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«Não sejam robôs. Sejam humanos. E boa sorte»

O primeiro dia da convenção da IACDE foi até Paredes e voltou, para falar sobre sobrevivência humana num mundo de inteligência artificial.

Um dia, a maioria das tarefas estará a cargo de robôs e aparelhos dotados de Inteligência Artificial (IA) e é preciso encontrar o lugar dos humanos nesse mundo. Ou seremos nós a ditar as regras no futuro? Christoph Burkhardt, especialista em inovação sediado em São Francisco, foi o orador escolhido para a convenção da International Association of Clothing Designers and Executives (IACDE) sobre digitalização, que está a decorrer no Porto até ao dia 29, domingo, e ajudou a plateia a pensar de forma diferente sobre o futuro da indústria e do trabalho.

Christoph Burkhardt

«A primeira pergunta que temos que fazer é se estamos a trabalhar numa boa questão ou não», explicou o especialista, que tem trabalhado em Silicon Valley. «Se encontrarmos uma necessidade, estamos garantidos para a vida», afirmou, adiantando que atualmente trabalhamos para resolver os problemas criados pelas invenções das gerações anteriores. «O que uma inovação faz sempre é alterar o comportamento. E sempre que isso acontece o mercado muda», garantiu Christoph Burkhardt.

Quanto à ameaça de que os robôs irão ficar com muitas das funções que atualmente são desempenhadas por humanos, o especialista não tem dúvidas: isso vai mesmo acontecer. «Temos que encontrar os negócios que só os humanos podem resolver. E vamos apenas fazer o que estas máquinas não podem», e muito disso passa por inovar.

Para Burkhardt há sete estratégias de sobrevivência num mundo dominado por robôs: a identidade, ou seja, ser único; deixar de fazer planos; a curiosidade; a ambiguidade, que passa por «aprender a viver no caos»; a colaboração criativa; a confiança; e a atenção.

«Construímos um mundo que depende do apoio de outras pessoas e isso é muito cansativo, mas é assim», reconheceu, aconselhando os membros da plateia a serem «humanos. Não sejam robôs. E boa sorte».

Fato não muda há cem anos

François Rousseau, diretor-geral da Chargeurs Fashion Technologies, explicou que nem sempre é fácil inovar num sector como o do vestuário. «A inovação é uma tendência, toda a gente tem que falar disso e tem que inovar. Mas para nós, como parte da indústria têxtil, pode levantar algumas questões. Um fato pouco mudou desde 1930», acrescentou.

François Rousseau

Para o diretor-geral da Chargeurs Fashion Technologies, mudam as modas, mas não as funcionalidades. E isso traz desafios à indústria. «Os objetos interligados e os wearables têm um mercado que vai duplicar de tamanho até 2020. O vestuário tem agora a possibilidade de incorporar mais valências. E isto constitui um potencial para a inovação. Mas ainda estamos a perder a maior fatia de wearables porque está sobretudo nos relógios e pulseiras», reconheceu.

Yvonne Heinen-Foudeh

Yvonne Heinen-Foudeh, diretora de marketing e comunicação da Gerber Technology, brincou com o nome da conferência, «The Apparel Caravan Next Stop», salientando que para a indústria tem que haver mais do que «camelos e cavalos». «Quem vai ganhar a corrida digital? Se eu disser que este mundo digital vai mudar a moda quem é que discorda? Não precisamos, enquanto empresa, de estratégia digital, e sim do digital para fazer a nossa estratégia. É uma ferramenta», assegurou. Para a diretora de marketing e comunicação da Gerber Technology, as empresas que apostarem no 3D, na Internet das Coisas e na Nuvem estarão preparadas para o futuro.

A caravana do IACDE começou o dia na Crialme, produtora de fatos de homem, sobretudo à medida, em Paredes. A empresa, com cerca de 500 trabalhadores, exporta quase a totalidade da sua produção e está em força na Europa do Norte e nos EUA.

Fernando e Rui Meireles

Fundada em 1984, a Crialme começou por fabricar calças e depois passou para o fato inteiro. Hoje confeciona 450 fatos por dia, com 70% para o segmento à medida, revelaram Fernando e Rui Meireles, que lideram a empresa.