Conotados com um elevado sentido de estética, exigência extrema e apreciadores de qualidade exímia, os japoneses renderam-se aos artigos de têxteis-lar das empresas portuguesas e estiveram na Guimarães Home Fashion Week a reforçar compras e a descobrir novos fornecedores.
«A primeira vez que vim à feira, tinha pouco conhecimento sobre Portugal e os seus têxteis. Mas ao vir cá, percebi quão sério é o sector e valorizo o trabalho e o esforço que as pessoas estão a demonstrar. Tenho uma impressão muito positiva», revela, ao Jornal Têxtil, Harumi Furutani, merchandiser do departamento de artigos para a casa e interiores dos grandes armazéns Hankyu Hashin.
Furutani integrou uma grande delegação de compradores japoneses que estiveram em Guimarães e que colocaram encomendas aos expositores nacionais. «Encomendámos pelo menos a oito empresas novas que não teríamos conhecido se não viéssemos cá», afirma o norte-americano Thomas J. Smart, diretor da divisão internacional da Axel Japan, importadora de artigos de lifestyle de luxo. A empresa japonesa é já cliente há cinco anos da Ribial, mas trabalha também com a Sorema e, mais recentemente, com a Finera. «Falámos com a Finera há quatro anos, mas nada se desenvolveu. Desta vez eles têm o que queremos. É como o erro de ir a uma livraria, descobrir o livro que se quer e voltar mais tarde e já não se conseguir encontrar. Por isso, o que queríamos desta vez encomendamos», garante Thomas J. Smart, que está sediado no País do Sol Nascente há mais de duas décadas.
Já Toru Daido, presidente do Daido Co, Ltd, ficou impressionado com a Neiper e a Apertex, por exemplo, e Harumi Furutani não deixou de passar na Sampedro.
Sampedro à conquista do mercado japonês
A Sampedro, de resto, é uma das empresas que tem voltado o seu foco para o País do Sol Nascente. «É um mercado que estamos a iniciar», admite Diogo Gomes, comercial e a quarta geração envolvida no negócio familiar. «É um mercado que não está tão explorado como os outros e depois é um mercado com uma economia muito poderosa, elevado poder de compra e uma população de cerca de 200 milhões de pessoas com gosto sofisticado. Não perdemos nada em, pelo menos, tentar», explica.
A empresa esteve presente, pela primeira vez, numa feira japonesa este ano e, «este segundo contacto é bom», adianta o comercial, até porque «são pessoas que não confiam à primeira, precisamos de insistir. Mas depois de confiarem são fiéis, se fizermos, claro, um bom trabalho».

A variedade da Sampedro é, além disso, uma mais-valia junto dos clientes nipónicos. «Eles ficam admirados. Alguns como ainda não conhecem tão bem o nosso nome como na Europa, pensavam que tínhamos uma coleção e é difícil de explicar que não é uma coleção, são só os produtos e os desenvolvimentos novos que normalmente apresentámos na Heimtextil a cada ano e que temos muitos mais desenhos e muitos mais artigos do que os que estamos a mostrar», refere o comercial.
Home Flavours seduz Issey Miyake
A estética nacional tem igualmente impressionado os japoneses. A Home Flavours, por exemplo, repetiu este ano a presença na Interior Lifestyle Tokyo e foi elogiada pelo gabinete de Issey Miyake. «Adorou os nossos produtos. Para mim é uma honra, ele é um mestre do Japão, em cores, texturas, tudo», confessa Cristina Machado, administradora e diretora criativa da empresa. Este primeiro contacto já resultou em encomendas. «Mal chegamos da feira tínhamos duas encomendas dele – nem sequer tínhamos mandado o preço e ele já tinha feito as encomendas. Foi uma coisa surreal para mim. Se calhar, em termos comerciais pode não ter muito interesse, porque podem ser umas encomendas experimentais, mas para mim é uma honra, ele é um mestre. E os japoneses são conhecidos por, depois de aceitarem, serem fiéis», sublinha Cristina Machado. Também por isso, «o mercado japonês é o que estou a apostar mais agora. É um mercado interessante mas difícil de entrar. Tiveram aqui alguns contactos e acho que vai correr bem», acredita a administradora da Home Flavours.

As exportações nacionais dão conta deste bom momento nas relações bilaterais entre os dois países, com os envios de têxteis-lar lusos para o Japão a crescerem em termos anuais. Segundo os dados do INE, as exportações de outros artefactos têxteis confecionados, onde se enquadram a maioria dos têxteis-lar, registaram um aumento superior a 17% em 2017, para 4,04 milhões de euros, em comparação com 3,45 milhões de euros em 2016. Em particular, as roupas de cama, mesa, toucador ou cozinha evidenciaram um crescimento de quase 19%, para 3,77 milhões de euros, enquanto as exportações de cobertores e mantas conheceram um incremento de 58,7%, para mais de 81 mil euros.