Em 2017, a empresa finlandesa juntou-se à startup de inovação têxtil Spinnova para encetar o desenvolvimento de um tecido à base de polpa de madeira, com o design dos seus estampados icónicos. Agora, a Marimekko está a apresentar os primeiros protótipos, que espera disponibilizar para venda aos clientes em 2022.
Apesar de muito semelhante, em termos sensoriais, aos tecidos tradicionais de algodão, a polpa de madeira consome 99% menos água do que o tecido algodoeiro e também é 100% biodegradável. Isto significa, que no final da sua vida útil, o novo tecidos pode ser reciclado ou destinado à compostagem.
De acordo com o CEO e cofundador da startup, Janne Poranen, a simplicidade do processo é um dos motivos pelos quais as peças são tão fáceis de reciclar. Antes de ser transformado noutro produto têxtil, os componentes do tecido têm de ser separados consoante o tipo de material e a cor. Contudo, a inovação da Spinnova permite que os tecidos sejam devolvidos ao seu estado natural, com a mesma facilidade que um tecido 100% caxemira ou algodão.
«Os nossos testes iniciais revelam que os tecidos reciclados são, de resto, mais resistentes do que os novos», aponta Poranen. «O processo de separar as fibras até ao nível microscópico e submetê-las a uma transformação parece fortalece-las», admite. Isto significa, que os tecidos reciclados da Spinnova são ainda mais duráveis do que os convencionais.
Ainda que os tecidos à base de polpa de madeira não sejam uma novidade no mercado, a inovação da Spinnova não utiliza químicos tóxicos, garante o CEO. A empresa utiliza madeira proveniente de florestas com a certificação FSC (Forest Stewardship Council), que segue para um processo de decomposição mecânica em polpa microcelular, posteriormente transformada em fibras e têxteis.
Realizando a grande maioria dos seus estampados na sua fábrica de Helsínquia, uma das últimas unidades industriais de estamparia de tecidos na região nórdica, a Marimekko conseguiu acompanhar todo o processo e aconselhar a parceira sobre a melhor abordagem a aplicar neste processo de produção, garantindo assim um maior controlo de qualidade e o cumprimento dos requisitos inerentes à sua certificação Oeko-Tex.
Um legado mais antigo que o fast-fashion
A colaboração entre as duas empresas faz parte de um esforço global da indústria da moda de reconhecer o seu impacto ambiental significativamente negativo e preparar soluções que possam reduzir a respetiva pegada ecológica. Criada nos anos 50, a Marimekko estreou-se no mercado antes da fast-fashion se tornar uma tendência e, desde cedo, se destacou por tecidos resistentes com uma estética clássica. Ao longo dos anos, a empresa filandesa tem vindo a tornar-se uma «marca icónica, pela forma como alia a moda, a arte e o design», descreve a revista Fast Company. Entre as suas eternas admiradoras, encontram-se nomes históricos como a artista Georgia O’Keeffe e a ativista Jane Jacobs.
Nas últimas sete décadas, a Marimekko manteve-se fiel à sua abordagem de moda durável e funcional, criando novos estampados a cada ano, mas garantindo sempre a recuperação das ideias antigas. Isto significa, que, se o consumidor atual procura um produto usado há uma década, há uma boa hipótese de poder encontrar outro semelhante numa loja. «Criamos vestuário em tecidos duráveis, que devem ser usados durante anos ou até décadas», afirma Tiina Alahunta-Kasko, CEO da Marimekko. «Há um grande mercado em segunda mão para as nossas peças, porque, ao fim de tantos anos após a primeira ordem de compra, ainda parecem em bom estado», explica.
Agora, a Marimekko está a levar a sua filosofia de moda sustentável mais adiante, constituindo-se como a primeira marca a produzir padrões estampados nos tecidos biodegradáveis da Spinnova. Para a primeira coleção-cápsula com o novo material, a designer da marca, Riikka Buri, escolheu estampar o seu design mais conhecido, a Unikko – composto por grandes papoilas – em casacos que imitam o denim, bolsas e camisas de malha. «A Marimekko conseguiu aplicar o seu atual processo de estamparia diretamente no tecido Spinnova, tal como se de algodão ou linho se tratasse», assegura Poranen.
Ambas empresas esperam integrar o novo tecido na coleção principal da Marimekko, nos próximos dois anos, altura em que estará disponível ao consumidor final, que poderá usar as peças por décadas e, no final, enviá-las para uma unidade de reciclagem.