Durante dois dias, os cerca de 30 participantes no concurso de jovens designers promovido pelo CENIT fizeram um périplo por algumas das empresas da indústria da moda portuguesa, com o objetivo de conhecerem as valências que fazem de Portugal uma referência mundial na produção.

A primeira paragem foi no Atelier des Créateurs, em plena baixa portuense. Na empresa criada por José Gonzalez e Gilles Zeitoun trabalham cerca de 100 pessoas que produzem essencialmente fatos de homem personalizados. «São peças únicas, customizadas à medida de cada cliente», explicaram Cátia Quaresma, modelista e relações públicas, e Lara Vieira, responsável do mercado britânico. Por entre os três pisos ocupados pela empresa, que além de servir os clientes do “feito à medida” produz igualmente pequenas coleções para criadores de moda como Nuno Gama ou a belga Ann Demeulemeester, os jovens designers fizeram o percurso das encomendas, desde a escolha dos tecidos ao processo de modelagem, corte, confeção e rigoroso controlo de qualidade.

«É realmente interessante. Começamos a pensar como se produzem as coleções. Visitar as empresas e falar com as pessoas, como as do Atelier des Créateurs, sobre os custos médios das peças e o que produzem é muito bom. Permite saber, por exemplo, quanto nos custaria produzir uma primeira coleção», afirmou Lukas Viering, designer formado pela Akademie Mode & Design, da Alemanha, ao Portugal Têxtil
Também na Crialme os fatos são, na maioria, feitos à medida. «Produzimos 500 casacos por dia, dos quais 350 são feitos à medida. O objetivo da empresa é produzir pequenas quantidades, para se diferenciar», afirmou o comercial Mário Pacheco durante a visita.
Na produtora de fatos, onde trabalham 500 pessoas, grande parte das quais desde a sua fundação, em 1984, há igualmente uma preocupação grande com a sustentabilidade. «Não usamos nem papel nem plástico no corte», revelou Mário Pacheco, acrescentando que «todas as manhãs, uma empresa vem recolher os desperdícios do dia anterior».
No último ano, a Crialme, que tem como principais mercados os EUA, Itália e Inglaterra, renovou as instalações, incluindo um showroom e uma loja de fábrica. «Para além de ter um showroom com luz natural, que era o que pretendíamos, também na parte da produção conseguimos dar mais espaço às pessoas que estão a trabalhar», apontou Mário Pacheco.
«Nunca tinha visto uma empresa deste tamanho. Foi um grande choque ver tanta gente a trabalhar no mesmo sítio. A qualidade é incrível», admitiu Lorena Mazo French, estudante da Esmod Paris.
Produção da cabeça aos pés
A pensar nas questões mais práticas que qualquer jovem designer enfrenta em início de carreira, a Calvelex, que emprega 700 pessoas em várias unidades, apresentou a sua tecidoteca Fabrics4Fashion, que agrega 200 mil referências de tecidos. «É importante para os novos designers, porque é difícil comprar em pequenas quantidades», justificou Maria Assunção Fernandes, designer da Calvelex.

A produtora de vestuário, que conta com três unidades produtivas e dois centros logísticos, criou ainda uma outra ferramenta que facilita o trabalho dos clientes. «O material e o fitting são os elementos mais importantes para um designer, por isso criamos uma plataforma de fitting exclusiva para clientes, para ajudar o designer a responder mais rapidamente ao mercado», indicou Beatriz Poulson, responsável de desenvolvimento de produto da Calvelex.
«Ouvi falar muitas vezes sobre a dimensão da indústria têxtil portuguesa, mas é a primeira vez que visito. É realmente maravilhoso para mim. Muitos designers britânicos e mesmo marcas têm a sua indústria aqui e colaboram com a indústria portuguesa. Tentei aproveitar ao máximo», confessou Yujin Seo, aluna da London College of Fashion.
Já na Riopele, a produção vertical da empresa surpreendeu os jovens designers. «Conseguimos ver todos os passos, desde a matéria-prima ao fio e até ao tecido. É algo que eu nunca tinha visto», reconheceu Selina Zenker, estudante da Akademie Mode & Design.

«Já trabalhei em algumas empresas, mas nunca tinha visto nada com esta dimensão», assumiu Rosie d’Ercole, designer formada na London College of Fashion. «Não sabia que a indústria portuguesa era assim, mas há muitas empresas interessantes. O Atelier des Créateurs foi realmente maravilhoso e a Riopele foi incrível. Nunca tinha visto uma fábrica assim. Acho fantástico que as empresas nos mostrem como trabalham», resumiu a colega Yelim Cho, também da London College of Fashion.

Do programa fez ainda parte a visita à fábrica Eureka, que produz 2.600 pares de sapatos por dia, tanto para private label como para a marca própria. «O facto de haver muito trabalho manual na empresa justifica a posição da marca própria no mercado e os preços dos produtos», explicou Patrícia Lopes, do departamento de private label e B2B da empresa.
«É uma oportunidade magnífica poder ver e experienciar como os produtos que desenhamos são feitos. É bom termos a oportunidade de ir a diferentes fábricas para podermos comparar e ver os métodos diferentes que estão a usar», concluiu o jovem designer de calçado Alexandros Vasdekis, da italiana Arsutoria School.