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Marcas de moda devem «consertar a indústria»

A campanha #PayYourWorkers defende que marcas e retalhistas que registaram lucro em 2020, como a Nike, Amazon e Next, poderiam impedir que os trabalhadores do sector «passassem fome» e estabelecer um fundo de indeminização, pagando aos produtores mais 0,10 dólares (0,08 euros) por t-shirt.

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As marcas de moda devem consertar a sua «indústria quebrada» assegurando que milhões de trabalhadores atingidos pela pandemia recebem os salários integrais e garantindo indeminizações se os postos de trabalho são eliminados, afirma a coligação que junta mais de 200 grupos defensores dos direitos humanos.

«Isto é o mínimo que as marcas devem fazer para proporcionar salários dignos, que devem tornar-se a norma numa retoma pós-pandemia», explica Ineke Zeldenrust da Clean Clothes Campaign, membro da coligação. «Esta proposta é alcançável», adianta à Reuters.

Embora as produtoras de alguns países paguem indeminizações aos trabalhadores que perdem o emprego, os proprietários das fábricas ficam muitas vezes fragilizados quando uma marca retira repentinamente um pedido de encomendas, o que acaba por afetar os trabalhadores, referem os investigadores.

As empresas de moda cancelaram pedidos no valor de milhares de milhões de dólares nos três primeiros meses de pandemia de Covid-19 na sequência do encerramento de lojas à escala global, o que gerou perdas salariais estimadas em, pelo menos, 3,2 mil milhões de dólares. Enquanto os pedidos aumentavam no segundo semestre de 2020, algumas marcas ocidentais pediam preços mais baixos e prazos de pagamentos alargados a fornecedores desesperados por qualquer pedido para sobreviver, indicam os ativistas.

A Amazon garantiu, em comunicado via e-mail, ter honrado todos os pedidos de encomendas para os seus «negócios de vestuário em private label nos EUA e na UE» e criado um fundo de 1,3 milhões de dólares no ano passado para investir em organizações que apoiavam os trabalhadores afetados pela pandemia.

A Nike, por seu lado, revelou à Thomson Reuters Foundation ter pago integralmente os produtos acabados e também ter estado a trabalhar com instituições para apoiar os fornecedores com oportunidades de financiamento e a explorar soluções para ajudar os trabalhadores da cadeia de aprovisionamento.

Já a Next não se mostrou disponível no imediato para prestar declarações.

Milhões de consequências

Cerca de 60 milhões de pessoas trabalham na indústria têxtil, de vestuário e de calçado mundial e especialistas do sector referem que a queda nas vendas deixou os trabalhadores, muitos dos quais perderam o emprego ou estão a receber menos do que antes, vulneráveis à exploração.

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Quase 10 mil trabalhadores de oito fábricas que abastecem 16 marcas de moda, com um lucro total de 10 mil milhões de dólares no ano passado, ainda têm salários em falta, asseverou o grupo de direitos humanos Business & Human Rights Resource Center num relatório divulgado no início de março.

A coligação, que desafiou as marcas a apoiarem publicamente a sua iniciativa, é composta por grupos de 40 nações – incluindo países produtores de vestuário como o Bangladesh e o Camboja – e organizações internacionais como a Oxfam.

«Está na hora das marcas reconhecerem a posição crucial que ocupam», admite Sophorn Yang, presidente da aliança sindical no Camboja, que reconhece que os trabalhadores perderam milhões de dólares em salários durante a pandemia por causa das «atitudes das marcas».