A visão do mundo na qual os países e regiões desenvolvidos, como os EUA, Europa Ocidental e Japão, aprovisionavam grande parte da sua produção e trabalho a regiões de baixo custo como a Ásia, Europa Oriental e América Latina tem sido a norma aceite durante a maior parte das últimas três décadas. Mas esta perspetiva parece estar agora desatualizada, segundo um novo relatório do Boston Consulting Group (BCG), que sugere que mudanças dramáticas nos custos de fabrico estão a levar as empresas a repensar as suas estratégias globais de produção. O relatório The Shifting Economics of Global Manufacturing: How Cost Competitiveness Is Changing Worldwide é baseado em estudos sobre a competitividade dos 25 maiores países exportadores do mundo desde 2004 e aponta para novos vencedores e perdedores. Tomando os EUA como linha de base, o índice BCG Global Manufacturing Cost-Competitiveness Index compara mudanças nos salários, produtividade, preço das tarifas de energia e taxas de câmbio para concluir que nações como a China, Brasil, Rússia e República Checa já não são muito mais baratas do que os EUA. O estudo também sugere que economias como os EUA e o Reino Unido têm melhorado significativamente a sua competitividade. É também importante notar que os comentários são gerais e não específicos de um sector e não levam em consideração questões como a logística, a facilidade geral de fazer negócios, a presença de corrupção, bem como a disponibilidade de componentes e materiais. Por exemplo, apesar dos custos laborais inalterados e uma oferta abundante de algodão cru, aumento da produtividade, depreciação da moeda e custos relativamente baixos de energia elétrica e gás natural, a Índia representa apenas 3% do comércio de vestuário global. A competitividade do país é prejudicada por estrangulamentos nos portos marítimos, obstáculos regulamentares, legislação laboral que desencoraja fábricas de grande dimensão com custos eficientes e falta de capacidade energética. De igual forma, a vantagem competitiva da China é vista pelo BCG como estando «sob pressão», o que indica que a sua vantagem no custo de fabricação em relação aos EUA diminuiu de 14% para apenas 4% ao longo da última década, devido ao «disparar» dos custos laborais e energéticos. Os salários na produção, ajustados a diferenças de produtividade, têm triplicado na China na última década para uma estimativa de 12,47 dólares por hora, enquanto nos EUA o aumento foi relativamente pequeno de 27% para os 22,32 dólares por hora. Além disso, os custos da eletricidade industrial aumentaram cerca de 66% na China e os do gás natural subiram 138%. No entanto, a China tem conseguido manter a sua quota de vendas de vestuário nos mercados ocidentais, em grande parte porque os seus fabricantes de vestuário compensaram os salários mais altos com o aumento da produtividade para manter os preços competitivos. E, claro, quando se trata de decisões sobre o fabrico de vestuário entram também em jogo diversos outros fatores, incluindo o ambiente mais amplo e a localização. Inflação, taxas de câmbio, custo de capital, infraestrutura (estradas, portos e energia confiável), força de trabalho, estabilidade política e facilidade de recrutar e manter pessoal, tudo está a mudar constantemente, de diferentes maneiras em diferentes países. Os países que são vistos como a «manter-se firmes» pelo BCG, tendo conseguido conservar a sua competitividade de custos ao longo do período de 10 anos, apesar dos maiores custos globais de energia, são a Índia, Indonésia, Países Baixos e Reino Unido. Os custos totais de cada um destes países mudaram não mais do que 2% em qualquer direção em comparação com os EUA, refere o estudo do BCG. O estudo também identifica o Reino Unido como a economia com o custo de fabricação mais baixo da Europa Ocidental, com o seu mercado de trabalho flexível – uma grande vantagem competitiva que torna o país numa proposta mais atrativa como local para o investimento em novas capacidades. Os custos de produção na Índia e na Indonésia, no entanto, têm visto mais oscilações, com a duplicação do salário médio de fabricação a ser compensada por ganhos de produtividade e pela desvalorização da moeda. As mudanças cambiais tornam as exportações mais caras ou mais baratas nos mercados internacionais com as mudanças de divisas de 2004 a 2014 a incluir uma desvalorização de 26% da rúpia indiana em relação ao dólar norte-americano, e uma queda de 20% na rupia indonésia. Em contraste, o yuan chinês cresceu 35%. Entre os vencedores claros ou «estrelas em ascensão global», como refere o BCG encontram-se o México e os EUA, graças ao baixo crescimento dos salários, aos ganhos de produtividade sustentada, taxas de câmbio estáveis e uma grande vantagem no custo de energia. O estudo estima que o México tem agora custos médios de produção mais baixos do que a China numa base de custos unitários. E, com a exceção da China e da Coreia do Sul, o resto dos 10 principais exportadores de bens do mundo são 10% a 25% mais caros do que os EUA. Os custos de energia são uma das chaves para o crescimento da vantagem competitiva dos Estados Unidos. Os preços para o gás natural caíram 25% a 35% desde 2004 na América do Norte por causa da produção em larga escala de recursos de gás de xisto. Mas, em contrapartida, subiram 100% a 200% em economias como Coreia do Sul e Tailândia. Isto teve um impacto significativo sobre a indústria química, que utiliza o gás natural como matéria-prima para a produção. Em vez de ver o mundo em termos de baixo custo versus custo elevado, o relatório recomenda que as empresas devem fundamentar as decisões de produção com base «numa compreensão mais atual e sofisticada da competitividade». As empresas devem reavaliar as suas pegadas de fabricação e explorar investimentos que possam melhorar a produtividade, como a maior automação. Devem também ter em conta os custos totais, incluindo logística e obstáculos à realização de negócios de forma eficiente que podem adicionar custos ocultos e risco adicional.