As grandes retalhistas do país têm-se debatido contra um ambiente cada vez mais competitivo, como resultado do crescimento de rivais online, do tempo excecionalmente quente para a época do ano e de uma mudança nos gastos do consumidor, analisa o jornal The Telegraph.
Apesar da confiança crescente dos consumidores, os gastos com vestuário e calçado têm vindo a diminuir desde meados de 2014 e estão a ser suplantados por experiências como jantar fora e viajar.
Como resultado, a Moody’s prevê que as vendas de vestuário na Marks & Spencer e Next sofram com um crescimento de lucro mais lento no próximo ano e meio. Apesar de ainda ser cedo e haver a possibilidade de recuperação, de acordo com Ernesto Bisagno, analista sénior da Moody’s, «o ambiente tornou-se menos favorável para os retalhistas têxteis, o que é suscetível de afetar o crescimento do lucro de 2016 para 2017».
O CEO da Next, Simon Wolfson alertou no mês passado que a high street estava a conhecer o seu «ano mais difícil» desde a crise financeira (ver Dias cinzentos no retalho). E, entretanto, os números do British Retail Consortium (BRC) vieram confirmar a má performance do retalho britânico, com as vendas de vestuário e calçado a caírem, em março, para o nível mais baixo em dois anos, apesar das designadas promoções “mid-season”.
«Olhando para o quadro a longo prazo, o crescimento médio a 12 meses desacelerou para 1,4%, o seu nível mais baixo desde agosto de 2015», sublinhou Helen Dickinson, presidente-executiva do BRC, esclarecendo que «este abrandamento não pode ser visto de forma isolada». «O retalho é um sector que está a passar por uma mudança estrutural significativa com o investimento na oferta digital a um ritmo acelerado e, na perspetiva do consumidor, há cada vez mais rendimento a ser gasto em lazer e entretenimento», explicou.
David McCorquodale, responsável de retalho na KPMG, acrescentou que ter «Páscoas antecipadas nem sempre é bom para a indústria da moda, uma vez que os consumidores adiam a compra de roupas mais leves em temperaturas mais baixas e isto foi certamente o que aconteceu aqui».
Números distintos do Barclaycard mostram uma queda 1,2% nas vendas de vestuário feminino no mês passado.
Os gastos em bares e restaurantes, entretanto, cresceram 11,9% em março, e os cinemas foram impulsionados por um aumento 12,8% com estreias de sucessos de bilheteira como “Zoolander 2”, “Batman v Superman” e “Deadpool”.
Os dados divulgados pelo Barclaycard também revelam que 51% dos consumidores estão agora a usar uma combinação de descontos e supermercados mainstream para obter as melhores ofertas nas suas compras semanais.
«Os gastos com artigos não essenciais cresceram ao ritmo mais lento desde 2014, enquanto a tendência emergente para a compartimentação nas compras semanais, com pessoas dispostas a misturar e combinar entre lojas de descontos e os mais estabelecidos retalhistas de high street, sugere que os consumidores continuam a preferir o valor ao dinheiro», destacou Paul Lockstone, diretor-executivo do Barclaycard.