Dinheiro versus matrimónio
As culturas reconhecidas pelo status simbólicos dos seus matrimónios, incluindo os EUA, Reino Unido e Índia, estão em declínio, mediante a redução dos gastos despendidos nos casamentos. Um estudo realizado em 2014 pela marca nupcial britânica You & Your Wedding revelou que o custo médio de um casamento, em 2014, foi de 20.983 libras esterlinas, um decréscimo de 4,5% face ao valor de 21.939 libras assinalado em 2012.
Na Coreia do Sul, onde o custo de um casamento médio ronda os 64.000 dólares, a geração do milênio, a par do governo, apelam à realização de eventos menores e mais económicos. Devido à desaceleração da economia e à elevada dívida do país, a taxa de nupcialidade nacional na Coreia do Sul atingiu um mínimo histórico em 2014, pelo que os governos locais optam, agora, por arrendar prédios públicos, destinados a casamentos baratos e simples.
«Com os casais a optarem por casar cada vez mais tarde, podem mais facilmente resistir à cultura convencional e aos pedidos dos seus pais», disse Lee Sung-hee, planeador da Duo, a maior empresa de matchmaking e casamento do país.
Noivos alternativos
De acordo com Ilana Stern, fundadora e CEO da Weddington Way, uma plataforma de e-commerce destinada a noivas e madrinhas: «A geração do milénio valoriza as opiniões dos seus pares e da comunidade. Devido a isso, a forma como planeiam e compram para os seus casamentos evoluiu inteiramente».
Stern explica que as noivas do passado dependiam de representantes de vendas em loja e das suas mães para a tomada de decisões, mas as noivas desta nova geração pretendem uma experiência social mais íntima, ditada por amigos e formadores de opinião. Nos EUA, salões de noiva não-tradicionais disponibilizam uma pequena coleção, com curadoria de vestidos de noiva e acessórios a preços acessíveis, incluindo peças de designer e seleções vintage difíceis de encontrar. Contrastando com as grandes lojas de noivas e salões de luxo, estas lojas modernas proporcionam um intercâmbio local e personalizado.
Para os noivos, a compra e o aluguer de smokings estão já disponíveis no meio digital. Com sede nos EUA, a marca de venda direta ao consumidor, The Black Tux, agiliza a tarefa de vestir os padrinhos, disponibilizando alugueres de elevada qualidade. Para os homens que preferem comprar os seus fatos, The Combatant Gentleman, outra marca on-line de venda direta ao consumidor, disponibiliza fatos feitos sob encomenda de alta qualidade a partir de 160 dólares.
Festas privadas
Longe vão os grandes salões de banquetes, clubes e resorts do passado os casais jovens planeiam cerimónias mais informais e divertidas, de índole privada. O estudo realizado pela You and Your Wedding revelou que o número médio de convidados em casamentos no Reino Unido é de 92, uma queda de 9% face a 2009. Num estudo similar, realizado pela plataforma de casamentos americana The Knot, o casamento americano médio reúne agora 136 convidados, ante 149 em 2009.
Devido ao aumento dos casamentos inter-religiosos, a religião assume um papel secundário e os casais optam por substituir os celebradores religiosos tradicionais por amigos e membros da família. Desde 1960, as taxas de casamento inter-religiosas mais do que duplicaram, fixando-se em 39%, e de acordo com um estudo realizado pela Pew, emerge uma nova categoria, liderada por aqueles que afirmam não ter filiação religiosa, sendo responsáveis por 23% dos casamentos.
Nessas pequenas receções, as marcas tradicionais de casamento, como bolos em camadas e pratos de banquete, são dispensadas em benefício de um serviço de mesa familiar, tabuleiros de donuts, bancas de tartes e, até mesmo, mesas de sobremesas guarnecidas pelos próprios convidados, que trazem os seus pratos favoritos para que todos possam partilhar.
Casamento em mobilidade
Os casais usam, cada vez mais, os dispositivos móveis no planeamento dos seus casamentos, revela um estudo da The Knot, tendo o uso de smartphones ,utilizados no acesso a sites de planeamento, quase duplicado entre 2011 (33%) e 2014 (61%). Mas no dia do casamento, os casais privilegiam uma tendência offline, pedindo aos convidados que se abstenham de publicar fotografias até ao fim do evento. Trata-se de uma iniciativa que pretende manter os hóspedes mais presentes na experiência, conferindo uma sensação de privacidade e elitismo.
«Vêem-no em casamentos de celebridades e as pessoas pensam, eu devia sentir-me uma celebridade no meu dia de casamento, pelo que se sentem confortáveis em pedir coisas que as celebridades pediriam, porque é o seu dia especial», disse Jamie Miles, editor do TheKnot.com, que relata que 37% das noivas inquiridas afirmaram estar a ponderar um casamento desconectado.
