Os desfiles na passerelle da ModaLisboa tiveram, e continuam a ter, um papel mediador, introduzindo os seus nomes à imprensa e compradores internacionais. Por outro lado, estes membros da plataforma LAB dedicada ao talento emergente, só deram o salto das suas carreiras depois de relativamente seguros pela rede (ver Designers sem fronteiras). As plataformas de comércio eletrónico – mono e/ou multimarca – garantiram dois sentidos à estrada do sucesso aquém e além-fronteiras e, de anónimos a estrelas da música Pop, as encomendas desde cedo são expedidas para códigos-postais internacionais.
Para inglês ver

David Ferreira licenciou-se em design de moda pela universidade de Westminster, Inglaterra, em julho de 2015, tendo escolhido sediar a marca epónima na cidade de Lisboa.
«Perguntam-me por que motivo não estou em Londres e eu respondo: “porque sou português!”», afirma ao Portugal Têxtil.
Às técnicas inovadoras que o jovem designer foi desenvolvendo durante os estágios com nomes como Iris van Herpen, Giles Deacon e Meadham Kirchhoff, David Ferreira tem adicionado camadas de trabalho artesanal, contando atualmente com a preciosa ajuda de uma equipa de seis pessoas no seu atelier.
«São pessoas jovens, demos-lhes formação internamente. No fundo, são estagiários que, entretanto, começaram a trabalhar connosco», explica.

As suas criações de alta-costura destinam-se a uma mulher «sem convencionalismos», tendo já sido reconhecidas com o prémio internacional VFILES Made Fashion, em setembro de 2015 e, no ano seguinte, com o Merit Award, atribuído pela plataforma Fashion Scout, em Londres, e o prémio Les Etoiles Mercedes-Benz, em Paris.
Janet Jackson, Tyra Banks e Björk são algumas das estrelas internacionais que já se renderam às propostas de David Ferreira, que «faz questão» de lhes dizer que tudo é feito em Portugal. «Algumas não conhecem e, assim, ficam a conhecer. Acho que Portugal está cada vez mais “trendy” em termos de moda», assegura.
A par das vendas em território nacional, a marca epónima do talento emergente mantém uma clientela fiel em Londres, com os EUA a superarem os restantes mercados «devido às pessoas que já vestiram e foram fotografadas com looks David Ferreira», aponta.

A dar cartas em Inglaterra tem estado, também, a jovem Ana Duarte, que assina a marca de sportswear de luxo Duarte.
Em 2013, a jovem designer foi selecionada pelo British Council para expor no International Fashion Showcase, durante a semana de moda de Londres. Um ano depois, integrou a mostra LCF MA15 na Victoria House, também em Londres e, entretanto, terminou o mestrado em Menswear Design and Technology no London College of Fashion. A valorização do “made in Portugal”, sem qualquer saudosismo, intensificou-se durante a passagem pela prestigiada instituição de ensino.
«Estudei em Londres e eles lá faziam questão de que nós criássemos a nossa rede de contactos e sugeriram-me vir a Portugal. Eu vim, contactei com vários fornecedores e toda a gente se mostrou disposta a ajudar. Desde então, as coisas têm corrido muito bem», reconhece a designer, que tem contado com o apoio da Albano Morgado e da Metro Criativo (na estamparia digital). «Já é a terceira vez que trabalho com essas duas empresas», sublinha. A par da ajuda no têxtil, também no calçado a Duarte tem desfilado em regime de parceria na ModaLisboa. «Nesta estação [outono-inverno 2018/2019] contámos com o apoio da Eureka», revela.

«Faço questão de salientar [em conversas com clientes] que tudo é feito em Portugal, até porque revela um know-how que, se calhar, não se encontra noutros sítios. É importante apostarmos no que temos, porque temos quase tudo», destaca Ana Duarte, que alinha Inglaterra e Itália nos melhores destinos de exportação da marca. Depois de ter conquistado a modelo portuguesa Sara Sampaio – fotografada com uma malha oversized vermelha da Duarte –, a marca sentiu ainda «um boom nas vendas para os EUA».
Voo Paris-NY

Há uns meses, a Duarte juntou-se à Imauve, marca de Inês de Oliveira, e à jovem designer Carolina Machado e rumou também a Paris, com as três representantes da nova guarda do design de moda nacional recrutadas pela eNeNe – Nouveaux Navigateurs, concept store exclusivamente dedicada aos talentos portugueses, com mais de 80 marcas 100% nacionais.
«É tudo feito em Portugal e mesmo as etiquetas que vão com as roupas são todas feitas em fábricas portuguesas, com materiais portugueses», garante Inês de Oliveira, a propósito da mais recente conquista da Imauve dentro da sua já considerável lista de pontos venda.

Não obstante, a batalha pelo 100% “made in Portugal” não tem sido fácil e, em declarações ao Portugal Têxtil, a designer aponta o trabalho com as fábricas como a principal dificuldade.
«As fábricas trabalham com quantidades que nós, designers emergentes, não conseguimos atingir», lamenta, ressalvando que a sua estratégia tem assentado numa conversa franca com os executivos da indústria têxtil. «Tentamos mostrar às fábricas que somos pequeninos porque estamos a começar, mas que um dia vamos ser grandes. Perguntamos-lhes se querem dar o salto connosco», conta.

No recente desfile da Imauve na ModaLisboa percebeu-se que a Custoitex foi uma das empresas que aceitou o desafio. «A Custoitex fez os nossos collants tingidos à cor e é uma empresa que o mínimo que faz são 500 por cor. Para nós, fez-nos como se fossem amostras porque quis apoiar os jovens designers», destaca a designer que envia peças para o mundo inteiro através do portal de comércio eletrónico da marca.
Tal como a Imauve, também a marca epónima de Carolina Machado tem estado, desde os primeiros momentos, voltada para os mercados internacionais. A estreia do talento emergente aconteceu em outubro de 2015, quando integrou a plataforma Sangue Novo da ModaLisboa.

«Comecei por vender online e nunca vendi para Portugal, vendo maioritariamente para os EUA e, depois, para a Alemanha e Suécia, porque tenho um showroom em Estocolmo», adianta, vincando a vontade de crescer no Velho Continente e, claro, dentro de portas.
Para Carolina Machado, o poder de compra tem sido o principal entrave ao consumo de moda “made in Portugal”. «Mas estamos cá para tentar quebrar esse círculo vicioso», enfatiza.