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Moda de massas a preços de luxo

O valor marcado nas etiquetas de peças de vestuário vendidas nas mais variadas cadeias de retalho do mercado de massas parece competir com aqueles adotados até ao momento, de forma distintiva, pelas casas de luxo mundiais.

Ainda antes da coleção Balmain x H&M ser colocada à venda – com o retumbante sucesso depois conhecido (ver Balmain x H&M lança o caos) –, alguns questionaram-se sobre o preço avultado dos vestidos de festa e casacos incrustados de pérolas face ao habitual público-alvo da marca. «Quatrocentas libras é um valor muito elevado a pagar por um vestido, pelo qual terá, provavelmente, de esperar numa fila, desde o amanhecer, numa manhã fria de novembro», escreveu Jess Cartner-Morley, editora de moda do The Guardian.

Quando os ditos vestidos foram, finalmente, colocados à venda, compradores de Seul a Paris acamparam durante a noite para poderem pagar as solicitadas 400 libras. No exterior da loja de Oxford Street, em Londres, comerciantes oportunistas revendiam as peças mais caras por três vezes o valor fixado, apenas uma hora após terem sido colocadas a venda em loja. No eBay, os preços dos tais vestidos alcançam, agora, os quatro dígitos.

Nos últimos anos, os preços praticados no segmento chamado “fast fashion” têm aumentado de forma descarada. Quando os casacos de caxemira e os vestidos de couro apareceram nas lojas frequentadas pelo comum dos mortais, Cartner-Morley assumiu que se tratavam de produtos de quase adorno para as montras das lojas, produzidos em quantidades reduzidas, com o objetivo de elevar as marcas do quotidiano a algo desejável e, portanto, convencer os clientes a gastar. «Eu não sabia que as pessoas compravam, efetivamente, este material. Bem, claramente, estava errada», sustenta.

A Balmainia é apenas o exemplo mais extremo de uma hiperinflação que se tem estendido a todo o segmento. Os preços praticados pelas cadeias de moda internacionais não são já reconhecíveis como parte desse segmento. O modelo de casaco Clemi, proposto pela marca Reiss, é vendido por 1.295 libras. Na Topshop, o vestido de festa Brunswick – fabricado na Grã-Bretanha – custa 895 libras – e já esgotou no tamanho 38. Considerando o contexto em que estes valores se inserem, por comparação às marcas de luxo mundiais, por exemplo, uma saia da nova coleção da Gucci – provavelmente uma das mais populares entre as passerelles mundiais, sob a orientação do designer Alessandro Michele – custa na Net-a-Porter 300 libras e um par dos seus icónicos mocassins custa 370 libras.

Esta tem sido uma época dourada para o segmento médio de retalho de moda de massas, mas começa-se agora a pagar o preço. Literalmente. Há vinte anos, a Bond Street vendia moda enquanto a Oxford Street vendia apenas roupa. O efeito de repercussão das tendências de passerelle não tinha a amplitude atual. O consumidor médio deparava-se com uma parca e fraca oferta de camisolas de gola, na cor da estação. Desde então, duas coisas aconteceram. Primeiramente, a internet transformou a procura do consumidor de moda de massas, tornando-o mais sofisticado, no conhecimento e no gosto. Em seguida, os designers descobriram que, para sua surpresa, quando uma marca se tornava mais acessível, reforçava o seu estatuto, ao invés de a desvalorizar. Quando Matthew Williamson colaborou com a H&M, preocupou-se com o quão difícil seria ter vestidos à venda por uma fração do preço a escassos metros da sua boutique, na zona londrina de Mayfair. No entanto, viria a descobrir que as vendas dos seus vestidos aumentaram durante o período em que a linha H&M esteve em loja. A era das colaborações – que começou há duas décadas no Reino Unido, com a linha Designers at Debenhams – elevou o estatuto das marcas de retalho convencionais e as expectativas dos consumidores.

Atualmente, a moda disponibilizada pelas cadeias de retalho dirigidas às massas é, por vezes, tão desejável como as peças desfiladas nas passerelles mundiais. A evolução da tecnologia de tecidos tem permitido eliminar a maior parte dos materiais de pouca qualidade. E, ao invés de um segmento repleto de ideias copiadas, as marcas destinadas ao mercado de massas têm, agora, a capacidade de atrair talentos de design e os estúdios de design são capazes de produzir coleções que são tão convincentes como as peças desenvolvidas pelas marcas de luxo.

Naturalmente, as peças de melhor qualidade também custam mais. Porém, o conceito elitista de que um qualquer vestido proveniente de uma casa de moda parisiense tem mais classe do que um outro adquirido numa das muitas cadeias de retalho de moda, necessitava ser desafiado. Os retalhistas devem ser responsáveis ​​na fixação de preços que permitam o pagamento de salários adequados e condições dignas de trabalho aos vários envolvidos na indústria global de vestuário. Eventualmente, estas novas, mais caras, etiquetas de preço encontradas nas cadeias de vestuário mundiais passarão a representar uma nova normalidade. No entanto, para muitos dos seus habituais clientes, esses valores continuam a ser simplesmente demasiado elevados.