De acordo com a fotógrafa de casamentos Lainie Hanlon, baseada em Toronto, grande parte do incentivo vem dos fotógrafos de casamento, que se sentem frustrados pelos paparazzi amadores. Ela explica: «Dou-lhes um exemplo: se eu estou em pé no altar com o noivo e estou a olhar para baixo, tudo o que vejo são os telemóveis. É algo que querem ver nas fotografias? Pelo que 95% deles dizem agora, “sim, tem razão, não é algo que queremos. Não é possível refazer uma cerimónia».
Globalização do casamento gay
Os resultados de uma pesquisa realizada pela Pew Research, em 2001, revelaram que os americanos se opunham ao casamento homossexual por uma margem de 57% para 35%. Hoje, a maioria dos americanos (55%) apoia os casamentos do mesmo sexo, e, em junho, a proibição foi considerada inconstitucional pela 14ª Emenda, nos Estados Unidos, tornando-o o vigésimo país a aprovar o casamento homossexual. De acordo com a Pew, a mudança relaciona-se com o crescimento das gerações mais jovens, com 70% da geração do milénio a apoiar o casamento gay.
Internacionalmente, ativistas desta geração estão a lutar pelo seu próprio direito a casar. Na China, onde os casamentos homossexuais não são reconhecidos, a ativista Li Tingting e a sua parceira Tereza Xu encenaram o seu próprio casamento num restaurante de Pequim, em sinal de protesto. Embora a oposição religiosa não seja relevante para os membros da comunidade LGBT chinesa, o ponto crucial é a política do filho único. Os pais chineses querem que os seus filhos adotem casamentos heterossexuais de forma a continuarem o nome da família. «Tendo apenas um filho, pretendem que o seu filho seja tão normal como todos os outros», disse Xiaogang Wei, diretor-executivo do Instituto Educação de Saúde de Género de Pequim. Cedendo à pressão familiar, muitos gays e lésbicas chineses encontram-se on-line e cedem a casamentos por conveniência social e económica.
Nas Filipinas, onde o sistema legal é amplamente baseado no sistema americano, ativistas acreditam que a decisão dos EUA irá ajudar o país a tornar-se mais progressista. Ainda assim, com os seus fortes laços católicos, a maioria (7 em 10) dos filipinos não concordar com o casamento homossexual. «A Igreja Católica tem uma forte influência sobre o nosso sentido moral do certo e do errado, estando presente nas nossas leis», disse Aquilino Pimentel III, senador de Manila. Em resultado, líderes religiosos em Manila e outras grandes cidades do país estão a realizar os seus próprios “Ritos de União Sagrada” para casais do mesmo sexo que desejam formalizar as suas relações.
Por trás do nome
Com a evolução do estereótipo de uma “família tradicional”, os casais recém-casados resistem aos sistemas de nomenclatura tradicionais. Embora muitas mulheres optem por manter os seus apelidos, uma iniciativa nascida dos movimentos feministas da década de 1970 e gradualmente reduzida ao longo dos anos de 1990, hoje, os nomes de solteira estão em ascensão novamente, tendo aumentado para cerca de 30% em 2013. Embora a tendência inicial tenha sido essencialmente política, as mulheres de hoje optam por manter os seus nomes como forma de branding pessoal.
Num momento em que os casamentos homossexuais são mais amplamente aceites, os recém-casados do mesmo sexo adotam, também, uma postura menos tradicional. De acordo com Heather Macabe, advogada de direito de família, especializada em assuntos LGBT, os casais do mesmo sexo que procuram adotar crianças preferem, frequentemente, um único sobrenome que confira autoridade ao casamento. «As pessoas fazem isso, também, por uma necessidade de aceitação num mundo onde impera uma ideia sobre o que uma família deve ser», disse.
Por outro lado, alguns casais do mesmo sexo são firmes em manter os seus próprios nomes, como forma de rejeitar a construção patriarcal do casamento. «Muitos membros da comunidade LGBT veem o casamento homossexual como uma forma de transformar a instituição do casamento, afastando-a das suas raízes de propriedade, rumo a um modelo de parceria igualitária, com base na reciprocidade e um maior grau de independência», disse Luke Boso, professor associado da Escola de Direito de Savannah.
À medida que novas formas de composição do nome se estendem além da fronteira da tradição e adotam um caráter pessoal, os casamentos heterossexuais seguem-lhes o exemplo. Quando o artista Marco Perego casou com a atriz Zoe Saldana no início deste ano, optou por adotar o sobrenome da atriz. Da mesma forma, quando o antigo Presidente da Câmara de Los Angeles, Antonio Villar, casou com a sua esposa Corina Raigosa, optaram por combinar os seus nomes, formando o vocábulo Villarraigosa.