparação dos custos salariais na indústria têxtil (fiação e tecelagem), elaborada pelo gabinete de estudos Werner International para quarenta países, é bastante esclarecedora. Embora focado a montante na fileira, este estudo permite formar uma ideia bastante realista dos custos a jusante. De acordo com Alain Mathieu, vice-presidente da Werner International, o gabinete renunciou a estudar os custos salariais no vestuÁrio devido à fragmentação desta indústria e à variação dos salÁrios dentro de um mesmo país. Contudo, estima que os salÁrios nessa Área são mais baixos do que os da indústria têxtil». O estudo da Werner tem o mérito de constatar de forma explícita as enormes diferenças em termos salariais no mundo. Entre os países asiÁticos – onde se enquadram a China e a índia, e que são de longe os mais económicos – e os países desenvolvidos – Europa, EUA e Japão –, passa-se de um extremo ao outro. A zona Euromed (Europa de Leste, Turquia e o Magreb) estÁ a meio caminho. Ilustração esclarecedora: em 2007, uma hora de trabalho de um operÁrio suíço era 120 vezes mais cara do que a de um homólogo do Bangladesh, cujo valor se situava nos 0,28 dólares. No pelotão da frente dos países onde o custo horÁrio ultrapassa os 15 dólares (ou 9,5 euros) figuram quase todos os países europeus, o Japão e os EUA. A Suíça lidera o ranking, com um custo horÁrio de 33,67 dólares, seguida da Bélgica (31,65 dólares), Alemanha (28,17 dólares), Grã-Bretanha (23,42 dólares) e Japão (22,69 dólares). Todos eles viram os custos salariais aumentar, sobretudo depois de 2004. Entre os que mais “sofreram” com esta inflação, destacam-se a Espanha (mais 48% em relação a 2004), a Grécia (mais 64%) e o Reino Unido (mais 68%). Portugal fica de fora desta categoria, enquadrando-se no grupo de países cujos custos horÁrios se situam entre os 1,5 e os 8 dólares. Segundo este estudo, uma hora de trabalho de um operÁrio têxtil português custa em média 7,15 dólares, situando-se não muito longe do nível de preço de regiões como Hong Kong (6,21 dólares) e de países da Europa de Leste como a República Checa (4,9 dólares), a Polónia (4,62 dólares) ou a EslovÁquia (3,53 dólares). Apesar dos custos portugueses terem sido revistos em alta a partir de 2002, estão ainda longe de uma convergência com os dos outros países da Europa Ocidental, tornando a ITV nacional uma das mais competitivas em termos de custos salariais. No mesmo grupo de preços encontram-se ainda países do Magreb, como a Turquia (2,96 dólares), Marrocos (2,62 dólares) e a Tunísia (2,01 dólares). Nesta categoria intermédia, a evolução mais forte regista-se nos países da Europa Central e Oriental, cujos custos explodiram a partir de 2002, sobretudo na República Checa (mais 107,7%), EslovÁquia (mais 86%), Polónia (mais 59,3%) e BulgÁria (mais 53,4%). Aumentos que o economista do IFM, Franck Delpal, atribui à integração europeia: nestes países, a integração europeia teve claramente um papel importante na redução das desigualdades como jÁ tinha tido em Espanha (15,81 dólares) ou, mais recentemente, na Grécia (13,9 dólares)». Mas as grandes vantagens competitivas deste grupo intermédio podem ser postas em causa no futuro. Com efeito, os custos salariais ainda atractivos associados a uma proximidade geogrÁfica que permite rapidez de entrega podem ser superados pelos países asiÁticos. Com custos salariais inigualÁveis, países como a índia (0,69 dólares), China (0,46 dólares), Paquistão (0,42 dólares) e Bangladesh (0,28 dólares) podem melhorar os seus tempos de entrega com o projecto de uma linha de alta velocidade entre a China e a Europa. No entanto, a pressão social e económica nestes países é cada vez maior e antevêem-se dificuldades para o futuro. Franck Delpal dÁ alguns exemplos, como o da Tailândia e da Coreia do Sul, que têm sentido muitas dificuldades nas exportações devido à sobrevalorização das suas moedas em relação ao yuan e ao dólar». Também no Vietname se têm sentido tensões sociais, que mostram que o “status quo” não deverÁ vigorar durante muito mais tempo.