A antiga igreja do convento que alberga o Neya Porto Hotel foi a passerelle para a coleção de Susana Bettencourt, onde estiveram expostos os artigos da marca para esta estação fria. Aproveitando a «flexibilidade» do Portugal Fashion, nas palavras da criadora de moda, para a mais recente edição, a mostra decorreu numa espécie de editorial de moda durante um dia completo. «Na curadoria temos várias formas de gerar conteúdo num só dia, tentando aproveitar, ao máximo, a flexibilidade que o Portugal Fashion teve nesta edição, em que estão a tentar ajudar cada designer e deram-nos abertura para brincarmos com este dia e podermos experimentar», afirma Susana Bettencourt. «Porque se há ano em que podemos experimentar e em que o público vai estar aberto a coisa diferentes é este, devido ao choque que todos sofremos com o lockdown», explica ao Portugal Têxtil.
A pandemia fez com que o elo de ligação da marca com o público passasse a ser as redes sociais e o próprio website, o que se espelhou na estratégia de Susana Bettencourt. «Alterámos a forma de comercializar porque, com a pandemia, as [lojas] multimarcas, a partir de abril, houve ali uma quebra, então não tivemos essa segurança nem para a coleção de inverno nem para a coleção de verão. Como não tivemos isso, e já na altura da pandemia, reforçámos muito o nosso site, reforçámos a nossa comunicação, o que, para mim, é um grande choque porque não me é natural – sou uma artesã e uma malheira de coração», confessa.
Necessidade de abrandar
Manter as tendências para a primavera-verão 2021 no segredo dos deuses e manter o foco na coleção outono-inverno 2020/2021 foi um passo também fruto desta restruturação da estratégia que, mesmo antes da crise sanitária, tinha «sentido a necessidade de abrandar». «Já estamos há dois anos a criar uma coleção inteira para o ano que é libertada em fases – uma coleção que, na verdade, se transforma em três. Temos a coleção de março, de moda de autor, que tivemos a oportunidade de apresentar, em que são peças não vestíveis que refletem o nosso conceito e realmente a nossa necessidade de criar e de investir no desenvolvimento das nossas técnicas. Técnicas essas que depois conseguimos exprimir mais na nossa coleção prêt-à-porter, que é esta coleção», esclarece Susana Bettencourt.
Ligação com o mundo
As redes sociais, o website, o envio de emails e newsletters são as ferramentas, atualmente, em maior destaque para a marca de moda de autor, de forma a chegar mais «diretamente» ao comprador, mas mantendo, sempre, as lojas principais, ressalva a designer.
Em 2021, a marca epónima de Susana Bettencourt, que verificou um crescimento nas vendas online durante a pandemia, completará 10 anos de existência. «Tivemos um crescimento, principalmente de Portugal, que não era nosso comprador, mas acho que também foi a empatia e o sentimento de compaixão que todos tivemos na pandemia. Acho que também se refletiu no público, a lembrar-se do criador português que poderia estar a passar, e vamos passar, anos difíceis», revela.
A contribuir, mais ainda, para o percurso internacional de Susana Bettencourt está o Canadá, um novo mercado de exportação. «Perguntamos à senhora da loja online como soube de nós e ela disse que viu alguém na rua com uma camisola e perguntou. Acho fantástico e, na verdade, estamos a sentir indícios, através das redes sociais e no nosso site, o que é incrível e, para a nossa marca, encontrar estes países e estes nichos vai ser cada vez mais importante», garante a criadora de moda.