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O fim do preço da China – Parte 2

Os efeitos da política do filho único são cada vez mais evidentes na demografia da China e o número de chineses no mercado laboral vai começar a decrescer a partir desta década, devendo manter esta tendência na seguinte (ver O fim do preço da China – Parte 1). Esta evolução demográfica vai, segundo Mike Flanagan, CEO da Clothesource Sourcing Intelligence, diminuir o nível de disponibilidade de mão-de-obra, implicando alterações nas políticas laborais e nos preços dos produtos. Em 2007, a China começou a aumentar os salários mínimos e os observadores começaram a prever o colapso iminente das suas exportações de vestuário, mas tal não aconteceu. No entanto, três anos mais tarde, as coisas mudaram. Existem mais empregos em todos os tipos de indústrias para os trabalhadores chineses escolherem. Em casa, os pais desses trabalhadores estão a viver durante mais tempo e, sem irmãos ou irmãs para ajudar nos cuidados, os imigrantes nas fábricas de vestuário em torno de Xangai e Guangzhou estão sob crescente pressão para trabalhar num lugar mais perto da mãe e do pai. Na China, os idosos não recebem nenhum dos cuidados de saúde que os cidadãos mais idosos recebem na Europa ou nos EUA. A procura por trabalhadores chineses está a crescer mais rapidamente do que nunca, ao mesmo tempo que a oferta está a diminuir. Isso é um facto simples. O que é menos claro é o que os chineses vão fazer em relação a isso e, ainda menos claro, quando vão fazer. Em 2007, os estrategas da China reconheceram que o país não tinha uma abundância de mão-de-obra barata para sempre. Os salários subiram e as reduções de impostos sobre as exportações de vestuário diminuíram, num plano de longo prazo para a transição de trabalhadores do país de indústrias de baixa margem, como a confecção de vestuário, para empregos mais qualificados em empresas de mais elevada tecnologia e lucro. Confrontada com a recessão, esta política foi colocada em espera e todos os subsídios possíveis foram accionados no sector do vestuário, para evitar perdas de postos de trabalho. Mas, na realidade, a indústria continuou a crescer ao longo da recessão ocidental, à medida que as vendas internas de vestuário subiram, embora as exportações caíssem. Escolha de longo prazo Neste momento, para Flanagan, os responsáveis políticos do país têm uma escolha simples para o longo prazo. Continuam com os benefícios fiscais que conhecemos e os subsídios que desconhecemos, para que os trabalhadores cada vez mais escassos possam competir com o Bangladesh na produção de baixo custo, como o vestuário de baixo lucro, em vez de computadores, carros Volvo ou aviões? Ou será que vão usar o dinheiro do governo para desenvolver as indústrias de crescimento rentável? Colocado desta forma é fácil perceber que não há escolha. Ao longo dos próximos cinco anos, a indústria têxtil e de vestuário da China vai ter cada vez menos subsídios, enquanto que os salários vão subir muito mais rapidamente do que a inflação ao consumidor. O momento não é tão previsível e a capacidade das fábricas chinesas para manter os seus preços baixos não deve ser subestimada. Mas, sem trabalho árduo e investimento em novas tecnologias, os preços do vestuário na China devem subir pelo menos 20% mais rapidamente do que os seus concorrentes nos próximos cinco anos. Subida de preços no vestuário Mas mesmo as estimativas mais conservadoras da inflação dos preços na China reconhecem que a redução da mão-de-obra do país irá inflacionar mais os preços do vestuário do que os ajustamentos na moeda que muitos grupos de pressão europeus e americanos estão fomentar. E existe uma razão muito simples. A China quer deslocar a sua força de trabalho do vestuário para os aviões a jacto e estava a fazer precisamente isso quando a recessão ocidental interrompeu os seus planos. A China não quer aumentar o valor da sua moeda por um motivo que tem pouco a ver com as exportações. Os Estados Unidos da América devem à China cerca de 800 mil milhões de dólares ou uns equivalentes 5,5 biliões de yuan. Se, como muitos grupos de interesse norte-americanos gostariam, a China deixasse a sua moeda valorizar 20%, a dívida dos Estados Unidos cairia em moeda chinesa, para 4,4 biliões de yuan. A China estaria, segundo a sua perspectiva, a entregar mais de 160 mil milhões de dólares ao governo norte-americano em troca de nada. A China não vai mudar drasticamente o valor da sua moeda e tentar forçá-la a fazê-lo é um desperdício da energia de todos. O que a China vai provavelmente fazer é deixar que a sua moeda suba no máximo cerca de 5% a 7% ao longo de um ano para manter os EUA e a Europa sossegados. E, na medida em que é o maior comprador mundial do algodão norte-americano, a principal matéria-prima para as suas exportações de vestuário vai realmente ficar mais barata. Por isso, alterar as taxas de câmbio não vai aumentar os preços nem 5%. Para nós, o Ocidente tem uma escolha simples. A Europa e os EUA podem continuar a flagelar-se e a exigir que os chineses reduzam as suas dívidas ou podem confiar na lógica implacável de uma força de trabalho em queda e deixar que a evolução natural aumente os preços de exportação da China muito mais rapidamente. Inevitavelmente, vão tomar a posição errada. Se forçarem a China a revalorizar a sua moeda, esta vai continuar a subsidiar as exportações de baixo custo, de uma forma ou de outra, durante mais tempo do que inicialmente previsto. Mas, independentemente do que os chineses façam, os preços na China vão começar a crescer mais rapidamente do que nos seus concorrentes, mais cedo ou mais tarde. Quando exactamente? Bom, para isso seria necessária uma bola de cristal.